O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, dia 13, que a América Latina não quer ser alvo de uma nova disputa hegemônica, tampouco reviver os tempos de Guerra Fria, desta vez entre China e Estados Unidos.
Um dos principais porta-vozes globais da região, Lula disse que a vocação “é ser um dos eixos de uma ordem multipolar” e representar o Sul Global. Ele disse que o futuro dos países latino-americanos e caribenhos depende do comportamento de seus próprios governantes.
“Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas. Há mais de uma década, a Celac declarou a América Latina e o Caribe como zona de paz. Não queremos repetir a história e encenar uma nova Guerra Fria”, disse o petista, ao discursar no Fórum China-Celac, que reúne ministros da América Latina e do Caribe na capital chinesa.
A declaração ocorre em meio à tensão aberta, entre Pequim e Washington, na região comumente retratada como um “quintal” dos americanos. O governo Donald Trump chegou ao poder na Casa Branca com uma agenda dura de tarifas e deportações e ameças com governos não-alinhados. A pressão tem como pano de fundo implementar políticas prometidas a seu eleitorado, sobretudo na questão migratória e de segurança, com combate ao narcotráfico, e retirar a presença que a China conquistou por meio de mecanismos como o Fórum China-Celac e a Nova Rota da Seda.
Em reação, a diplomacia chinesa decidiu elevar o nível e convidou quatro presidentes da região, entre eles Lula, para um gesto de aproximação política. Também compareceram os presidentes do Chile, Gabriel Boric, da Colômbia, Gustavo Petro, e do Uruguai, Yamandu Orsi.
Em paralelo, a China tem fomentado bilateralmente de acordos e investimentos, públicos e privados, como negócios e serviços, como fez com o Brasil. Lula será recebido mais uma vez em visita de Estado no Grande Salão do Povo.
Com a região onde o Brasil sempre exerceu influência dividida politicamente, Lula pediu que os países se articulem melhor, sobretudo para impulsionar mais obras de infraestrutura, uma das vitrines chinesas na região.
“O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas de escala regional. Não precisamos apenas de corredores de exportação, mas de rotas que sejam vetores de desenvolvimento e união”, afirmou o petista.
Lula também defendeu que a América Latina e o Caribe devem ter a prerrogativa de indicar o próximo secretário-geral das Nações Unidas e pediu apoio chinês para que seja uma mulher.
Lula afirmou que distorções no comércio internacional, especialmente de produtos agrícolas, nunca foram resolvidas de forma satisfatória na OMC e que a “imposição de tarifas arbitrárias só agrava essa situação”.
Ele pediu que a China contribua com a industrialização de países latino-americanos e afirmou que a “revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre nações”. “O desenvolvimento da inteligência artificial não deve ser um privilégio de poucos”, defendeu.
“A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas sim aperfeiçoá-lo”, defendeu Lula. O petista disse que “não há saída para nenhum país individualmente”.
“Ou nós nos juntamos entre nós e procuramos parceiros que queiram junto conosco construir um mundo compartilhado ou a América Latina tende a continuar sendo uma região que representa a pobreza no mundo de hoje”, asseverou. “É importante que a gente compreenda, não depende de ninguém, não depende do presidente Xi Jinping, não depende dos Estados Unidos, não depende da União Europeia, depende pura e simplesmente se a gente quer ser grande ou se a gente quer continuar pequeno.”
Estadão Conteúdo