Leão 14 defende libertação de jornalistas presos e recebe convite de Zelenski

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ANDRÉ FONTENELLE
ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS)

Aplaudido de pé ao chegar, Leão 14 abriu sua audiência da manhã desta segunda-feira (12) com uma brincadeira em seu idioma nativo, o inglês. “Dizem que quando aplaudem no começo não importa muito. Se vocês ainda estiverem acordados no final e ainda quiserem aplaudir, muito obrigado!”

No final, os cerca de 3.000 presentes, na maioria jornalistas do mundo inteiro que cobriram o conclave, não só aplaudiram: cumprimentaram, tocaram, beijaram e presentearam o papa.

A tietagem explícita foi em alguns momentos constrangedora. Assim que foi liberado o acesso à Sala Paulo 6º, moderno auditório usado pelo Vaticano para eventos como esse, muitos repórteres deixaram de lado os sentimentos cristãos e correram para furar a fila e garantir o melhor lugar para chegar perto de Leão 14.

Sem a mesma efusividade de Francisco, seu antecessor, Robert Prevost mostrou-se paciente e bem-humorado. Autografou uma bola de beisebol (é torcedor dos White Sox de Chicago, sua cidade natal). Colocou nos ombros uma estola peruana (foi missionário no Peru e adquiriu a nacionalidade) para tirar uma selfie. Topou um convite para uma partida beneficente de tênis (esporte que pratica).

E fez piada com o nome do tenista número um do mundo, que é italiano: “Só não levem o [Jannik] Sinner!” Em inglês, “sinner” quer dizer pecador.

Foram momentos descontraídos de um dia em que o papa tratou de assuntos sérios.

Ainda de manhã, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, anunciou pelas redes sociais ter conversado pelo telefone com Leão 14. Agradeceu o apelo pelo fim do conflito, feito na bênção de domingo da sacada central da Basílica de São Pedro. E convidou o papa a visitar Kiev.

O encontro dos dois poderia ocorrer não na Ucrânia, e sim na Turquia, onde Zelenski tem um encontro marcado em Istambul com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na quinta-feira (15) -um encontro que, depois de três anos de guerra entre os dois países, gera muitas expectativas.

Além disso, neste mês comemoram-se os 1.700 anos do Concílio de Niceia, importante na definição da doutrina católica. Niceia hoje é a cidade turca de Íznik, e especulou-se que a Turquia poderia ser o primeiro destino internacional do novo pontífice.

No discurso de agradecimento de Leão 14 à imprensa, pela cobertura dos últimos dias, o trecho mais aplaudido foi aquele em que pediu a libertação dos jornalistas presos mundo afora “por buscarem relatar a verdade”.

Segundo a organização Comitê para a Proteção dos Jornalistas, há atualmente cerca de 360 profissionais presos em cerca de 40 países, pelo exercício do jornalismo. É o maior número de uma série histórica de três décadas.

“Estamos vivendo tempos difíceis ao mesmo tempo de navegar e relatar”, prosseguiu o papa. “Representam um desafio para todos nós, do qual, porém, não podemos fugir. Ao contrário, exige que cada um de nós, em nossos diferentes papéis e serviços, não ceda à mediocridade.”

Em frases curtas, o papa defendeu uma comunicação que promova a paz, não o conflito. “Devemos dizer não à guerra de palavras e imagens.” “Vamos desarmar as palavras e ajudaremos a desarmar o mundo.” “Vamos desarmar a comunicação de todo o preconceito e ressentimento, fanatismo e até ódio; vamos libertá-la da agressão.”

Originário da ordem dos agostinianos, ele citou santo Agostinho para lembrar que os jornalistas também constroem, pela comunicação, o mundo em que vivemos. “Vivamos bem, e os tempos serão bons. Nós somos os tempos.”

Leão 14 voltou a fazer referência aos riscos e oportunidades que a inteligência artificial representa, tema que tem sido constante em suas falas. Reconheceu seu “imenso potencial”, mas ressalvou que a IA exige “responsabilidade e discernimento a fim de garantir que seja usada para o bem de todos”.

O papa recebeu alguns cardeais no Vaticano. Pela manhã, concedeu audiência ao cardeal italiano Baldassera Reina, vigário-geral para a diocese de Roma. À tarde, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, publicou foto com o papa, diante de um retrato de Leão 13, inspiração do nome do novo pontífice. No post, dom Orani disse pedir a Deus que o papa “mantenha viva a defesa das causas sociais, tão caras a Leão 13”.

A Santa Sé divulgou o calendário de celebrações a serem presididas pelo papa até o final de maio. No domingo (18), na praça São Pedro, a missa dita de entronização, o início do seu pontificado. Dois dias depois, uma visita ao suposto sepulcro de são Paulo, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. No dia 25, missa na Basílica de São João de Latrão e visita à Basílica de Santa Maria Maior, onde o papa já esteve no sábado (10) para rezar diante da sepultura do papa Francisco. Por fim, no dia 31, missa na Basílica de São Pedro por ocasião da Visitação da Virgem Maria.

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