
(Foto: Donald Tong/Pexels)
O Brasil já teve seus empresários donos da imprensa fixando a linha política do país. Basta lembrar dos nomes de Adolph Bloch com Manchete e de Victor Civita com a Editora Abril. O panorama midiático da França mostra uma situação semelhante com o surgimento recente de um magnata da imprensa, cujas compras e controle de jornais, revistas e canais de televisão têm o objetivo de influenciar na formação da opinião do eleitorado francês.
Trata-se de um industrial e homem de negócios bretão, Vincent Bolloré, com um objetivo democrata-cristão, mas cujas diretrizes aplicadas nos seus grupos de imprensa e edição vão na direção da extrema direita de Marine Le Pen e seu escolhido Jordan Bardella.
Suas primeiras medidas ao adquirir ou se tornar majoritário num órgão de imprensa são sempre demitir os redatores considerados com tendência de esquerda e acabar com os programas humorísticos ou não de análise e crítica política existentes.
Uma de suas iniciativas é bem atual: seu canal de televisão CNews vem promovendo o cardeal guineense Robert Sarah, considerado ultraconservador e reacionário, como o melhor nome para suceder ao Papa Francisco no Conclave, com início no próximo dia 7.
Essa campanha não tem possibilidade de sucesso. Entretanto, Bolloré está jogando pesado numa vitória do Rassemblement National, (partido de extrema direita) nas eleições presidenciais de 2027, na sucessão de Emmanuel Macron. Se apesar do recurso apresentado à Justiça Marine Le Pen continuar inelegível, Vincent Bolloré utilizará seu enorme aparelho midiático em favor de Jordan Bardella.
Como se não bastasse sua coleção de jornais, revistas, canais de TV e editoras, Vincent Bolloré liderou um grupo de investidores na compra da Escola Superior de Jornalismo de Paris, o que levou a um manifesto assinado por 650 estudantes de jornalismo, no qual denunciam “uma nova expressão da subordinação da independência jornalística a interesses econômicos, políticos e ideológicos”.
O grupo de investidores inclui os proprietários dos principais jornais franceses: Vincent Bolloré (Canal+, Europe 1, CNews, Le Journal du Dimanche etc.), Bernard Arnaud (Parisien, Echos, Paris Match), Rodolphe Saadé (BFMTV, La Provence), a família Habert-Dassault (Le Figaro).
Os autores do manifesto acentuam que “esse ataque à mais velha escola de jornalismo do mundo é um ataque contra a profissão e isso desde sua formação”. “Haverá agora o respeito à deontologia jornalística, ao aprendizado da profissão e ao seu exercício?”, perguntam os estudantes.
E acrescentam: essa intrusão visa utilizar a mídia para assegurar um projeto político conservador e reacionário. De acordo com o jornal Libération, oito bilionários e dois milionários controlam 81% da difusão dos jornais diários nacionais. Cinco bilionários possuem 57% das audiências dos canais de televisão e 47% das rádios nacionais. “Como garantir uma formação de qualidade, completa, livre, independente e pluralista?”, perguntam os estudantes.
Referências
https://www.nouvelobs.com/medias/20250122.OBS99323/nous-etudiantes-et-etudiants-en-journalisme-appelons-a-un-sursaut-pour-proteger-l-independance-des-medias.html
https://www.humanite.fr/monde/eglise-catholique/mort-du-pape-francois-qui-est-robert-sarah-le-digne-heritier-de-linquisition
https://lareleveetlapeste.fr/les-medias-de-bollore-utilisent-leur-influence-pour-faciliter-larrivee-du-rn-au-pouvoir/
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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
O post Bolloré, o magnata da imprensa francesa apareceu primeiro em Observatório da Imprensa.