“Mais do que uma seleção de receitas à base de peixes de rio, este e-book é um registro da cultura alimentar como importante elemento da formação da identidade sul-mineira.
É resultado de uma expedição que buscou valorizar, preservar e promover a gastronomia regional, destacando saberes e tradições culinárias de populações ribeirinhas, especialmente dos municípios de Pouso Alegre, Silvianópolis, Paraguaçu e Careaçu.”

Capa do e-Book
Esse texto está na apresentação do e-book, resultado de uma expedição culinária, projeto de autoria da jornalista Ana Beraldo e do turismólogo Rafael Huhn, com lançamento neste domingo – 27 de abril – na Flipoços – Feira Literária Internacional de Poços de Caldas. A apresentação está inserida em um dos paineis do Ciclo Comida Mineira, com coordenação da Frente da Gastronomia Mineira e do Circuito Turístico Caminhos Gerais.
O projeto foi viabilizado com patrocínio da Lei Paulo Gustavo, Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Ministério da Cultura.
A FALA DOS AUTORES
Ana Beraldo conta que o projeto foi gestado a partir de sua vivência, quando criança, nas proximidades do rio Sapucaí. “Desses tempos, minha memória afetiva quase sempre me transporta para o cuscuz de mandi que minha mãe fazia. A receita era saborosa, mas o mais marcante era o modo de preparo – um ritual ao mesmo tempo simples e complexo, sob o olhar curioso dos filhos.”
E continua: “A receita de cuscuz não foi escolhida apenas para compor o e-book. Ela foi a inspiração para este projeto construído por mim e Rafael Huhn, que também tem raízes ancestrais nesse universo rural. E a significância de tudo isso é minha mãe, Suzana! Aos 85 anos, ela continua sua lida laboriosa, serena, risonha e resiliente”.
Rafael Huhn, também pesquisador da culinária mineira, tem uma relação afetiva com o campo. Passava suas férias no sítio dos avós, no bairro Cristal, em Pouso Alegre, próximo ao rio Sapucaí. O ensopado de mandi, de autoria de sua avó Alice Huhn, que integra as receitas deste e-book, faz parte de suas memórias olfativas desses tempos. Relata ele: “A relação da minha avó Alice com a roça, o fogão, o forno, as quitandas, os quitutes e, sobretudo, com as comidas de mutirão, nasce da paixão do meu avô Júlio Huhn com a roça e seu jeito de ser.

Alice Huhn, autora da receita Ensopado de Mandi
O ensopado de mandi nasce dessa relação, da família de muitos filhos, poucos mantimentos em casa e da fartura do peixe, que em período de enchente se tornava ainda mais abundante”.
Para encerrar, ele faz uma homenagem a sua avó e a todas mulheres: “Dizem que cozinhar é um ato de amor. Digo mais: combater as dificuldades da roça e criar cinco filhos na fartura é só para quem realmente sabe. Minas Gerais precisa se curvar a elas, nossas mulheres, mães e avós. A cozinha de Minas é delas… das nossas mulheres!”.