Histórico opositor José Daniel Ferrer volta a ser detido em Cuba

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Dois dissidentes cubanos, entre eles o histórico opositor José Daniel Ferrer, voltaram a ser detidos nesta terça-feira (29), após a revogação da liberdade condicional que lhes foi concedida em janeiro, uma decisão que Washington condenou em duros termos.

Ferrer, de 54 anos, líder da União Patriótica de Cuba (Unpacu), e Félix Navarro, de 72, faziam parte do grupo de 553 presos libertados em janeiro como parte de um acordo entre Cuba e o Vaticano, após a decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de retirar a ilha da lista de países patrocinadores do terrorismo.

Ao retornar à Casa Branca, Donald Trump voltou a incluir Cuba na lista.

A Justiça revogou “a liberdade condicional” a Ferrer e Navarro, pois “não cumpriram o que está estabelecido na lei durante o período probatório ao qual estavam sujeitos”, afirmou o tribunal em um comunicado enviado à imprensa, sem especificar o local de detenção dos dois opositores.

Ao reagir à revogação da liberdade condicional de ambos, nesta terça-feira, o Departamento de Estado americano condenou “duramente o tratamento brutal e a detenção injusta” de “patriotas cubanos”.

“Pedimos a libertação imediata das centenas de presos políticos e de consciência detidos injustamente”, acrescentou a porta-voz Tammy Bruce em coletiva de imprensa.

Ferrer, fervoroso defensor da luta pacífica por uma mudança democrática em Cuba, tinha sido libertado em 16 de janeiro e Navarro, dois dias depois.

Na rede social X, a irmã do dissidente, Ana Belkis Ferrer, que mora nos Estados Unidos, afirmou que, pela manhã, as forças de segurança “invadiram a sede principal da Unpacu”, instalada na casa do dissidente em Santiago de Cuba, 900 km a leste de Havana, e “levaram” Ferrer, sua esposa Nelva Ortega, seu filho e vários ativistas de sua organização.

 

– ‘Desafio flagrante’ –

 

Em seu comunicado, o tribunal ressaltou que Ferrer não só não foi a duas audiências judiciais às quais tinha sido convocado, “como divulgou, através de seu perfil nas redes sociais, em desafio flagrante e descumprimento da lei, que não compareceria perante a autoridade”.

Ferrer foi preso em 11 de julho de 2021, dia em que tentou participar das manifestações antigovernamentais que abalaram o país, as maiores registradas desde o triunfo da revolução, em 1959.

Um mês depois, um tribunal revogou sua liberdade condicional e o mandou de volta à prisão para cumprir uma pena de quatro anos e meio à qual havia sido condenado em 2020 pelo atropelamento de um homem, o que ele nega.

Desde a sua libertação, Ferrer desafiou repetidamente as autoridades criticando o governo nas redes sociais. Também montou um refeitório em sua casa em Santiago de Cuba para acolher pessoas necessitadas, financiado por cubanos residentes no exterior.

Segundo ele, as autoridades não apreciam seu ativismo social porque evidencia a pobreza existente no país.

 

– ‘Vínculos’ com os EUA –

 

Navarro, libertado em 18 de janeiro em virtude do acordo com o Vaticano, teve a liberdade condicional revogada porque, “em franco desrespeito à lei, em sete ocasiões saiu de seu município, sem solicitar autorização”, segundo o Tribunal Supremo.

José Daniel Ferrer e Félix Navarro faziam parte dos 75 presos políticos detidos em 2003 durante a chamada “Primavera Negra”, a maior onda repressiva contra a dissidência sob o governo de Fidel Castro.

Em seu comunicado, o Tribunal Supremo também denunciou que os dois dissidentes “mantêm vínculos públicos com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Cuba”, Mike Hammer, que assumiu o cargo em novembro de 2024.

Desde janeiro, Hammer visitou vários dissidentes em diferentes províncias do país, entre eles Ferrer e Navarro.

“Cuba tem o direito de se proteger da agressão americana, a se opor a que o chefe da diplomacia americana em Havana seja um ativista que incentiva os cubanos a agirem contra seu país, a aplicar leis contra aqueles que atuam como agentes de uma potência estrangeira hostil? Essa é a questão”, destacou na rede X o vice-ministro cubano das Relações Exteriores, Carlos Fernández de Cossío.

Em nota, o Conselho para a Transição Democrática em Cuba, uma plataforma que reúne várias organizações opositoras, denunciou “uma operação coordenada por parte da Segurança do Estado, dirigida a neutralizar dois dos líderes mais importantes do movimento dissidente cubano”.

Cuba nega a existência de presos políticos e acusa seus opositores de serem “mercenários” dos Estados Unidos.

 

© Agence France-Presse

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