NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Marcelo Bacci, afirmou nesta sexta-feira (25) que as condições atuais do mercado impedem que a empresa preveja dividendos extraordinários em 2025.
Segundo ele, a prioridade no momento é reduzir a dívida líquida expandida da companhia dos atuais US$ 18 bilhões para a casa dos US$ 15 bilhões. Depois, a mineradora decidirá o que fazer com eventual sobra de caixa.
“Estamos em um período muito incerto em relação a condições de mercado”, afirmou Bacci, ao ser questionado sobre dividendos em teleconferência com analistas. “Não é momento correto para discutir dividendos extraordinários.”
Bacci destacou que a política de remuneração aos acionistas da companhia prevê a distribuição de 30% da geração de caixa operacional. “Em qualquer cenário, isso vai ser pago. Qualquer valor acima disso vai depender muito do cenário”.
A Vale é conhecida como uma empresa boa pagadora de dividendos -no início do ano, por exemplo, anunciou R$ 9,1 bilhões em remuneração extraordinária sobre o resultado de 2024 e um novo programa de recompra de ações.
A queda do preço do minério e as incertezas sobre o comportamento da economia global após o início da guerra comercial entre Estados Unidos e China, porém, demanda cautela, disse Bacci.
“Estamos, todos nós, jogando na defesa, olhando muito mais para robustez financeira, olhando custos, para nos prepararmos para um eventual problema mais grave no futuro, o que não aconteceu ainda”, afirmou o executivo, em entrevista após a teleconferência.
Bacci disse que as vendas da empresa ainda não foram impactadas pela guerra comercial, já que os Estados Unidos não são relevantes no comércio global e a demanda da China permanece inalterada. Mas a queda de preços afetou fortemente o balanço da empresa no fim de 2024.
Na noite de quinta (24), a Vale anunciou que teve lucro de R$ 8,6 bilhões no primeiro trimestre de 2025. É uma alta de 3% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas, em dólares, moeda em que costuma divulgar os balanços, o resultado foi uma queda de 13%.
Bacci disse não esperar que o minério caia muito além das cotações atuais, em torno dos US$ 100 por barril, porque as condições de oferta e demanda no mundo estão equilibradas. Para analistas do UBS BB, porém, o preço pode chegar a cerca de US$ 85 até o fim do ano.
O banco diz que não está seguro quanto à tese de investimento na companhia e, apesar dos bons números operacionais, mantém recomendação neutra para as ações, que abriram o pregão da B3 em forte queda nesta sexta.
Para o vice-presidente da Vale, preços abaixo dos US$ 90 fechariam minas com custo mais elevado, o que levaria as cotações a subir novamente.
A mineradora tem investido em novos produtos com menor teor de ferro para atender à crescente demanda de siderúrgicas por minério mais barato. Nos próximos 12 meses, pretende lançar um novo produto com esse perfil extraído da mina de Carajás, no Pará, reconhecida pela elevada qualidade do minério.
“A margem dos nossos clientes não está muito elevada e, numa situação com essa, eles buscam muito mais preço do que qualidade”, disse Bacci. “A vantagem da Vale é ter um portfólio flexível, que consegue entregar diversos tipos de qualidade”.