Na FGV, economistas reforçam preocupação com inflação e dificuldade para Selic voltar a cair

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São Paulo, 21 – Economistas do mercado financeiro que participaram de seminário da Fundação Getúlio Vargas (FGV) na noite desta quarta-feira, em São Paulo, reforçaram as preocupações com a trajetória da inflação no País, que devem forçar o Banco Central a manter a política monetária em nível restritivo por bastante tempo.

“O basal da inflação no País está rodando no topo da banda da meta, ou acima”, afirmou o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, que projeta um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de entre 5,5% e 5,6% neste ano e uma desaceleração a 4,7% no ano que vem. Para ele, porém, parte desse arrefecimento está atribuída a dissipação de alguns choques, como o preço das carnes.

Dessa forma, o economista-chefe da XP citou que se sente um pouco “incomodado” com a discussão sobre política monetária sejam sobre a retomada dos cortes na taxa Selic. “Até pela ata, as discussões deveriam ser se ainda vai subir um pouco mais ou não”, afirmou Megale.

Já a economista-chefe e sócia da Galapagos, Tatiana Pinheiro, destacou que está um pouco mais “otimista” com o cenário da inflação doméstica, sobretudo pela possível ajuda vinda da conjuntura internacional, que tende a ser desinflacionária, com a guerra tarifária entre Estados Unidos e China.

Ela reforçou ainda que, com a Selic em 14,75%, o juro real do País está acima do 9%, nível que deve fazer bastante efeito sobre a atividade doméstica. “Minha projeção é de desaceleração econômica, com a política monetária fazendo efeito e um PIB um pouco abaixo dos 2%”, disse Tatiana, que também antevê uma inflação acomodando ao longo do tempo. “Chega na meta? Não, não chega, mas saímos do sufoco ali, no final do segundo semestre”, considerou.

Também presente no seminário, o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, destacou que, na política monetária hoje, importa mais o “recado” do BC de que o juro ficará parado em nível restritivo por um bom tempo do que um eventual novo aumento na Selic em junho ou não. “O nível final não importa muito. O jogo agora é ficar nesse nível por mais tempo”, reforçou.

Para ele, com a Selic parada em 14,75%, “é impossível” que o País repita o crescimento de 3,4% do PIB de 2024 neste ano. “Essa taxa de juros vai fazer estrago, 9% de juro real não é pouca coisa”, afirma Padovani, que trabalha com uma inflação de 5,3% neste ano e alta de 1,9% no PIB.

O problema então, segundo Padovani, é com 2026, ano para o qual ele espera um reaquecimento do PIB, na esteira de medidas do governo, que estará de olho nas eleições presidenciais. “E achamos que o BC vai cortar juros, porque eles os diretores do BC vão ter o discurso de que a inflação começou a convergir, que saiu de 5,3% no ano passado. Isso vai colocar lenha na fogueira e talvez tenha mais inflação em 2026, e não menos”, prevê.

Os debates foram feitos no âmbito do 3º Seminário MacroLab de Conjuntura. O simpósio contou na abertura com uma palestra do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David. Após sua fala, ele saiu do evento.

Estadão Conteúdo

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