RICARDO DELLA COLETTA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse nesta terça-feira (29) não ter dúvidas de que o processo de expansão do Brics será retomado “muito em breve” e afirmou que os membros associados terão prioridade para se juntarem integralmente ao bloco.
Nos últimos dois dias, Lavrov participou de uma reunião com os demais ministros das Relações Exteriores do Brics no Rio de Janeiro. O grupo atualmente é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Além dessas nações, em 2024 foram incorporados como parceiros -ou seja, com um status menor- Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
“Foi decidido que tomaríamos uma pequena pausa na expansão para que pudéssemos acomodar a nova composição do Brics e o grupo pudesse transitar de forma suave para a nova situação”, disse Lavrov em uma entrevista coletiva. “O entendimento é que os países parceiros serão candidatos prioritários para serem membros planos. Não tenho dúvidas de que o processo de expansão será retomado muito em breve.”
Embora a expansão tenha criado um bloco para quase metade da população mundial e 37% do PIB, a presença de países com posições diferentes sobre temas geopolíticos causou um cenário desafiador para o Brasil, que neste ano exerce a Presidência.
Na terça, os países membros não conseguiram chegar a um acordo para a publicação de um documento oficial por causa de uma disputa regional entre países africanos sobre qual deveria ser a linguagem do Brics para uma possível reforma do Conselho de Segurança da ONU.
O órgão tem 15 membros, dos quais dez cumprem mandatos de dois anos e cinco são permanentes e têm poder de veto -Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia.
O bloqueio ocorreu depois que o governo Lula propôs incluir no texto final uma menção específica à aspiração brasileira de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A ideia era retomar um texto acordado em 2023, quando o Brics passou por uma expansão, que também citava os pleitos de Índia e África do Sul.
Egito e Etiópia foram contra. Esses dois países resistiram a endossar um documento que privilegiasse pleitos dos membros antigos do grupo em detrimento dos novos. A menção específica à África do Sul era o principal problema para eles, uma vez que isso entraria em choque com uma posição sobre reforma da ONU já acordada no âmbito da União Africana (chamado de Consenso de Ezulwini).
Na terça, Lavrov abordou o tema e disse que o principal objetivo era confirmar as aspirações dos países em desenvolvimento a ter um papel mais ativo no conselho, e que isso pode ser feito de várias maneiras.