Entre os dias 21 e 23 de maio, acontecerá a Cúpula Anual do Fórum Internacional de Transportes (ITF, sigla em inglês), em Leipzig, na Alemanha — o maior encontro mundial de ministros de transportes, especialistas e formuladores de políticas públicas da área.
O ITF é uma organização intergovernamental autônoma ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Todos os anos, os participantes debatem questões relacionadas à política de transportes de todos os modais e analisa as últimas novidades do setor.
O tema da edição deste ano, “Resiliência do Transporte a Choques Globais”, coloca em pauta os desafios que ameaçam a infraestrutura de mobilidade em escala internacional, como mudanças climáticas, guerras, crises econômicas e sanitárias.
O bikerrepórter do Jornal de Brasília, Afonso Ventania, finalista do Prêmio de Jornalismo ITF 2025 – Transporte e Mobilidade na América Latina e no Caribe, realizará a cobertura in loco a convite da organização.
Apesar de o Brasil ter se tornado membro permanente do ITF, em maio de 2023, o ministro dos Transportes, Renan Filho, ainda não havia confirmado presença até o fechamento desta edição. No entanto, em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, reconhece que a participação do Brasil na cúpula e a integração ao fórum representa um passo estratégico para o país, ao alinhar os programas do país às melhores práticas internacionais, fortalecer a cooperação técnica e ampliar a visibilidade global da política de transportes brasileira.

“A participação permite que o Brasil antecipe tendências, alinhe seus programas estratégicos às melhores práticas internacionais, e reforce seu compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em um mundo em constante transformação, essa articulação internacional é essencial para construir políticas públicas mais eficazes, adaptáveis e centradas na preservação da vida e na resiliência da infraestrutura”, afirmou.
Sobre o tema da edição do ITF 2025, o gestor público avalia que a instabilidade econômica do cenário internacional e no Brasil são os principais desafios dos sistemas de transporte e mobilidade urbana atualmente.
“No Brasil, em especial, as taxas de juros elevadas e a percepção de risco político e econômico podem inviabilizar projetos de grande vulto”.
Caso decida participar da cúpula, a delegação brasileira, segundo George Santoro, pretende defender pautas prioritárias voltadas à sustentabilidade, à segurança viária e ao fortalecimento logístico. Entre os destaques, estão as políticas de mitigação dos impactos climáticos sobre a infraestrutura, a modernização regulatória e a Nova Política de Outorgas — marco para as concessões rodoviárias, que tem ampliado a atratividade e a eficiência dos projetos no país.
No campo da segurança viária, o Brasil apresentaria os avanços do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), que foi integralmente revisado em 2023 para se alinhar à Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021–2030), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Com base em conceitos como o “sistema seguro” e a “visão zero”, o plano estrutura mais de 220 ações coordenadas entre os entes federativos, com o objetivo de reduzir em pelo menos 50% as mortes no trânsito até 2030.
De acordo com Santoro, a participação do Brasil na cúpula também reforçaria o compromisso brasileiro com uma mobilidade urbana integrada, inclusiva e centrada nas pessoas.
“Nenhuma morte no trânsito é aceitável. A resiliência da infraestrutura de transporte deve caminhar junto à preservação da vida e à promoção de soluções sustentáveis”, afirmou.
A Cúpula do ITF será um espaço de cooperação técnica, troca de experiências e construção de soluções inovadoras. Para o Brasil, trata-se de uma oportunidade estratégica para consolidar parcerias, atrair investimentos e contribuir ativamente para a transformação global da mobilidade. Afinal, o fórum analisa tendências, compartilha conhecimentos e promove trocas entre a sociedade civil e os executores de políticas públicas de várias nações, além de discutir o papel do transporte no crescimento da economia, na sustentabilidade ambiental e inclusão social.
O Brasil foi oficialmente aceito como membro permanente do Fórum Internacional dos Transportes (ITF) em maio de 2023, durante a gestão do ministro dos Transportes, Renan Filho. O que essa adesão representa para o país em termos de cooperação internacional e políticas públicas de transporte?
A participação permite que o Brasil antecipe tendências, alinhe seus programas estratégicos às melhores práticas internacionais, e reforce seu compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Além disso, a participação no ITF amplia as possibilidades de cooperação técnica bilateral e multilateral, fortalece o posicionamento internacional do Brasil como ator relevante nos temas relacionados e assegura que nossa agenda de mobilidade avance com mais resiliência a choques globais, como crises sanitárias, climáticas ou econômicas. Em um mundo em constante transformação, essa articulação internacional é essencial para construir políticas públicas mais eficazes, adaptáveis e centradas na preservação da vida e na resiliência da infraestrutura.
Entre os dias 21 e 23 de maio, o Brasil participará da Cúpula Anual do ITF, na Alemanha. Qual será a pauta da delegação brasileira na Cúpula de Leipzig, considerado o principal encontro mundial de ministros de transporte e de especialistas no segmento? Que posicionamentos o Brasil pretende defender?
Entre os temas a serem abordados estão políticas voltadas à preservação do meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável, à redução dos impactos das mudanças climáticas na infraestrutura de transportes, à preservação da vida e o crescimento da eficiência logística para suportar o desenvolvimento econômico.
O tema da edição deste ano é “Resiliência do Transporte a Choques Globais”. Como o Brasil tem se preparado para garantir a infraestrutura de transportes diante de desafios como pandemias, mudanças climáticas e crises econômicas?
O Brasil desenvolveu políticas públicas importantes para o setor, como por exemplo a Nova Política de Outorgas, um marco no setor de concessões, que trouxe inovações regulatórias e procedimentais para a concepção e o desenvolvimento de um pipeline (fluxo de etapas/processos) moderno e eficiente de projetos rodoviários.
