LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, confirmado em Montenegro (RS), acende alerta em cidades do interior gaúcho que dependem da avicultura para sua sobrevivência.
Embora outros municípios não tenham registrado casos da doença, a paralisação das exportações de frango para mercados como China e União Europeia preocupa produtores. É a situação de locais como Nova Bréscia (a cerca de 115 km de Montenegro).
“Mesmo com o estado agindo de forma rápida, mapeando a área de foco, a gente não tem certeza ainda do impacto que isso [embargo comercial] vai gerar para nossos produtores”, afirma o coordenador da Secretaria de Agricultura de Nova Bréscia, Diogo Meneghini.
“Ainda é muito cedo para a gente estimar alguma questão, se os produtores não vão mais alojar [frangos] por um tempo ou se os espaçamentos entre os lotes [de animais] vão aumentar bastante. Mas é um baita susto para todo mundo, né? Todo mundo está apreensivo”, acrescenta.
Nova Bréscia se destaca no ranking dos maiores plantéis de aves do Rio Grande do Sul. A avicultura é a principal atividade em valor adicionado à economia local, segundo Meneghini.
Em 2023, o município tinha 5,4 milhões de galináceos, categoria que inclui desde frangos de corte até galinhas poedeiras, conforme uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a PPM (Pesquisa da Pecuária Municipal).
O plantel de Nova Bréscia era o segundo maior do estado, atrás apenas do registrado em Marau (5,6 milhões). A Folha também tentou contato com a Prefeitura de Marau, mas não obteve retorno.
“Há uma preocupação porque hoje temos avicultura comercial, de produção de carne e ovos, em quase 260 municípios do Rio Grande do Sul. Por isso, o alerta não fica apenas na região onde o foco foi detectado”, afirma o presidente-executivo da Asgav (Associação Gaúcha de Avicultura), José Eduardo dos Santos.
Ele diz confiar nas ações já implementadas para evitar um espalhamento da doença. “É uma prática do setor a adoção de medidas de biosseguridade. O setor está bem avançado nisso”, afirma.
“Infelizmente, tivemos esse acontecimento pontual, o que reforça nossa atuação para manter a régua alta.”
A avicultura em cidades como Nova Bréscia está associada a pequenos produtores que operam de forma integrada a indústrias. Após o período de criação nos aviários, os frangos são levados para as empresas, onde ocorrem os abates. Parte da carne vai para exportações.
“Temos famílias de pequenos produtores rurais, e não aquele cara com dez, 12 aviários. Não é o agro dos megaempresários. Isso não existe aqui”, afirma Meneghini.
Com raízes na imigração italiana, Nova Bréscia tinha 3.044 habitantes em 2022, conforme o Censo Demográfico do IBGE. Em uma situação hipotética, se o total de galináceos do município (5,4 milhões) fosse dividido entre a população, cada morador ficaria com quase 1.774 animais.
Nova Bréscia integra o Vale do Taquari, que teve áreas devastadas pelas enchentes de um ano atrás no Rio Grande do Sul.
Tupandi é outra cidade gaúcha que acompanha os desdobramentos da gripe aviária em Montenegro. As duas cidades ficam no Vale do Caí e são separadas por cerca de 30 km.
Em 2023, Tupandi tinha um plantel de quase 3,5 milhões de galináceos, o quinto maior do estado, segundo o IBGE.
Em nota, a prefeitura da cidade diz que a preocupação é grande com a gripe aviária, mas afirma que não há motivo para alarde. Isso porque, até o momento, as informações oficiais indicam apenas um caso isolado em Montenegro, onde houve instalação de barreiras sanitárias.
“Ainda assim, o município está adotando uma postura preventiva, orientando a população, especialmente os produtores rurais, sobre medidas que podem ajudar a evitar a disseminação da doença”, diz a Prefeitura de Tupandi.
O Rio Grande do Sul é o terceiro estado com mais galináceos no país. Em 2023, o plantel local era de 158,8 milhões de animais, o equivalente a 10,1% do total no Brasil (1,6 bilhão), conforme o IBGE. Só ficou abaixo de Paraná (453,4 milhões) e São Paulo (205,7 milhões).
No domingo (18), o governo gaúcho disse que já havia vistoriado 55% das propriedades rurais no raio do foco de gripe aviária em Montenegro.
O município não está entre os principais do Rio Grande do Sul em número de aves. Conforme o IBGE, Montenegro tinha em 2023 um plantel de 534,8 mil galináceos, o 102º maior do estado, que reúne 497 cidades.