NELSON DE SÁ
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS)
“Fico acordado até tarde para ver os resultados da eleição do papa, e elegem um americano”, reclamou bem-humorado um usuário do Weibo, a plataforma chinesa para comentários por escrito, por volta das 2h de sexta (9) no horário local, após sair a eleição de Robert Prevost.
Havia alguma expectativa de que a escolha se voltasse para o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, de família em parte chinesa.
A agência de notícias Xinhua fez um despacho breve e informativo, sem juízo de valor, reproduzido em canais como CGTN e jornais como Pengpai Xinwen, mas nas redes sociais os chineses ironizaram e festejaram o novo papa, Leão 14.
No Douyin, o TikTok original, voltado para vídeos curtos, acumularam-se reações destacando que não se trata bem de um americano. “É mais peruano, na verdade”, comentou um. Outro: “O segundo papa da América Latina”.
E outro, com emoji de risos: “Escolheram um americano anti-Trump”. Não faltaram piadas sobre o vice-presidente americano, o católico J.D. Vance, que foi recebido pelo papa Francisco pouco antes de morrer.
“Vance beliscou o papa anterior até a morte e fez com que um americano entrasse em seu lugar”, escreveu um usuário no Weibo, rede em que “p novo papa” foi o primeiro tópico por mais de duas horas.
Outros comentários: “Papa MAGA”, referência ao “faça a América grandiosa novamente”, o slogan do presidente Donald Trump, e “maldito, foi Vance quem fez isso”. Outro ainda mostrou que, em seu próprio perfil na plataforma X, Prevost repreendeu Vance em fevereiro e retuitou uma postagem criticando Trump em abril.
Por outro lado, muitos descreveram o agora papa Leão 14 como um progressista e “um homem moderado e iluminado”.
Como nas plataformas americanas, já são oferecidos resultados de inteligência artificial aos usuários, no caso, um perfil de Prevost composto pelo modelo mais recente da DeepSeek, R1. Trechos:
“Como representante dos reformistas, ele mantém a linha de abertura de Francisco. Apoia proteção ambiental, direitos dos imigrantes e preocupação com a pobreza. Defende o avanço nos papéis das mulheres na administração da igreja. É moderado sobre assuntos LGBTQ+ e defende o diálogo inclusivo.”
O R1 anotou que “alguns internautas questionaram a influência dos Estados Unidos no Vaticano” e que “a derrota de candidatos das Filipinas e de Gana também abriu uma discussão sobre o equilíbrio de poder na igreja globalizada”.
Um dos desafios de Leão 14, encerrou a IA chinesa, será “lidar com o impacto da secularização global sobre a influência católica”.