Dólar e Bolsa fecham em queda com pressão dos EUA e do mercado de commodities

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar fechou em queda de 0,10% nesta quarta-feira (23), a R$ 5,690, com o mercado atento às eleições presidenciais dos Estados Unidos e às projeções de cortes de juros mais graduais pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).

Já a Bolsa caiu 0,55%, aos 129.233 pontos, pressionada pela queda da Vale e da Petrobras.

A expectativa pelo fim da corrida pela Casa Branca está instalada nos mercados globais. No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida -assim como a agenda econômica que irá pautar os Estados Unidos pelos próximos quatro anos.

Nos últimos dias, as apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição têm aumentado de forma significativa na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.

Agora, as chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 64%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 36%.

A possibilidade de uma vitória do candidato republicano fez o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.

As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo -algo positivo para o dólar.

“O debate sobre a eleição dos EUA está ficando cada vez mais aquecido. Há muita apreensão sobre o vencedor. Trump tem ganhado espaço nas pesquisas e uma política protecionista e expansionista fortalecem o dólar”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed, que se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.

Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.

O Livro Bege ainda indicou que a atividade econômica dos EUA ficou quase estável de setembro até o início de outubro, enquanto empresas observaram um aumento nas contratações. O relatório do Fed apontou também que as pressões inflacionárias continuaram a se moderar.

As leituras endossaram as apostas de corte gradual. Na ferramenta Fed Watch, do CME, uma redução de 0,25 ponto percentual tinha 88,8% de probabilidade, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 11,2% restantes.

Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.

No entanto, falas de Paulo Pichetti, diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC (Banco Central), trouxeram alívio à moeda brasileira, na contramão das outras divisas.

“O diretor destacou a desancoragem das expectativas de inflação e o ritmo da atividade econômica nacional, ressaltando preocupações do BC com o comportamento recente da inflação. Isso renovou as expectativas de que o BC adotará uma postura mais “agressiva” em novembro, optando por um aumento de juros mais intenso, de 0,50 ponto percentual”, diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

O dia ainda foi de queda de commodities importantes no mercado global. Na Bolsa de Dalian, o minério de ferro caiu 1,91%, refletindo temores de demanda fraca e de recuperação lenta da economia da China.

O petróleo Brent, por sua vez, teve queda de 1,09%, com operadores à espera de mais desdobramentos dos conflitos do Oriente Médio.

Na Bolsa brasileira, isso se refletia em pressão para as ações da Vale e da Petrobras, as duas empresas de maior peso no índice. A mineradora tinha queda de 1,75%; a petroleira, de 1,24%.

Ainda na cena doméstica, investidores seguiram ressabiados com a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em relatório divulgado nesta quarta, o FMI (Fundo Monetário Internacional) piorou a projeção para o déficit primário e para a trajetória da dívida pública da economia brasileira nos próximos anos.

O fundo adiou a previsão de equilíbrio das contas do governo em um ano a despeito de uma ligeira melhora para o déficit de 2024, que saiu de 0,6% para 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

No último Monitor Fiscal, divulgado em abril, a estimativa de déficit era de 0,3% para 2025 e um equilíbrio nas contas públicas, com déficit zero, a partir de 2026. Agora, o FMI projeta resultado negativo de 0,7% e 0,6%, respectivamente, com o equilíbrio ficando para 2027.

O mercado espera ajustes na ponta da despesas, na expectativa por equilíbrio fiscal de longo prazo.

Planos de corte de gastos, anunciados na semana passada pela ministra Simone Tebet (Planejamento) e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), devem ser detalhados após o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro.

Na análise de Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital, “o mercado quer saber o que vai ser cortado, se será um corte temporário ou algo mais estrutural, e isso vem se refletindo na nossa curva de juros e no dólar, que seguem estressados”.

“Um número acima de R$ 40 bilhões em cortes estruturais pode refletir positivamente no nosso mercado. Já um número abaixo pode causar maior estresse na nossa curva de juros e no dólar.”

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