CLAYTON CASTELANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A vereadora Cris Monteiro (Novo) fez uma declaração considerada racista por servidores municipais que protestavam na Câmara de São Paulo nesta terça-feira (29) contra a proposta de reajuste salarial do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Após ser interrompida por vaias de funcionários públicos que acompanhavam a sessão na galeria, a vereadora afirmou que incomodava o grupo por ser “uma mulher branca, bonita e rica”. Alguns dos manifestantes eram pardos e pretos.
“Quando vocês [vereadores de oposição] falaram, ninguém [nas galerias] se manifestou. Agora, quando vem uma mulher branca aqui falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Por quê? Por que uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês, mas eu estou aqui representando uma parte importante da população que me elegeu”, disse Cris Monteiro, que faz parte da base de apoio de Nunes.
A fala provocou intensa discussão entre os vereadores e a sessão foi interrompida por alguns minutos. No retorno, a vereadora pediu desculpas pela fala. O presidente da Câmara, vereador Ricardo Teixeira (União Brasil), afirmou que a fala foi analisada e que ele considerou que não houve racismo.
Mais adiante, os vereadores Rubinho Nunes (União) e Toninho Vespoli (PSOL) trocaram agressões. Rubinho tentou tirar um cartaz das mãos de Vespoli, que o puxou de volta e bateu com o papel nas costas de Rubinho. O cartaz dizia “vagabundagem é vereador que quer lacrar na internet”.
Ao longo da sessão, diversos vereadores favoráveis à proposta governista chamaram professores, que estão em greve, de vagabundos.
Houve ainda um princípio de tumulto do lado de fora da Câmara e policiais usaram gás de pimenta contra manifestantes.
Os vereadores de São Paulo discutem nesta terça um projeto que reajusta em 5,2% os salários dos servidores municipais em 2025. Pela proposta, o índice será aplicado em duas parcelas, sendo a primeira de 2,6% em maio deste ano e, a segunda, de 2,55% em maio do ano que vem.
O mesmo índice será aplicado a reajustes do auxílio-refeição e do vale-alimentação, assim como os vencimentos dos servidores comissionados, aposentados e pensionistas. A estimativa da prefeitura é que o reajuste acrescente R$ 1,2 bilhão em pagamentos de salários.
O Sindsep, que é o sindicato dos servidores municipais, alega que, na prática, a reposição neste ano será de apenas 2,6% -metade da inflação de 5,2% apurada pelo IPC-Fipe entre março de 2024 e março de 2025, data-base da categoria.
Já a gestão a gestão Nunes afirma estar aplicando a inflação. Especificamente sobre os professores municipais, a prefeitura diz que a categoria recebeu aumento de até 45% em 2024, quando o salário inicial de docentes em regime de 40 horas passou de R$ 3.832,37, em 2021, para R$ 5.533,09.
O Sinpeem, sindicato dos profissionais da educação, reclama que o índice foi aplicado como abono apenas para profissionais que recebem o piso. Eles pedem incorporação do índice para toda a categoria.
A votação, em segundo e definitivo turno, ocorre sob protestos de uma multidão de funcionários públicos municipais. Os manifestantes ocupam todas as faixas do viaduto Jacareí, em frente ao prédio da Câmara Municipal. O trânsito de veículos foi desviado para os arredores.