São Paulo
Vender pastel por quilo e deixar os clientes montarem o pedido com o tamanho e a quantidade de recheio que bem entenderem foram os diferenciais escolhidos pelo publicitário Jorge Ciconello, de 35 anos, ao criar a pastelaria The Paztel, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em 2018.
Há três anos, ele decidiu inovar mais uma vez e adotou o formato de rodízio de pastéis, com caldo de cana incluído. Ainda neste ano, a empresa quer negociar as primeiras franquias.
Ideia de negócio surgiu depois de pesquisas na internet
Ciconello cresceu em uma família de empreendedores: os pais dele foram donos de uma confecção de roupas e de uma pizzaria antes de se aposentarem. Ele trabalhou por quase dez anos na área administrativa das empresas, mas sempre quis ter o próprio negócio.
O publicitário conta que decidiu tirar os planos do papel há sete anos e abrir uma hamburgueria, já que tinha afinidade com o setor de alimentação. “O problema é que, na época, já havia muitas hamburguerias no ABC. Seria difícil bater de frente com a concorrência, então preferi buscar por algo que fosse inovador”, afirma.
Buscou pastelaria com diferencial para atrair clientes
Depois de desistir dos hambúrgueres, ele foi para a pastelaria, mas sabia que precisava de um diferencial, porque a tradição na região era comer pastel nas feiras de rua. Ciconello conta que fez algumas pesquisas na internet e encontrou quatro pastelarias por quilo, mas nenhuma em São Paulo.
“Eu não inventei a roda, já existia pastel por quilo. Mas o que eu trouxe de diferente foi o jeito de servir”, explica o empreendedor. Ele investiu mais de R$ 600 mil na reforma do ponto físico da The Paztel, que foi inaugurada em 2018. Na época, ele ainda tinha uma sócia, que deixou o negócio há quase dois anos.
Negócio começou com pastel por quilo e aderiu ao rodízio
Nenhuma combinação de sabores é proibida na The Paztel. Quem quiser criar um recheio bem variado, precisa escolher o pastel por quilo, que não tem limites de ingredientes e quantidades.
Depois de ser montada e recheada de acordo com as instruções do cliente, a massa é fechada e colocada na balança – cada 100 gramas custam R$ 10,90. O recorde de peso em um único pastel foi de 1,9 kg.
O rodízio foi adotado há cerca de três anos para atrair mais consumidores e também inclui esfihas abertas. Neste formato, o cliente pode escolher até três ingredientes para o recheio do pastel, que tem cerca de 100 gramas. O consumo é ilimitado, mas a recomendação da empresa é pedir, no máximo, quatro pastéis por vez, para evitar desperdícios.
Os valores variam de R$ 54,90 para uma pessoa, em dias de semana e sem bebidas, a R$ 139,90 para duas pessoas, aos finais de semana e feriados e com refil de bebidas, incluindo caldo de cana.
A lista de ingredientes para os recheios conta com mais de 50 opções. “Nós temos ingredientes para atender a nichos de público, como intolerantes a lactose e veganos. Mas sempre alertamos sobre o risco de contaminação cruzada, para a pessoa avaliar se realmente pode comer”, afirma o publicitário.
Ele diz que os ingredientes salgados mais populares são mussarela, pernil e carne seca. Já entre os doces, creme de avelã e doce leite ganham destaque. A The Paztel conta com delivery desde o primeiro ano, mas as entregas não eram a prioridade de Ciconello no início.
A situação mudou com a chegada da pandemia. “Eu só tinha duas opções: ou fechava ou investia no delivery. Aprendi muito com esse período, e hoje o delivery já é uma segunda operação dentro da pastelaria”, comenta. O faturamento não foi revelado.
Franquias estão nos planos
Ciconello afirma que o maior desafio ao longo dos quase sete anos da The Paztel foi encontrar mão de obra qualificada. “Os problemas financeiros você consegue resolver com um empréstimo. Mas a mão de obra não funciona assim, é mais difícil, não só no ramo da alimentação”, comenta.
O perfil da pastelaria no Instagram acumula 135 mil seguidores. Antes de ter o próprio negócio, ele não postava nas redes sociais, mas sempre soube que elas seriam importantes para ajudar na popularização da marca.
Além de publicar vídeos dos pastéis, Ciconello conta novidades sobre o dia a dia da empresa, faz transmissões ao vivo para conversar com os clientes e tem parcerias com influenciadores. “Quem não está nas redes sociais fica muitos passos atrás de quem já faz um bom trabalho nessas plataformas”, diz.
O publicitário afirma que, desde o início, a sua meta é transformar a The Paztel em uma franquia. Depois de quase sete anos de validação, ele acredita que chegou o momento de negociar as primeiras unidades, com foco no crescimento espiral.
“É importante ter cautela, começar por São Paulo e depois ir para outras áreas do Estado. Mas, em cinco anos, eu pretendo ter de 100 a 150 unidades no Brasil todo”, conclui.
Avaliação dos consumidores
A The Paztel recebeu uma classificação média de 4,7 de 5 estrelas no Google, com 1.562 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários positivos elogiam a qualidade e variedade dos ingredientes, e os negativos abordam problemas no atendimento.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
No site Reclame Aqui, a empresa não tem um perfil verificado.
Consumidor quer experiências diferenciadas, diz analista
A analista de negócios do Sebrae-SP Rosiane Cecilia Moreira avalia que ainda há espaço para quem quer empreender no setor de food service, que engloba todas as empresas voltadas para a alimentação fora de casa, como restaurantes e bares.
Ela aponta que existe uma demanda crescente na área, mas que os clientes não se satisfazem apenas com uma boa comida.
“As pessoas estão em busca de experiências. É preciso oferecer um formato diferente, um atendimento inovador, que transforme a vivência delas”, explica.
A facilidade para participar de eventos que ajudam a promover o negócio, como feiras e festivais, também é um ponto positivo.
Por outro lado, Rosiane indica que um problema enfrentado pela maior parte dos empresários do setor é a dificuldade para encontrar mão de obra.
Ela afirma que o grande desafio não é apenas a capacitação, mas sim o comprometimento dos profissionais com o dia a dia da operação.
“Algumas empresas estão dispostas a qualificar os funcionários, mas a questão é a falta de compromisso. É conseguir fazer as pessoas entenderem que têm horários e missões a serem cumpridas”, diz.
A especialista aponta ainda que ter atenção às variações de preços da matéria-prima e às regulamentações sanitárias é fundamental para a sobrevivência do estabelecimento.
Para driblar a concorrência, que pode ser bem acirrada em alguns nichos do mercado, o caminho é ter um diferencial.
Essa vantagem competitiva pode estar no modelo de negócio, na forma de servir e até no atendimento ao cliente, segundo Rosiane O importante é garantir que o consumidor perceba essa diferença e se atualizar de tempos em tempos.
“Por mais inovadora que seja a empresa, ainda é preciso inovar a inovação. A partir do momento em que todo mundo começa a copiar, já não é mais inovação e passa a ser uma coisa comum”, conclui.
Estadão Conteúdo