LUCIANA LAZARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A chegada da gripe aviária nas granjas comerciais do país deve impactar principalmente as exportações do setor, mas a expectativa é que os produtores não tirem totalmente o pé do acelerador, diz o economista-chefe da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul), Antonio da Luz.
“Acreditamos que é um caso bastante pontual, nos próximos 30 dias haverá todo um trabalho forte não só do setor de agricultura, mas das autoridades sanitárias para delimitar o problema, que nós acreditamos ser bastante pontual devido ao nível de segurança dos aviários”, afirma.
“O Brasil exporta para centenas de países, então temos regras de centenas de países para respeitar, isso vai fazendo com que a gente seja cada vez mais forte. A gente acredita muito nos protocolos dos aviários.”
O Rio Grande do Sul, que vive processo de reconstrução após as chuvas intensas de 2024 e a estiagem de 2025, registrou crescimento de 15% nas exportações de aves nos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com o ano anterior, segundo a federação. O estado respondeu por US$ 1,3 bilhão de carne de frango vendida a outros países no ano passado, de um total de US$ 9,7 bilhões em todo o Brasil, afirma.
A federação gaúcha faz coro a outras associações do agronegócio que afirmam que a confirmação de gripe aviária em uma granja no município de Montenegro (RS) é pontual. A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e a Asgav (Associação Gaúcha de Avicultura) informam que “todas as medidas necessárias para o contingenciamento da situação foram rapidamente adotadas, e a situação está sob controle e monitoramento dos órgãos governamentais”.
Procurada, a ABPA disse que, neste momento, ainda não é possível prever os impactos econômicos.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil) recomenda que os avicultores reforcem as medidas de segurança nas granjas e destaca que a gripe não é transmitida pelo consumo de aves e de ovo.
Com relação aos preços do frango e dos ovos, o representante da Farsul diz que pode haver alguma redução ao consumidor final, mas que seria um corte temporário, já que o ciclo das aves é curto, em torno de 30 a 40 dias até o abate, e os produtores vão se ajustar à nova demanda.
“O mercado interno vai ficar abastecido como sempre esteve. Num primeiro momento, vamos ter um desequilíbrio, isso vai ter que ser reorganizado dentro da economia brasileira, mas aquilo que era para exportar provavelmente não vai ser produzido ou vai ser produzido menos, mas ninguém vai tirar totalmente o pé do acelerador porque logo logo a gente vai estar exportando de novo”, diz.
Com a chegada da doença a granjas comerciais, o Brasil deixa de ser o único grande produtor mundial que estava livre da doença. As importações de carne e ovos por China e União Europeia estão suspensas pelos próximos 60 dias, segundo o ministro Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e há expectativa de anúncios de barreiras sanitárias de outros países. A Argentina também anunciou a suspensão importações de produtos e subprodutos de origem aviária do Brasil.
“Estamos vendo esses casos acontecerem no mundo com cada vez mais frequência, o cerco estava se fechando em relação ao Brasil. O Rio Grande do Sul é rota de aves migratórias, então aqui muitas vezes é a primeira parada, fica mais suscetível”, afirma Antonio da Luz.
A Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul (RS) confirmou nesta sexta-feira (16) a morte de cisnes e patos no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul (a 34 km de Porto Alegre) em decorrência da gripe aviária.
Com isso, o Rio Grande do Sul passa a contabilizar dois focos ativos da doença.
ENTENDA A GRIPE AVIÁRIA
O QUE É O H5N1?
É uma variante do vírus da gripe comum, integrante da família influenza. A variação H5N1 é comum em aves.
QUAL A LETALIDADE EM AVES?
Extremamente alta, segundo o professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP Paulo Eduardo Brandão. O vírus é transmitido rapidamente, e o número de mortes costuma ser ainda maior em granjas, que concentram muitos animais em um espaço pequeno.
ESSE VÍRUS É NOVO?
Não. Um ancestral dele é conhecido desde 1996 por infectar gansos. No Brasil, há registro de casos em animais silvestres desde 2023.
É SEGURO CONSUMIR CARNE E OVOS DE AVES?
Sim. Comer produtos de um animal contaminado não transmite o vírus para humanos.
O VÍRUS PODE CONTAMINAR HUMANOS DE ALGUMA FORMA?
A forma de transmissão da influenza é via gotículas aerossóis de espirros e fezes. Assim, há uma pequena chance de isso acontecer por meio do contato direto com animais vivos contaminados ou locais de criação.
OUTROS ANIMAIS PODEM SER INFECTADOS?
Nos Estados Unidos, já houve registro de infecção de bovinos, e pessoas contraíram a doença após contato com o gado. No Chile, houve contaminação de leões marinhos.
O QUE FEZ O GOVERNO BRASILEIRO?
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) decretou emergência zoossanitária por 60 dias no município de Montenegro (RS). A pasta também trabalha no rastreio da produção do estabelecimento onde foi confirmado o caso.
POR QUE O VÍRUS PODE GERAR EMBARGOS COMERCIAIS?
Os países têm políticas de suspensão de importações de lugares onde houve detecção de gripe aviária para evitar a entrada do vírus em zonas livres da doença.
A SITUAÇÃO PODE SAIR DE CONTROLE?
Sim. Para a veterinária especialista em zoonoses Paula Giaffone, os Estados Unidos são um exemplo negativo. “Nos EUA, a situação está realmente complicada, o vírus se espalhou por granjas, atingiu rebanhos leiteiros e é encontrado até em testes de água, nos sistemas de distribuição de água.”