Lula critica guerras sem mencionar o Hamas e a invasão da Ucrânia


O presidente participou da reunião – realizada em Kazan, na Rússia – por videoconferência. Ele voltou a cobrar mais recursos dos países ricos para o enfrentamento da crise climática. Lula participa por videoconferência da reunião dos BRICS, na Rússia
O presidente Lula participou por videoconferência da reunião de cúpula do Brics, realizada em Kazan, na Rússia.
Na lista de convidados de Vladimir Putin mais de 20 chefes de Estado. Entre eles, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. O anfitrião, há mais de duas décadas no poder, parecia à vontade. Putin bateu na tecla da cooperação financeira entre os países do Brics e defendeu a expansão do bloco.
O presidente Lula participou por videoconferência da reunião com os membros plenos. Ele voltou a cobrar mais recursos dos países ricos para o enfrentamento da crise climática.
“Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos”, disse.
Lula também voltou a defender alternativas ao dólar como moeda padrão no comércio global. Essa é uma das bandeiras de Vladimir Putin, por causa das sanções econômicas impostas pelo Ocidente à Rússia.
Lula critica guerras sem mencionar o Hamas e a invasão da Ucrânia
Jornal Nacional/ Reprodução
Lula voltou a criticar a guerra na Faixa de Gaza, mas não citou o massacre cometido por terroristas do Hamas, que ainda mantêm reféns israelenses. Lula defendeu negociações de paz também para acabar com o conflito na Ucrânia, sem mencionar a invasão russa ao país vizinho.
“Gaza se tornou o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo. Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, afirmou Lula.
O documento final da cúpula do Brics menciona a Ucrânia apenas uma vez. Fala em diálogo e diplomacia para resolver o conflito, mas ignora a invasão russa e não usa a palavra “guerra”.
Já em relação ao Oriente Médio, a linguagem foi dura, com críticas ao governo de Israel, e nenhuma palavra sobre a ação de grupos terroristas, apoiados pelo Irã, aprovado como membro pleno do Brics na reunião de 2023.
Uma das grandes expectativas para o encontro era a criação da categoria de países parceiros. A declaração final não incluiu a lista com os novos parceiros do Brics. Os países membros concordaram com 13 candidaturas. A da Venezuela, embora publicamente tenha recebido o apoio de Vladimir Putin, esbarrou na resistência da diplomacia brasileira e ficou de fora.
O documento final prega uma reforma do sistema financeiro mundial e o uso de moedas locais em transações comerciais.
Lula critica guerras sem mencionar o Hamas e a invasão da Ucrânia
Jornal Nacional/ Reprodução
Para analistas, Vladimir Putin vem empurrando o Brics para uma postura cada vez mais anti-Ocidente.
“O grande risco para o Brasil é que, os Brics se tornando cada vez mais abertamente anti-ocidentais, isso dificulta o posicionamento brasileiro, que é um país que conseguiu muito bem construir uma ponte ao longo dos últimos anos entre valores ocidentais – que é o que o Brasil defende – e um alinhamento com países desse mundo, vamos dizer, pós-ocidental. Mas essa nova característica dos Brics, sobretudo se ele passa por mais uma rodada de ampliação, dificulta para o Brasil conseguir manter essa coerência diplomática que sempre foi tão importante para nós”, diz Guilherme Casarões, cientista político FCV-EASP.
No fim do dia, em uma entrevista coletiva, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi questionado se essa postura cada vez mais anti-Ocidente do Brics pode afastar o Brasil de antigos e importantes aliados ocidentais.
“Não, de forma alguma, não tem porquê. O Brasil não é contra ninguém, o Brasil é a favor da cooperação e do desenvolvimento. O Brasil, até onde eu sei, é um país do Ocidente, então… O Brasil não vai querer ser contra si próprio. E o Brasil tem ótimas e antiquíssimas relações com todos esses países. Portanto, eu acho que não, que não é o caso”, afirmou Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores.
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