JOÃO GABRIEL, VICTORIA AZEVEDO E MARIANA BRASIL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A prisão de Fernando Collor, nesta sexta-feira (25), foi comemorada por lulistas e ironizada por bolsonaristas.
Aliados do presidente Lula (PT) aproveitaram a ocasião para relembrar que Collor, antigo adversário político dos petistas, apoiou Jair Bolsonaro (PL) durante as eleições de 2022.
Já bolsonaristas ironizaram o fato de que a prisão acontece como desdobramento da Lava Jato, investigação que chegou a levar Lula à prisão e da qual os petistas são críticos frequentes.
Collor foi condenado pelo Supremo em maio de 2023 pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Segundo a condenação, o ex-presidente influenciou o comando e as diretorias da BR Distribuidora, de 2010 a 2014, período das gestões petistas Lula e Dilma Rousseff quando ele era senador, para garantir a assinatura de contratos da estatal com a construtora UTC. Em troca, Collor teria recebido R$ 20 milhões.
Sua condenação foi um dos desdobramentos justamente da Lava Jato, mas as provas deste caso não foram anuladas pelo STF.
O ex-presidente foi preso nesta sexta em Maceió (AL) após o ministro Alexandre de Moraes negar os últimos recursos apresentados pela sua defesa e a de outros réus condenados.
O julgamento do caso no plenário do Supremo já tem quatro votos para manter a decisão de Moraes, mas foi suspenso pelo ministro Gilmar Mendes.
Os deputados Bohn Gass (PT-RS) e Carlos Zarattini (PT-SP), ambos que tem cargo de vice-líder do governo, publicaram textos sobre a prisão com uma foto de Collor e Bolsonaro juntos.
Nomes da base do governo Lula aproveitaram a ocasião para lembrar que o mais recente ex-presidente do Brasil é réu em uma investigação que também corre no STF -neste caso, pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Já Erika Kokay (PT-DF) postou um vídeo de ex-presidente, agora preso, gritando o nome de Bolsonaro, em um ato eleitoral, e escreveu: “Nos diga, Collor, quem será o próximo?”. Rogério Corrêa (PT-MG) seguiu no mesmo tom.
“Não vamos repetir o erro e deixar o Bolsonaro livre para continuar atentando contra o Brasil”, disse o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP).
“Tchau, querido!”, publicou a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), em referência ao bordão “tchau, querida” utilizado por adversários de Dilma Rousseff (PT) na época de seu impeachment.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) afirmou que “a conta do Collor demorou 35 anos para chegar”.
Petistas e seus aliados, porém, não citam o fato de que a prisão de Collor nesta sexta aconteceu em um processo que é desdobramento da mesma Lava Jato que é duramente criticada por eles.
Já bolsonaristas aproveitaram essa conexão para insinuar, mais uma vez, que o STF age com parcialidade.
“Eu vivi para ver o STF matar a Lava Jato para livrar a cara de todos petistas e agora ressuscitar para prender o Collor, que coincidentemente apoiou Bolsonaro em 2022. É tão escancarado, que virou normal, ninguém se espanta mais com a suruba judicial desse país”, escreveu em publicação nas redes sociais”, disse o ex-líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ).
O senador e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União Brasil – PR) também tratou com ironia das relações políticas de Collor e questionou quem havia permitido o acesso de Collor à BR Distribuidora, numa insinuação de responsabilidade dos governos de Dilma Rousseff e Lula.
A ex-ministra de Bolsonaro e hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF) ironizou o fato de que recentemente o governo Lula concedeu asilo político a Nadine Heredia, esposa do ex-presidente do Peru Ollanta Humala -ambos foram condenados a 15 de prisão em um desdobramento da Lava Jato no exterior.
“Será que o Presidente do Peru enviará uma aeronave da Força Aérea de seu país para buscar o ex-presidente do Brasil Collor de Melo que está com mandando de prisão?”, escreveu.
Políticos de centro ouvidos pela reportagem dizem que causou desconforto a prisão ter ocorrido, segundo eles, de uma hora para outra, apesar de o processo já se arrastar há anos, e afirmam que há um sentimento geral na política contrário ao que classificam como Estado policialesco.
Apesar disso, uma liderança diz que esse caso pouco impacta o cenário político atual, diante da falta de apoio político que o ex-presidente tem hoje.
Outra liderança do centro afirma, porém, que o Supremo cometeria incongruências graves, nas suas palavras, se analisasse até o fim o caso de Bolsonaro sem finalizar antes o de Collor.