Lula unifica seu grupo em torno de Edinho, que fica próximo da presidência do PT

CATIA SEABRA, CAIO SPECHOTO E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Sob ingerência do presidente Lula, a CNB (Construindo um Novo Brasil) sacramentou nesta segunda-feira (19) o apoio à candidatura do ex-prefeito Edinho Silva para o comando do partido, dando fim a uma disputa na maior força petista.

Com a unificação, a estimativa é que Edinho obtenha 55% dos votos, o que lhe garantiria a vitória em primeiro turno. Ele deverá enfrentar três adversários de correntes minoritárias: o deputado federal Rui Falcão (SP) e os dirigentes petistas Valter Pomar e Romênio Pereira. A votação será no dia 6 de julho.

Selado em reuniões que invadiram a noite de domingo, o acordo foi materializado na desistência do prefeito de Maricá, Washington Quaquá, de concorrer à presidência do PT. Quaquá anunciou a retirada da candidatura nesta segunda, após uma reunião com a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria das Relações Internacionais).

O anúncio foi acompanhado de uma foto de Quaquá ao lado da ministra no Palácio do Planalto. O próprio presidente República havia participado de reuniões com a cúpula partidária na tentativa de viabilizar a candidatura de Edinho.

Segundo participantes da articulação, o entendimento incluiu a promessa de que a Secretaria de Finanças -hoje ocupada por Gleide Andrade- permanecerá sob a gestão do mesmo campo político. Nesse caso, não estaria descartada a reeleição da própria Gleide. Lula também deverá ser ouvido sobre a escolha do futuro tesoureiro do PT.

Para a costura, foi constituído um grupo de cinco integrantes: dois representantes de cada grupo rival e um mediador indicado pelo presidente. Pela composição, Gleide e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), falarão em nome da atual direção do partido.

Os apoiadores de Edinho serão representados pelo presidente do PT de São Paulo, Kiko Celeguim, e pelo deputado Carlos Veras (PE).

A mediação ficará a cargo do presidente do PT, senador Humberto Costa (PE). Superado o conflito na esfera nacional, o grupo se dedicará a negociações em seus domicílios eleitorais.

À noite, em encontro em Brasília, que contou com a participação de vários ministros de Lula, integrantes da CNB falaram sobre a unificação da corrente em torno do nome de Edinho.

“Predominou o espírito de não rachar o PT. Se a CNB rachasse, rachava também o PT”, afirmou Guimarães.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a chapa vai “enaltecer” os 45 anos de história do partido. “O PT vai sair mais forte e, no ano que vem, nós vamos dar trabalho para essa extrema direita escrota que está aí, e vamos ver de novo o presidente Lula subir mais uma vez a rampa do Palácio do Planalto”, disse.

Em sua intervenção, Edinho agradeceu Quaquá por ter retirado a candidatura e fez menção a Gleide. “Muitas vezes se criou uma contradição entre eu e Gleide () Mas, por meio do diálogo, vimos que temos muito mais do que nos une do que nos afasta. Quero reconhecer, Gleide, publicamente, seu esforço e empenho na construção da unidade da CNB”, afirmou o ex-prefeito de Araraquara.

RACHAS NOS ESTADOS

Diversos estados têm vários candidatos, inclusive com rachas dentro da CNB. Os petistas têm até a próxima segunda-feira (26) para fazer alterações nas chapas registradas. As conversas poderão incluir as chapas para votação proporcional. Elas são usadas para distribuir os cargos abaixo da presidência na estrutura partidária nacional, estadual e municipal.

Patrocinadora do acordo nacional, Gleisi enfrenta no Paraná a oposição do ex-líder da bancada petista Zeca Dirceu. No estado, a ministra apoia o deputado estadual Arilson Chiorato, cuja candidatura teria a adesão de maior número de deputados.

Em Minas Gerais, a deputada estadual Leninha -lançada pelo grupo de Gleide- encara um movimento liderado pelo deputado federal Reginaldo Lopes, chamado por ele de CNB democrático, que defende o nome da também deputada federal Dandara Tonantzin.

Em Santa Catarina, uma ala da CNB liderada pela ex-ministra Ideli Salvatti engrossa a candidatura da vereadora Carla Ayres contra a chapa apoiada pelo presidente do Sebrae, Décio Lima.

Pernambuco no momento tem ao menos seis candidatos à presidência do diretório estadual do PT -quatro deles no grupo que apoia Edinho nacionalmente. São eles: o deputado federal Carlos Veras; o dirigente petista Sérgio Goiana; a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado; e o sindicalista Messias Melo. O último é de uma corrente local chamada PT Militante, que apoia a CNB em nível nacional. Na quinta-feira, 22, haverá uma reunião entre candidatos para tentar costurar um acordo.

A disputa pelo comando do diretório cearense teve pacto entre o grupo político do ministro Camilo Santana (Educação) e do governador Elmano de Freitas com o líder do governo na Câmara, José Guimarães. Eles apoiarão a reeleição de Antonio Alves Filho.

Mesmo com o acordo em torno do nome para presidir a seção cearense do PT, os dois grupos deve ter chapas separadas na eleição proporcional pelos demais cargos na estrutura partidária.

Na Bahia, maior estado governado pelo PT, o dirigente partidário Tássio Brito tem apoio de parte da CNB e de outras correntes petistas. Outra parte do grupo de Lula está com Jonas Paulo.

Um caso diferente é o Rio Grande do Sul, onde a CNB não tem força para eleger o presidente estadual.

O favorito é o deputado estadual Valdeci Oliveira, da corrente Socialismo em Construção. Ele tem o endosso do ex-ministro Paulo Pimenta e apoia Edinho Silva em nível nacional. Outra candidata forte é a também deputada estadual Sofia Cavedon, da Democracia Socialista, cuja chapa apoia Rui Falcão nacionalmente.

Nomes de outras tendências minoritárias do partido, como a deputada estadual Stela Farias, o ex-presidente estadual petista Júlio Quadros e o assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais do Planalto responsável por atender prefeitos do Sul, Thiago Braga, também concorrem.
Há ainda disputas em Sergipe e Espírito Santo.

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