Sem competição para a renda fixa
A atratividade da renda fixa segue em destaque, dado que será difícil para o investidor encontrar alternativas com tal risco/retorno. No curto prazo, pensando em até dois anos, os títulos pós-fixados apresentam as melhores projeções de rentabilidade, segundo Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank.
“Os juros estão altos e a expectativa é que continuem nesse período. Como o pós-fixado é um porcentual em cima do CDI, que acompanha a Selic, ele captura isso”, afirma Haddad, que fez projeções para investimentos em seis meses e dois anos, conforme as tabelas a seguir:
Rentabilidade de R$ 1 mil após 6 meses
Investimento Renatabilidade bruta Valor líquido Rentabilidade líquida descontada a inflação
CDI 7,11% R$ 1.056,84 3,34%
Poupança 4,03% R$ 1.040,29 1,72%
Tesouro Selic 2028
(Selic + 0,0703%) 7,18% R$ 1.055,40 3,20%
CDB 102% do CDI
(liquidez diária) 7,24% R$ 1.057,94 3,45%
CDB/RDB/LC IPCA +
8,75% a.a. 6,65% R$ 1.053,18 2,98%
Fonte: C6 Bank
Rentabilidade de R$ 1 mil após 2 anos
Investimento Renatabilidade bruta Valor líquido Rentabilidade líquida descontada a inflação
CDI 29,64% R$ 1.251,95 14,70%
Poupança 17,12% R$ 1.171,16 7,30%
Tesouro Selic 2028
(Selic + 0,0703%) 30,03% R$ 1.252,95 14,79%
CDB 102% do CDI
(liquidez diária) 30,27% R$ 1.257,32 15,19%
CDB/RDB/LC IPCA +
8,00% a.a. 27,31% R$ 1.232,15 12,89%
Fonte: C6 Bank
Rafael Sueishi, sócio e responsável de renda fixa da Manchester Investimentos, também destaca a maior atratividade de pós-fixados no curto prazo, mas para o médio prazo, considerando algo entre três a cinco anos, já observa “ótimas oportunidades” em títulos atrelados à inflação para quem busca “travar” taxas por mais tempo. “Uma carteira que surfa bem esse cenário é uma composição majoritária de ativos pós-fixados combinada com um porcentual relevante de ativos atrelados à inflação”, afirma.
Na Tivio Capital também há preferência por NTN-B com vencimento de até cinco anos, segundo Rafael Espinoso, estrategista de investimentos. “É a única classe de ativo em que estamos com posição acima do neutro.”
Para prazos maiores, trabalha-se com a expectativa de um início de ciclo de corte de juros. Nesse caso, vale olhar para títulos prefixados, segundo Haddad, do C6. “Dado o cenário atual, faz mais sentido o prefixado, pois com a expectativa de que os juros vão cair é possível ‘travar’ uma taxa mais alta”, diz o planejador, acrescentando que isso implica em um risco embutido. “Em um prazo de cinco anos muitas coisas podem mudar. É um prêmio pelo risco que se corre com o prazo mais alongado”, afirma.
Rentabilidade de R$ 1 mil após 5 anos
Investimento Renatabilidade bruta Valor líquido Rentabilidade líquida descontada a inflação
CDI 89,52% R$ 1.760,92 44,05%
Poupança 48,44% R$ 1.484,35 21,42%
Tesouro Selic 2031
(Selic + 0,1143%) 91,31% R$ 1.773,26 45,05%
CDB 102% do CDI
(liquidez diária) 91,81% R$ 1.780,35 45,64%
CDB/RDB/LC IPCA
+ 7,60% a.a. 76,32% R$ 1.648,72 34,87%
CDB/RDB/LC prefixado
17,40% a.a. 98,53% R$ 1.837,47 50,31%
Fonte: C6 Bank
“Há um horizonte de pelo menos um ano para aumentar gradativamente a posição em prefixados”, avalia Espinoso, da Tivio. Ao considerar que o último boletim Focus mostra a mediana para a Selic em 12,50% no fim de 2026 e a curva de juros futuros indica juros próximos de 13%, já há diferença ante os 14,75%. “O juro nominal vai ganhar espaço a partir do momento em que a queda de juros de fato ‘entrar no preço’”, diz.
Para Sueishi, da Manchester, o movimento já está bem precificado para a desaceleração dos juros, então ele olha prefixados para movimentações táticas, em momentos de estresse, quando os juros futuros sobem.
O especialista ainda menciona a classe de crédito privado, na qual diz ser cada vez mais importante focar em alta qualidade de crédito. “Empresas mais bem posicionadas em seus setores, com endividamento controlado e frentes de receitas mais previsíveis”, afirma.
Diversificação
Os multimercados e a renda variável têm dificuldade em acompanhar o rendimento de quase 15% ao ano visto na renda fixa, mas os especialistas ainda veem oportunidades e reforçam a importância da diversificação. “Os investidores estão com posições muito pequenas em uma Bolsa que está negociando a menos de 8x no múltiplo P/E (Preço/Lucro). Se a rotação de saída de dinheiro dos Estados Unidos para outros mercados crescer vai ser um ‘coice’ na Bolsa”, avalia Espinoso, da Tivio. Para ele, o Ibovespa tem potencial de ir aos 150 mil pontos ao final deste ano.
Letícia Albuquerque, responsável por Investment Solutions na Tivio, acrescenta que as ações cíclicas, que são as mais relacionadas à queda de juros, podem ter desempenho melhor que as ligadas à commodities, que são prejudicadas por projeções de menor crescimento mundial. “Podemos ver uma dispersão grande de retorno”, afirma. Além disso, Espinoso diz ser importante ter alocação em renda variável, com a fatia aumentando conforme houver ganho de confiança.
Haddad, do C6, menciona ainda alocação em fundos de ouro, cuja valorização recente reflete “as incertezas em relação à economia e ao controle da dívida”. Um exemplo é o GOLD11, primeiro ETF de ouro do Brasil, que acumula alta de quase 65% em um ano. “O investidor recorre ao ouro como ativo de segurança”, diz o planejador.
E a exposição internacional segue relevante, ainda que haja um cenário volátil e incerto diante da guerra comercial iniciada pelo governo Trump – o que penaliza os índices de Nova York e o DXY no acumulado deste ano. “A não ser que a gente embarque em uma recessão profunda, o que não é o cenário-base, ainda há espaço para alocar nos Estados Unidos, como em setores sensíveis a juros”, afirma Espinoso, da Tivio.