SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar apresenta leve queda nesta quinta-feira (17), com investidores atentos às negociações envolvendo as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O republicano deu início, na véspera, às rodadas de conversa com autoridades das principais economias afetadas pelo tarifaço. Também é destaque a decisão de juros do BCE (Banco Central Europeu).
Às 12h11, a moeda caía 0,14%, cotada a R$ 5,857. Já a Bolsa tinha forte alta de 0,84%, a 129.401 pontos, embalada pelos papéis da Petrobras.
Estados Unidos e Japão sentaram à mesa, na quarta-feira, para discutir as tarifas norte-americanas impostas a produtos japoneses.
Tóquio enviou o ministro da Revitalização Econômica, Ryosei Akazawa, para dar início ao diálogo.
Já Washington foi representada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo representante comercial Jamieson Greer.
Trump também participou das discussões. Segundo ele, houve “grande progresso” e o encontro “foi uma grande honra”, sem fornecer mais detalhes sobre as negociações.
O Japão visa reduzir ou eliminar a tarifa “recíproca” imposta por Trump em 2 de abril, o apelidado “dia da libertação”. A sobretaxa para o país asiático foi de 24%, embora essa cobrança, assim como a maioria das tarifas do republicano, tenha sido suspensa por 90 dias.
Entre as autoridades japonesas, a percepção é de que as discussões “não serão fáceis”.
“Claro, o diálogo daqui para frente não será fácil, mas o presidente Trump expressou seu desejo de dar máxima prioridade às negociações com o Japão”, disse o primeiro-ministro Shigeru Ishiba.
“Reconhecemos que esta rodada de diálogo criou uma base para os próximos passos e apreciamos isso.”
Ishiba reforçou que o país não tem pressa em chegar a um acordo e não planeja fazer grandes concessões. Ele ainda descartou, por enquanto, a possibilidade de contramedidas às tarifas dos EUA.
O governo japonês foi um dos primeiros a iniciar a rodada de negociações com o republicano, e um eventual acordo entre os dois países pode servir de modelo para os demais parceiros comerciais afetados pelo tarifaço.
“Isso anima um pouco os investidores, reduz um pouco a aversão ao risco ao pensar que pode haver uma solução para essa situação”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da Stonex.
Essa perspectiva ainda favorece o dólar em relação ao iene, uma vez que afasta parte da desconfiança recente em relação aos ativos dos EUA.
A moeda norte-americana tem perdido valor em relação às demais, sobretudo as de mercados fortes, desde o anúncio do tarifaço -movimento medido pelo índice DXY, que compara a divisa norte-americana a uma cesta de outras seis pares.
O índice, nesta quinta, apresenta alta de 0,28%, a 99,55. Números abaixo de 100 indicam desvalorização sistêmica do dólar.
“É um movimento típico de perda de credibilidade, que países emergentes sofrem comumente, mas que é raro para os EUA. Isso sugere que a atual incerteza causada pela política tarifária tem tornado os investidores globais receosos com a economia norte-americana, buscando maior liquidez e alternativas ao dólar”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
O receio é que as tarifas afetem profundamente o comércio internacional pela diminuição de fluxos e encarecimento de produtos-chave nas cadeias de abastecimento. Isso poderia trazer um repique para a inflação global e levar algumas das principais economias do mundo, incluindo os Estados Unidos, a uma recessão.
O dólar também espelha a decisão do BCE, que relaxou a política monetária novamente e levou a taxa ao patamar de 2,25%. O aumento do diferencial de juros entre EUA e zona do euro torna a moeda norte-americana mais atraente do que a divisa da União Europeia.
O real, por outro lado, se sustenta no positivo por causa da valorização de mais de 1,80% do petróleo Brent no exterior. A disparada da commodity também favorece os papéis da Petrobras, com os preferenciais e os ordinários em alta de 1,98% e 2,14%, puxando o Ibovespa para cima.
As tensões entre EUA e China ainda estão no radar dos investidores. Nesta semana, a guerra comercial se estendeu para restrições a empresas com negócios relevantes nos dois países.
O governo Trump restringiu a venda de chips H20 da Nvida para a China, em meio a preocupações de que a tecnologia poderia ser “usada ou desviada para um supercomputador chinês”. A empresa alertou que deve deixar de ganhar US$ 5,5 bilhões (R$ 33 bilhões) com a restrição, e as ações tombaram 6,8% na quarta.
O movimento segue uma notícia de que a China havia suspendido a compra de aeronaves da Boeing, ainda não confirmada por Pequim.
As restrições a empresas sucedem a escalada de tarifas protagonizada por ambas as economias. A China agora enfrenta tarifas de até 245%, e os Estados Unidos, de 125%.
Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump está aberto a fazer um acordo comercial com a China, mas Pequim deve dar o primeiro passo.
“A bola está com a China. A China precisa fazer um acordo conosco, nós não precisamos fazer um acordo com eles. O presidente deixou bem claro que está aberto a um acordo com a China.”