BRUNO RIBEIRO E JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um evento de forte peso político de Tarcísio de Freitas (Republicanos) nesta terça-feira (20) no Palácio dos Bandeirantes foi visto por aliados do governador como um cenário de desconforto envolvendo três dos cotados ao Governo de São Paulo caso ele saia candidato à Presidência em 2026.
O vice-governador Felício Ramuth (PSD), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), participaram do lançamento de um programa de erradicação da pobreza encarado como um contraponto ao Bolsa Família de Lula (PT).
Os dois primeiros, no entanto, saíram mais cedo, antes do término do evento. Deputados presentes e integrantes do governo Tarcísio interpretaram a postura como um sinal de descontentamento – Ramuth e Nunes não foram chamados para discursar, diferentemente do presidente da Alesp.
O vice-governador e o prefeito negam qualquer insatisfação e dizem que tinham outros compromissos.
Nos bastidores, Ramuth, Nunes e André buscam se viabilizar como candidatos ao governo estadual caso Tarcísio deixe o cargo.
O evento desta segunda foi uma demonstração de força de Tarcísio e reuniu deputados federais, estaduais, vereadores e mais de 200 prefeitos – cerca de um terço dos comandos dos municípios de todo o estado.
Nunes ficou fora do palco, onde Tarcísio se sentou ao lado de secretários, da primeira-dama Cristiane, de Ramuth, de André do Prado e da deputada federal Rosana Valle (PL-SP). A cadeira do prefeito paulistano foi posicionada entre os demais convidados, na plateia.
Deputados disseram que o entorno de Nunes desdenhou do programa, uma vitrine de Tarcísio para 2026, e citaram o fato de ele ter deixado o evento antes do discurso de André do Prado.
“Por favor, parem de inventar problemas entre eu (sic) e o Tarcísio”, disse Nunes à Folha de S.Paulo. Ele afirmou à reportagem que abriu mão de ir a outro evento no mesmo horário, uma entrega de prêmios na área da saúde, porque havia sido convidado pelo governador para o lançamento do programa.
Nunes acrescentou que só não ficou no palco porque precisaria sair mais cedo. A equipe dele alegou que havia outras atividades, já que a cerimônia, que começou por volta das 11h, atrasou quase uma hora.
O próximo compromisso da agenda dele, porém, era uma reunião às 15h na prefeitura. O evento do Palácio terminou antes das 13h.
Outro a sair mais cedo foi Felício Ramuth, que, apesar de sentar ao lado direito de Tarcísio no palco, não recebeu espaço para discursar. O vice tem o futuro indefinido para 2026 e vê o próprio posto sendo disputado por diversos aliados do governador.
Ele foi à tarde em um evento no interior do estado e disse que tinha um voo para São José do Rio Preto e que os relatos de descontentamento eram “uma grande bobagem”. “Se o evento tivesse começado no horário, eu teria ficado até o fim”, afirmou à Folha de S.Paulo Ramuth, acrescentando que estava ao lado de Tarcísio e que não costuma falar nesses eventos.
Ramuth já manifestou a aliados o anseio de se manter na vice de Tarcísio em uma eventual reeleição ao governo e declarou, segundo o seu entorno, que não tem interesse em disputar um cargo no legislativo.
Caso o governador decida disputar à Presidência, ele permaneceria à frente do Executivo paulista por seis meses, mas sem uma costura política que viabilizasse a sua eleição ao governo estadual – a começar por Gilberto Kassab, presidente do seu próprio partido, o PSD, que mira a vice de Tarcísio no próximo ano. Também cotado para o governo paulista em 2026, Kassab não compareceu ao evento.
Tanto Nunes quanto Ramuth foram citados brevemente no discurso de André do Prado, que enfatizou a ausência de Ramuth (“nosso vice-governador estava conosco e precisou se ausentar”) e atribuiu o sumiço de dependentes químicos na região da cracolândia, no centro da capital, ao trabalho de Tarcísio “em parceria com o prefeito Ricardo Nunes”.