Psicologia comportamental nas escolas previne infrações entre adolescentes

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A proposta de convidar professores para contribuir com nossa coluna tem gerado ótimos resultados. Entre os temas sugeridos, seguimos com uma abordagem que une psicologia jurídica, psicologia educacional e análise do comportamento para refletir sobre como é possível reduzir infrações cometidas por adolescentes a partir de práticas preventivas no ambiente escolar.

Para tratar do assunto, contamos com a colaboração das professoras Heloisa Vivo, Nathalie e Angela Anastácio.

A adolescência é uma fase marcada por profundas transformações biopsicossociais, com reestruturações significativas nas funções cerebrais — sobretudo no córtex pré-frontal e no sistema límbico — que impactam diretamente a capacidade de planejamento, julgamento e regulação emocional (Steinberg, 2005). Trata-se também de um período de maior vulnerabilidade a influências ambientais, especialmente aquelas provenientes do grupo de pares, do ambiente escolar e da dinâmica familiar (Bronfenbrenner, 1979).

Diversos estudos indicam que fatores como impulsividade, baixa supervisão parental, exposição à violência e fracasso escolar estão fortemente associados ao aumento de comportamentos infracionais (Moffitt, 1993; Fergusson & Horwood, 2002). Esses comportamentos não derivam apenas de predisposições individuais, mas expressam padrões de interação disfuncionais com o meio.

Diante desse cenário, é fundamental adotar estratégias interventivas baseadas em evidências, capazes de modificar repertórios comportamentais inadequados. A psicologia comportamental, com seu foco na observação direta e na análise funcional do comportamento, oferece instrumentos eficazes para a prevenção e o manejo de condutas problemáticas no contexto escolar.

Entre suas abordagens centrais, o behaviorismo radical, proposto por B.F. Skinner (1953), parte do princípio de que o comportamento é moldado por contingências de reforço — ou seja, pelas consequências que se seguem a uma ação. Essa perspectiva rejeita explicações mentalistas e privilegia uma análise empírica e observável do comportamento, constituindo um modelo científico robusto de intervenção.

Skinner argumentava que a função de um comportamento é mais importante do que sua forma e que intervenções eficazes devem modificar as contingências ambientais para gerar mudanças duradouras. O behaviorismo radical também reconhece os eventos privados — como pensamentos e sentimentos —, tratando-os como comportamentos submetidos às mesmas leis que os eventos públicos.

Autores como Sidman (1960), Baer, Wolf e Risley (1968), e Bijou & Baer (1978) expandiram esse campo ao propor critérios que garantem a aplicabilidade da ciência do comportamento à realidade social, com foco na efetividade, na generalização e na relevância social das intervenções.

No contexto escolar, que funciona como um verdadeiro microcosmo social, as interações constantes entre estudantes, professores e regras institucionais oferecem oportunidades únicas para a construção e modificação de comportamentos. No entanto, esse ambiente também enfrenta desafios como superlotação de salas, conflitos interpessoais, evasão e episódios de violência (MEC, 2021).

A psicologia comportamental, por meio da análise funcional e do uso de estratégias como reforçamento positivo, modelagem, treino de habilidades sociais e extinção de comportamentos indesejados, viabiliza intervenções que não apenas controlam, mas transformam repertórios comportamentais (Cooper, Heron & Heward, 2020).

Programas como o Positive Behavioral Interventions and Supports (PBIS), baseados em princípios da análise do comportamento, demonstram que a construção de uma cultura escolar positiva — pautada em expectativas claras, feedback contínuo e reforço apropriado — reduz significativamente a necessidade de punições, promovendo um ambiente mais colaborativo e inclusivo (Sugai & Simonsen, 2012).

Mas como implementar, na prática, programas de sucesso como esse em nossas escolas?

1. Formação e capacitação docente
Grande parte dos professores desconhece os fundamentos da análise do comportamento, o que compromete sua atuação diante de comportamentos desafiadores. A formação continuada deve contemplar conteúdos como reforçamento diferencial, manejo de contingências e análise funcional. Evidências apontam que docentes capacitados em estratégias comportamentais utilizam menos punições e promovem maior engajamento dos alunos (Reinke et al., 2008).

2. Intervenções com grupos vulneráveis
Adolescentes em situação de vulnerabilidade social, com histórico de agressividade, uso de substâncias ou evasão escolar, exigem abordagens específicas baseadas em avaliação funcional. Estratégias como contratos comportamentais, economia de fichas e autogerenciamento têm se mostrado eficazes na promoção de autocontrole e responsabilidade (Kazdin, 2008; McIntosh et al., 2011).

3. Integração com a rede intersetorial
A atuação do psicólogo escolar deve estar articulada com os serviços da rede de proteção. O uso de registros sistemáticos e relatórios fundamentados fortalece os encaminhamentos a órgãos como CRAS, CREAS, Conselhos Tutelares e ao sistema de justiça juvenil. Essa integração amplia o alcance e a efetividade das intervenções.

Estudos mostram que a implementação sistemática de práticas baseadas na psicologia comportamental está associada a:

  • Redução de até 60% nas ocorrências disciplinares (Petersen et al., 2016);
  • Aumento na frequência e permanência escolar (Sugai & Simonsen, 2012);
  • Melhora no desempenho acadêmico, especialmente entre alunos com dificuldades de aprendizagem (Cooper et al., 2020);
  • Maior bem-estar e engajamento de professores e alunos;
  • Redução do uso de práticas punitivas e aumento de intervenções educativas e preventivas.

Esses dados reforçam a relevância da psicologia comportamental como uma estratégia educativa fundamentada na ciência.

Ao propor uma cultura escolar baseada na ética do cuidado, na responsabilidade e na ciência aplicada ao cotidiano, a psicologia comportamental se apresenta como uma ferramenta transformadora. Para que isso se concretize, é necessário superar modelos punitivos com investimento em formação qualificada, políticas públicas integradas e práticas que realmente promovam a inclusão e o desenvolvimento de nossos adolescentes — dentro e fora da escola.

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