FÁBIO PUPO E ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A concentração bancária no país inverteu a trajetória de queda registrada em pelo menos três anos consecutivos e subiu ao fim de 2024, consolidando o domínio das quatro maiores instituições financeiras sobre mais da metade do mercado. Banco do Brasil, Caixa, Itaú Unibanco e Bradesco são responsáveis, juntos, por 57,9% das operações de crédito do país.
Os dados, referentes ao fim do ano de 2024, estão em relatório do Banco Central divulgado nesta terça-feira (29). Um ano antes, a participação dos quatro maiores bancos era de 57,8%.
Apesar do aumento leve, de 0,1 ponto percentual, o movimento vai na direção contrária ao discurso do Banco Central sobre a necessidade de aumento da concorrência no setor. O estímulo à maior competição faz parte das diretrizes da agenda do BC há anos.
O nível de concentração permanece particularmente elevado nos financiamentos rurais e do agronegócio, nos financiamentos habitacionais e nos financiamentos de infraestrutura e desenvolvimento.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que a instituição dificilmente fica satisfeita com indicadores a ponto de não ver necessidade de ação para melhorá-los. Segundo ele, a ampliação da competição é uma meta contínua.
“O BC raramente está satisfeito com algum tipo de indicador”, disse. “Está sempre buscando melhorar, evoluir e produzir melhores resultados para a sociedade. Esse é o objetivo aqui do BC. É uma agenda de longo prazo, de aumentar a competitividade e fazer inovações”, disse.
Ele disse que a autoridade monetária tem conduzido trabalhos pela desconcentração do setor, sendo inclusive chamada por pares internacionais para discutir o assunto, e citou a importância de atuar em frentes como a melhoria de financiamento para o crédito imobiliário.
“É absolutamente normal que, em qualquer tipo de processo, a gente vá fazendo ajustes conforme as coisas vão vir. Isso é um processo de qualquer empresa, devia ser de qualquer pessoa também.
Você vai observando como aquilo vai ocorrendo na prática e vai produzindo esses ajustes”, afirmou.
Os relatórios anuais apontam também que esse é o primeiro aumento desde que a chamada RC4 (Razão de Concentração dos Quatro Maiores) foi adotada pela autoridade monetária como substituição à RC5 (que se referia aos cinco maiores e incluía, até então, o Santander). Em 2019, ano de estreia do indicador, o número era de 60,6%.
Os números foram registrados sob a gestão do então presidente do BC Roberto Campos Neto (indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro). Nos anos anteriores de seu mandato, o percentual vinha caindo gradualmente.
A maior concentração é registrada após um ano em que o BC aprovou, sem restrições, oito atos de concentração (quando uma empresa compra outra, por exemplo, ou há outro tipo de negociação entre duas companhias que acabe potencialmente concentrando mais o mercado).
Três desses atos analisados envolveram diretamente pelo menos um banco. Entre eles, um acordo de investimento entre o Bradesco e o banco John Deere.
O BC destaca também o nível de concentração nos mercados de corretagem (ações e mercadorias e futuros) e de distribuição de produtos de investimento, que tiveram aumento em 2024 -embora a autoridade monetária considere esses segmentos desconcentrados ou moderadamente concentrados .Mesmo com os valores, o BC destaca no relatório que houve avanços citando a queda da RC4 de 57,9% para 57,1% em depósitos totais e dizendo que a concentração apresentou “redução ou estabilidade”.
A autoridade monetária também cita movimentos como o aumento do número de instituições financeiras atuantes em capital de giro, crédito pessoal sem consignação e cheque especial.
Procurada, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que as instituições do setor estão experimentando uma competição acirrada nos últimos anos, especialmente no mercado de crédito.
“Se não tivesse concorrência, os bancos deveriam apresentar lucros exagerados, ou fora da normalidade, em comparação com outros setores. Não é o que ocorre”, afirma a instituição.
De acordo com a Febraban, os maiores bancos brasileiros não são os mais rentáveis quando comparados com pares internacionais. “Na média entre 2019 a 2023, os maiores bancos brasileiros tiveram retorno de 17,7%, abaixo dos maiores bancos da Argentina (19,3%), Peru (18,7%) e México (18,3%), por exemplo”, diz a entidade, em nota.