JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu na manhã deste sábado (10), em Moscou, sua presença na festa montada por Vladimir Putin para celebrar os 80 anos do fim da Segunda Guerra. O líder russo transformou o evento em uma demonstração de força, com inegável formato de propaganda, para justificar a invasão da Ucrânia.
Segundo Lula, as críticas da comunidade internacional, sobretudo na Europa, são uma demonstração de pequenez. “A Europa deveria estar festejando no dia de ontem. Porque quem estava em guerra era a Europa. A França deveria estar festejando. A Alemanha deveria estar festejando no dia de ontem porque, graças ao que aconteceu em 1945, o nazismo que tomava conta da Alemanha foi derrotado.”
Para um país que perdeu 26 milhões de jovens na guerra, afirmou o presidente, não cabia crítica à Rússia por fazer a comemoração que foi feita. “Eu não vejo por quê.”
Lula completou o comentário dizendo que a exploração política do evento era importante e que, independentemente disso, “a posição do Brasil é muito sólida”, em referência à proposta de paz para a guerra da Ucrânia elaborada junto com a China. O presidente contornou com a observação o fato de que Putin manipulou a lembrança da vitória soviética em 1945 para justificar sua operação militar especial, o eufemismo que usa para a guerra que trava no país vizinho desde 2022.
Dos cerca de 30 chefes de Estado e governantes convidados para a festa, Lula era um dos poucos eleito democraticamente. Questionado sobre o fato, o presidente preferiu sublinhar que o discurso do Brasil sobre o conflito na Ucrânia continua o mesmo. “Nós trabalhamos, queremos e torcemos para que essa guerra acabe. E essa guerra só pode acabar se os dois quiserem. Se um só quiser, não vai acabar.”
Voltou também a pedir o fim da guerra em Gaza, “um genocídio de um exército muito bem preparado contra mulheres e crianças a pretexto de matar terroristas”.
“Vocês poderão perguntar: discutiram a questão da guerra da Ucrânia? Eu discuti antes, durante e depois. Porque nós dissemos ao presidente Putin aquilo que a gente vem dizendo desde que começou essa guerra. A posição do Brasil contra a ocupação territorial de outro país.”
Na quinta-feira (8), pouco antes de um jantar no Kremlin, o pleito de Lula ganhou projeção internacional com a publicação de uma entrevista na revista americana New Yorker. “Liguei para Putin e disse: ‘Putin, acho que está na hora de você voltar à política. Ponha um fim a isso. O mundo precisa de política, não de guerra. Você faz falta.'”
No dia seguinte, o presidente assistia ao tradicional desfile militar na Praça Vermelha que trazia, entre veículos da Segunda Guerra, drones que são despejados sobre Kiev.
No momento em que Lula falava com os jornalistas, a imprensa europeia revelava que os principais líderes europeus faziam uma visita surpresa à capital ucraniana. Emmanuel Macron, Friedrich Merz, em seu quinto dia como primeiro-ministro, Donald Tusk e Keir Starmer apresentaram um plano de cessar-fogo incondicional de 30 dias com início imediato, na segunda-feira (12).
“Nós, líderes de França, Alemanha, Polônia e Reino Unido, estaremos em Kiev em solidariedade à Ucrânia contra a invasão bárbara e ilegal em grande escala da Rússia”, disseram os quatro líderes em declaração conjunta pouco antes da visita, que, como de praxe nesses casos, não foi previamente divulgada por motivos de segurança.
O esforço ainda contou com uma participação de Donald Trump, por telefone, durante uma reunião do grupo com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Putin havia proposto uma trégua de três dias durante as celebrações dos 80 anos do Dia da Vitória da Grande Guerra Patriótica, como a Segunda Guerra é chamada na Rússia. Os ataques continuaram, e o serviço de inteligência dos EUA chegou a alertar para a possibilidade de uma grande ofensiva aérea contra a Ucrânia.
“A minha vinda aqui [em Moscou] não muda um milímetro o que a gente pensa e o que nós queremos sobre a paz. Vamos continuar conversando com todas as pessoas que queiram conversar.”
Lula já recebeu alguns convites de Zelenski para ir a Kiev, o último deles na semana passada, quando o embaixador da Ucrânia no Brasil sugeriu ao presidente aproveitar a viagem à Rússia para fazer uma escala na capital ucraniana.
Por enquanto, está a caminho da China, onde será recebido em visita oficial por Xi Jinping segunda (12) e terça-feira (13).