A Sociedade Brasileira de Diabete (SBD) atualizou as diretrizes para o rastreamento e diagnóstico do tipo 2 da doença no País. O documento, publicado na revista Diabetology & Metabolic Syndrome, amplia o público-alvo da triagem, inclui alertas para crianças e adolescentes e propõe mudanças nos testes laboratoriais utilizados.
Uma das principais novidades é a redução da idade inicial para rastreamento da doença na população geral. “Antigamente, o rastreamento era recomendado a partir dos 45 anos. Antes dessa idade, apenas em pessoas com fatores de risco”, afirma a endocrinologista Melanie Rodacki, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e integrante da SBD. “Agora, a indicação é iniciar a triagem a partir dos 35 anos, estendendo-se também a indivíduos mais jovens que apresentem fatores de risco, como o excesso de peso.”
De acordo com a professora, a mudança na idade acontece pelo aumento de registros da doença em adultos mais jovens. “Nessa faixa etária, já ocorre uma alteração nos níveis de glicose, o que torna os pacientes menos protegidos. Isso é influenciado por fatores como obesidade, sedentarismo e estilo de vida. Mas hábitos mais saudáveis e uma alimentação balanceada podem oferecer maior proteção”, explica. “Esse movimento foi iniciado na Sociedade Americana de Diabete e nós incorporamos essa recomendação neste ano.”
Um ponto de destaque é que, de acordo com o Atlas de Diabete da Federação Internacional de Diabete (IDF), quase 45% dos adultos vivendo com a doença desconhecem que possuem a condição. No Brasil, esse número fica em aproximadamente 30%.
Diante do subdiagnóstico, Melanie afirma que o rastreamento pode mudar a história natural do paciente. “Caso ele seja diagnosticado com diabete ou pré-diabete, poderemos adotar condutas que ajudarão a prevenir as complicações da doença.”
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Os índices do tipo 2 também vêm crescendo entre crianças e adolescentes, principalmente por causa do consumo de produtos ultraprocessados e pouco exercício físico. Diante dessa situação, a nova diretriz também traz recomendações para o público a partir dos 10 anos de idade.
“Crianças com excesso de peso, sedentarismo e histórico familiar com a doença também têm indicação de rastreamento, e adultos mais jovens do que 35 anos também”, afirma Melanie. São fatores de alerta: história familiar de diabete tipo 2 em parente de primeiro grau; antecedente de doença cardiovascular; hipertensão arterial; HDL abaixo de 35 mg/dl; triglicerídeos acima de 250 mg/dl; síndrome do ovário policístico; acantose nigricans (doença de pele caracterizada por manchas escuras); sedentarismo; diabete gestacional prévio ou recém-nascido grande para idade gestacional; pontuação alta ou muito alta no escore de risco para diabete (FINDRISC).
MONITORAMENTO
O documento também define um cronograma de reavaliação para os pacientes. Pessoas com exames normais e baixo risco devem repetir a triagem a cada três anos. Já aqueles com pré-diabete ou múltiplos fatores de risco devem ser reavaliados anualmente.
A nova diretriz ainda incorpora o teste de tolerância por via oral, com uma hora de duração, como método preferencial para detectar a doença. “O teste é mais barato, mais fácil e detecta de forma mais sensível quem tem pré-diabete e pode evoluir para diabete”, diz a professora.
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