O perfil dos Microempreendedores Individuais do DF

img 6209

Os Microempreendedores Individuais (MEIs) são um grupo fundamental para a economia do Distrito Federal, e os dados mais recentes do Sebrae ajudam a entender melhor o perfil desses profissionais. Em 2024, uma pesquisa mostrou que 87% dos MEIs do DF estão ativos, embora esse número seja um pouco menor do que a média nacional, que chega a 90,4%. Isso mostra que muitos empreendedores no DF ainda estão enfrentando dificuldades, mas também que a formalização tem sido uma saída para muitos que buscam estabilidade.

De acordo com o levantamento, 66% dos MEIs do DF abriram seus negócios porque precisavam de uma fonte de renda. Outros 31% aproveitaram uma oportunidade que viram no mercado. Esse dado é importante porque revela que, para muitos, o empreendedorismo surgiu mais como uma necessidade do que uma escolha planejada. Antes de se formalizarem, 44% dos MEIs estavam trabalhando como empregados com carteira assinada; 22%, eram trabalhadores informais; e 15%, já estavam empreendendo de maneira não registrada.

Diego Xavier, 42 anos, integra o grupo de 44% dos MEIs que antes atuavam com carteira assinada. Ex-servidor da Caixa Econômica Federal, ele tomou uma decisão ousada: pediu demissão de um cargo público estável para seguir sua paixão pela arte e abrir um estúdio de tatuagem. “Trabalhar na Caixa me dava segurança; o salário caía todo dia 20, certinho. Mas sempre fui ligado à arte e, durante a pandemia, percebi que precisava mudar. Queria fazer algo que me realizasse de verdade”, conta. A mudança aconteceu em dezembro de 2021 e, desde então, Diego vive como microempreendedor individual, atuando como arte-educador e tatuador no Labirinto Tattoo (@labirintottt), estúdio localizado no Park Way.

A formalização como MEI surgiu como um passo natural para dar base legal ao novo negócio. Todo o processo foi feito de forma autônoma, sem a necessidade de contador, diretamente pelo portal do governo. “Fiz tudo sozinho, foi muito simples. Peguei meu CNPJ ali mesmo e, todo mês, emito e pago o DAS, que gira em torno de R$ 75”, explica. Para ele, a desburocratização foi fundamental para facilitar a transição de uma carreira tradicional para o empreendedorismo. “Muita gente ainda não sabe que é possível começar sem grandes complicações. Isso faz muita diferença para quem está saindo do zero”, afirma.

Apesar das vantagens da formalização, Diego reconhece os desafios de se manter como autônomo. “É completamente diferente da vida de servidor. Agora preciso correr atrás de cliente, divulgar meu trabalho e garantir o sustento mês a mês. Se ficar parado, não entra dinheiro. É uma rotina intensa, mas vale a pena.” Para ele, o modelo MEI é uma ferramenta poderosa e deve continuar acessível. “Se tudo continuar como está, está ótimo. Só espero que não aumentem as taxas.”

A pesquisa também mostra que, após a formalização, muitos MEIs viram suas finanças melhorarem. Cerca de 69% dos entrevistados disseram que o faturamento aumentou depois que se tornaram microempreendedores. No entanto, nem tudo é fácil: muitos ainda enfrentam dificuldades para crescer, especialmente porque 60% dos MEIs consideram que o limite de faturamento de R$ 81 mil por ano é muito baixo para o tipo de negócio que possuem.

Além dos limites de faturamento, muitos microempreendedores individuais enfrentam dificuldades para acessar oportunidades no setor público. Embora 54% dos MEIs demonstrem interesse em vender para órgãos governamentais, apenas 7% estão cadastrados no sistema de compras públicas. A baixa adesão revela uma barreira significativa: a falta de informação, apoio técnico e conhecimento sobre como acessar esse mercado, que poderia representar uma fonte relevante de renda estável.

Enquanto isso, no setor privado, as incertezas do mercado também impõem desafios. É o caso de Susana Sousa, 37 anos, moradora de Sobradinho, Distrito Federal. Cabeleireira especializada em química capilar e formada em Administração, ela atua como MEI há quatro anos. No entanto, devido à queda na demanda por seus serviços e à instabilidade financeira, está inadimplente com as contribuições mensais do DAS. “Parei de pagar desde o ano passado. Não estava conseguindo mais manter as contas em dia, e a taxa do MEI acabou ficando para trás”, relata.

Apesar de ter conseguido se formalizar com facilidade — sem precisar de contador e lidando sozinha com toda a burocracia —, a redução drástica no número de clientes comprometeu sua capacidade de manter o negócio ativo. “Meu MEI é simples. Fiz tudo sozinha. Mas, quando a clientela começou a cair, ficou impossível continuar pagando”, explica.

A pandemia marcou uma virada no comportamento dos consumidores que, para economizar, passaram a adotar o cabelo natural, reduzindo significativamente a procura por procedimentos químicos. “Eu só trabalho com química. Não corto cabelo, não faço maquiagem nem penteado. Desde a pandemia, muita gente decidiu parar com relaxamentos e alisamentos. Isso reduziu drasticamente os serviços”, conta Susana. Antes, ela realizava até cinco procedimentos por semana; hoje, leva cerca de 15 dias para atender essa mesma quantidade. A queda representa uma redução de cerca de 70% no seu movimento.

Outro obstáculo é a preferência do público por profissionais que oferecem múltiplos serviços em um só atendimento. “As pessoas querem pacote completo, querem economizar. E, como eu sou especializada só em química, acabo perdendo clientes para quem faz de tudo um pouco”, lamenta. Apesar das dificuldades, Susana segue atendendo os poucos clientes que ainda mantém, enquanto avalia novas possibilidades profissionais. “Ainda estou vendo o que fazer. Talvez volte a atuar na minha área de formação, que é Administração”, diz.

Uma informação muito importante é que 74% dos MEIs dependem exclusivamente da renda gerada por seus negócios, assim como Susana. Isso significa que, para muitos, o sucesso do empreendimento é crucial para o sustento da família. Essa realidade torna ainda mais relevante o apoio a esses empreendedores, já que a sobrevivência de muitas famílias está atrelada ao sucesso de pequenos negócios.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.