PEDRO S. TEIXEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A isenção de impostos para compra de equipamentos de computação usados em data centers, anunciada pelo ministro Fernando Haddad na segunda-feira (5), não basta para atrair investimentos das empresas de tecnologia, disse à Folha de S.Paulo o presidente da IDCA (Autoridade Internacional de Data Centers), Mehdi Paryavi.
De acordo com o executivo, o país precisa construir uma imagem de “potência digital”, promovendo políticas de fomento ao investimento, com um portfólio claro dos recursos energéticos disponíveis e garantindo um arcabouço legal flexível e seguro para os negócios digitais.
O setor de data centers já criticou, por exemplo, trechos do projeto de lei de regulação de inteligência artificial (IA) que determinavam a remuneração pelo uso de dados protegidos por direitos autorais no desenvolvimento de modelos de linguagem.
“Para os hyperscalers [jargão para os gigantes da tecnologia], a previsibilidade é mais importante do que incentivos financeiros isolados”, diz Paryavi, cuja associação reúne representantes de Google, Amazon, Microsoft e Roblox.
Os ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, da Ciência, Tecnologia e Inovação, das Minas e Energia, das Telecomunicações e da Gestão trabalham em uma medida tributária para desonerar as empresas de data centers, visando ao desenvolvimento da cadeia produtiva no país.
A Fazenda estima que a política possa atrair R$ 2 trilhões em investimentos no período de dez anos. Empresas brasileiras de data centers estimam que recursos nessa ordem representariam uma expansão de 8 gigawatts na capacidade instalada do país, atualmente em torno de 1 gigawatt.
Hoje, 40% dos aplicativos e recursos digitais brasileiros recorrem a data centers no exterior, seja por falta de infraestrutura em pontos afastados do país, seja pelo menor custo nos Estados Unidos.
Contratar data centers nos estados americanos de Oregon, Virginia e Texas pode ser até 40% mais barato do que um provedor brasileiro.
As vantagens tributárias mencionadas por Haddad resolveriam a questão do preço. “Se eu puder fabricar ou processar dados em um data center, em Recife, ou em São Paulo, ou Brasília, em algum lugar no Brasil, com um custo menor do que posso produzir no Texas, eu vou mover meus processos de fabricação de dados para o Brasil porque faz sentido -é como produzir mesas, cadeiras e carros na China”, afirma Paryavi.
Hoje, a maior potência de data centers é os Estados Unidos, que concentra cerca de 60% do consumo mundial de eletricidade com processamento de dados, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA). Além do Brasil, outros países em desenvolvimento, como Índia, Tailândia, Cazaquistão e Emirados Árabes Unidos, querem entrar no mercado com a promessa de uma vasta oferta de eletricidade barata.
De acordo com o governo, o Brasil tem como vantagens estratégicas a matriz energética limpa e condições geográficas favoráveis -é pouco vulnerável a desastres climáticos e está próximo dos Estados Unidos.
Para o executivo, a Índia é um dos países que está mais adiantado nessa corrida. A política do governo Narendra Modi para inteligência artificial, que inclui investimentos de US$ 1,1 bilhão em infraestrutura e o desenvolvimento de tecnologia própria, serve de exemplo para os concorrentes.
A Europa, avalia o presidente da IDCA, estaria em desvantagem, por ter recursos escassos, mão de obra cara e um arcabouço regulatório mais rígido.
O tempo para o Brasil se posicionar na competição é curto, segundo Paryavi. “Há uma janela de oportunidade crucial nos próximos 18 meses para atrair investimentos, e perder essa janela significa perder vantagens econômicas.”