Foram desenvolvidas também políticas de segurança do trânsito, resiliência de infraestrutura e sustentabilidade, que visam preparar os novos projetos para os desafios futuros.
Em sua opinião, quais são os maiores choques globais que desafiam atualmente os sistemas de transporte e mobilidade urbana, especialmente no contexto latino-americano?
A instabilidade econômica do cenário internacional tem como consequência uma postura mais conservadora por parte de investidores, o que prejudica a competição e a participação de players em projetos relevantes de infraestrutura.
No Brasil, em especial, as taxas de juros elevadas e a percepção de risco político e econômico podem inviabilizar projetos de grande vulto, as quais dependem de mecanismos específicos por parte do governo, como a parceria com bancos multilaterais de desenvolvimento, para mitigar tais entraves e permitir o avanço dos empreendimentos necessários para ampliar a eficiência da logística nacional.
Como a presença do Brasil no ITF pode influenciar na formulação de políticas públicas mais eficazes em mobilidade urbana e segurança viária?
A participação do Brasil na Cúpula do ITF é estratégica para o avanço das políticas públicas de mobilidade urbana e segurança viária. Os fóruns internacionais são espaços privilegiados de diálogo técnico e político, onde se compartilham experiências concretas, boas práticas, inovações e evidências que podem ser adaptadas ao contexto nacional.
A presença ativa do Brasil fortalece a integração do país a uma agenda global em que *mobilidade, segurança, inclusão e sustentabilidade* estão cada vez mais interligadas. A exemplo da Conferência Ministerial Global de Segurança Viária em Marrocos, realizada em 2025, observou-se uma clara convergência entre os temas de segurança no trânsito e mobilidade urbana integrada, com foco em soluções sustentáveis, equitativas e centradas nas pessoas.
O Programa Nacional de Redução de Sinistros e Mortes no Trânsito (Pnatrans), por exemplo, já incorpora os princípios do sistema seguro e da visão zero — conceitos discutidos amplamente em fóruns como o ITF — e se beneficia diretamente desse intercâmbio global ao ajustar suas ações, indicadores e metas com base em evidências compartilhadas por países que enfrentam desafios semelhantes.
O Brasil possui um plano estratégico para segurança no trânsito, o Pnatrans. Como ele está alinhado com o Plano de Ação Global da OMS e da ONU para a Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021-2030)?

O Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) foi completamente revisado em 2023 para incorporar os princípios da “Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021–2030)”, promovida pela ONU e pela OMS, com foco em dois conceitos centrais: sistema seguro e visão zero.
Isso significa que o plano parte do entendimento de que nenhuma morte no trânsito é aceitável e que o sistema deve ser planejado para tolerar erros humanos, com responsabilidade compartilhada entre gestores, usuários e fabricantes. O Pnatrans não trata os sinistros como eventos isolados, mas como resultado de múltiplas interações entre fatores como comportamento, fiscalização, educação, veículos e organização do espaço urbano.
O plano define 6 eixos estratégicos: gestão da segurança, vias seguras, veículos seguros, educação para o trânsito, atendimento às vítimas e normatização e fiscalização; e desdobra mais de 220 ações específicas, com metas, prazos e responsáveis designados entre os diferentes órgãos do Sistema Nacional de Trânsito.
Para dar transparência e possibilitar o acompanhamento público dos avanços, o governo lançou o Painel Pnatrans, uma plataforma interativa com dados atualizados sobre as ações, indicadores de desempenho e evolução das mortes e lesões no trânsito. É uma ferramenta inédita que permite monitorar, comparar e ajustar estratégias de forma transparente e baseada em evidências.
Além disso, o plano passou a admitir contribuições voluntárias de órgãos públicos e entidades privadas, ampliando sua força coletiva. O resultado é uma política pública mais estruturada, colaborativa e com capacidade real de reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2030 — como prevê o compromisso assumido internacionalmente.
O objetivo da ONU é reduzir em 50% as mortes e lesões no trânsito até 2030. O Brasil está preparado para atingir essa meta? Quais são os principais desafios e quais ações estão em curso?
O Brasil está comprometido com essa meta e vem estruturando ações concretas para alcançá-la. Um dos principais desafios está na coordenação entre os diferentes entes federativos. O trânsito é uma responsabilidade compartilhada entre União, estados e municípios — e cada um tem atribuições próprias definidas em lei.
Para avançar, é fundamental que todos os níveis de governo estejam engajados na implementação do Pnatrans, atuando de forma articulada e consistente. A consolidação de dados confiáveis, o fortalecimento da gestão local e a capacitação técnica dos órgãos executivos de trânsito são exemplos de medidas que estão sendo promovidas.
Além disso, o Brasil tem buscado integrar a segurança viária a outras políticas públicas, como saúde, educação, mobilidade urbana e meio ambiente. A visão que nos orienta é a de que, novamente, nenhuma morte no trânsito é aceitável — e salvar vidas deve ser um compromisso coletivo e permanente.
A adesão ao ITF também está relacionada ao processo de aproximação com a OCDE. De que maneira as diretrizes internacionais podem influenciar positivamente a modernização do setor de transportes no Brasil?
O Brasil é um país de dimensões continentais, com inúmeros desafios regionais e diversas carências de infraestrutura para suportar o crescimento econômico e o desenvolvimento social. A troca de informações e a absorção de práticas de outros países com características semelhantes ao Brasil contribuem com o processo de formulação de políticas públicas mais modernas, com o desenvolvimento de projetos internacionalmente atrativos e a adesão a modelos mais eficientes de uso e expansão da infraestrutura.