São Paulo, 14 – Em nova fase da Operação Sem Desconto, que investiga suspeita de fraudes em descontos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Polícia Federal cumpriu, nesta quarta, 14, mandados de busca e apreensão em Presidente Prudente (SP). O alvo desta etapa é Cícero Marcelino de Souza Santos, suspeito de atuar como operador financeiro da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), entidade investigada que recebeu mais de R$ 100 milhões do INSS
Uma das suspeitas dos investigadores é a de que Cícero Marcelino teria comprado veículos de alto valor com recursos oriundos das fraudes. A mulher dele, Ingrid Pikinskeni Morais Santos, também foi alvo da operação. O Estadão procurou a defesa do casal, mas não houve resposta.
A PF identificou que o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, transferiu mais de R$ 800 mil para Cícero Marcelino e Ingrid por meio de empresas ligadas ao casal. Parte dos recursos foi repassada de volta para Lopes. Para a PF, o fluxo “irregular” de recursos “sugere possível ciclo de lavagem de dinheiro”. “Esse comportamento, somado às ligações com associações de aposentados envolvidas em fraudes, reforça as suspeitas de desvios de dinheiro.”
Como mostrou o Estadão, entre 2019 e 2024, a Conafer registrou crescimento de mais de 790 vezes nos descontos de aposentados e pensionistas do INSS. O valor no período atingiu R$ 688 milhões. Na ocasião, a entidade disse que promove “uma extensa agenda de ações, programas e serviços em todas as regiões do País”.
Movimentações
Cícero Marcelino também fez repasses a José Laudenor da Silva, que consta como sócio em duas empresas do ex-ministro do Trabalho e Previdência José Carlos Oliveira (governo Bolsonaro). Conforme a PF, as transferências levantaram suspeita de que Laudenor possa ser “laranja”, uma vez que trabalha como auxiliar administrativo com salário de R$ 1,5 mil. “Tais transações sugeriram a utilização de contas para movimentar recursos de terceiros e/ou atividades não declaradas, caracterizando possíveis indícios de burla/fracionamento e lavagem de dinheiro “
O ex-ministro José Carlos Oliveira, que mudou de nome e hoje se apresenta como Ahmed Mohamad Oliveira Andrade, afirmou que “não é citado como investigado e seu nome aparece de maneira secundária”. A reportagem não localizou nenhum representante de José Laudenor da Silva.
Estadão Conteúdo