MARCELO TOLEDO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS)
A comercialização de gado de elite durante a Expozebu, principal evento da pecuária nacional, bateu recorde neste ano e alcançou R$ 200 milhões em negócios fechados em 39 leilões.
Realizada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, a exposição chegou neste ano à 90ª edição num momento de alta da pecuária e reuniu associações e políticos ligados ao agro nos seus nove dias de realização.
O volume de negócios nos leilões realizados neste ano supera em 3,44% os R$ 193,34 milhões gerados (valor atualizado pela inflação medida pelo IPCA) nos eventos do tipo na edição do ano passado, de acordo com a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), centenária instituição que organiza o evento da pecuária.
Em valores nominais, em 2024 foram amealhados R$ 184 milhões nos leilões, o que aponta alta de 11% neste ano. O número de eventos também subiu, de 38 para 39.
Ao contrário do que ocorreu em anos anteriores, não houve um animal arrematado por cifras milionárias, o que significa que o preço médio por cabeça de gado negociada nos eventos de arremates superou o resultado dos últimos anos.
Encerrada neste domingo (4), a Expozebu foi realizada com a cotação do boi em alta, com a arroba valendo R$ 318,85, segundo o Cepea, da Esalq/USP, ante os R$ 231,10 de um ano antes.
Além de as receitas com os leilões crescerem -são realizados fora do parque Fernando Costa, que abriga a exposição-, o total de animais que passaram pelos pavilhões do espaço cresceu 20% e chegou a 2.500 neste ano. Incluindo os animais que participaram de julgamentos e leilões, foram cerca de 4.000.
Hoje, 8 em cada 10 cabeças de gado do país são de raças zebuínas (nelore, gir, guzerá, brahman, indubrasil, sindi, cangaian e tabapuã), de forma pura ou cruzada. O zebu deu muito certo no Brasil por ser de fácil adaptação aos diferentes biomas e atender expectativas dos produtores em relação à genética, com multiplicação e crescimento satisfatórios, tanto para carne quanto para leite, segundo especialistas.
A avaliação do superintendente técnico da associação, Luiz Antônio Josahkian, é a de que o gado brasileiro avançou muito nas últimas décadas e colocou o país num patamar mais elevado globalmente.
“Já temos um banco de dados genotípico muito expressivo e isso, junto com os programas de melhoramento mais tradicionais, colocam a gente em outro patamar”, afirmou.
Segundo ele, a Colômbia é um país que tem mostrado avanços em melhoramento genético e tem um programa bem estabelecido, seguido por Estados Unidos.
Os avanços genéticos fizeram o peso médio do gado abatido saltar mais de 14% em duas décadas, enquanto o peso dos bezerros desmamados avançou 12% em dez anos.
Ao mesmo tempo, a produção de carne por hectare cresceu 36% e o Brasil tem vacas entre as mais valorizadas do planeta, inclusive a recordista mundial.
O melhoramento tem como objetivo permitir que os animais tenham combinações genéticas mais benéficas para que a produtividade e, consequentemente, o ganho financeiro, sejam maiores.
Isso é feito por meio da seleção -escolha das melhores matrizes e touros que serão os pais da geração seguinte- e também por meio do cruzamento entre animais de raças diferentes.
Foi com base nesses cruzamentos que os animais passaram a ter ganhos em seu peso, com mais rapidez para irem ao abate e gerando mais lucro aos pecuaristas.
Em novembro, a comercialização de 25% dos direitos de uma vaca por R$ 6,015 milhões num leilão a colocou como a mais cara já negociada no mundo, com um valor total projetado em R$ 24,06 milhões.
A vaca Carina FIV do Kado é vista como a mais importante matriz nelore no milionário mercado de gado de elite, superando Viatina-19 GIV Mara Móveis, que está no Guinness Book, o livro dos recordes, por ter tido seu valor projetado em R$ 21 milhões num leilão no primeiro semestre de 2024.
O valor obtido nos leilões, divulgado pela ABCZ na tarde desta segunda-feira (5), não inclui os nove shoppings de animais realizados no período.