Brasil é, até onde sei, um país do Ocidente, diz chanceler

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IGOR GIELOW
KAZAN, RÚSSIA (FOLHAPRESS)

Chefe da delegação brasileira na cúpula do Brics na Rússia, o chanceler Mauro Vieira negou que o grupo tenha um caráter antiocidental exacerbado pelo processo de ampliação que a China incentivou na edição passada do encontro, em 2023 na África do Sul.

Naquela ocasião, a inclusão de última hora do Irã, um dos Grandes Satãs de Washington, foi visto como uma instrumentalização política do grupo. “O Brasil, até onde sei, é um país do Ocidente”, disse Vieira a jornalistas em Kazan. Ele representou o presidente Lula (PT), que não viajou por ter caído e batido a cabeça.

“Há uma visão negativa do Brics”, disse o ministro, citando a percepção americana e europeia de que o grupo busca s contrapôr à ordem mundial estabelecida. Esse é o objetivo público de membros como a Rússia e a China, que denunciam o arranjo global do pós-Guerra Fria como hegemônico por parte dos EUA.

O Brasil concorda com parte desta agenda, claro. O próprio Vieira questionou na entrevista o arcabouço financeiro ancorado na participação majoritária de americanos e aliados na dupla Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.

“Há países dividindo a cadeira e outros, sozinhos”, diz. Parte da cúpula do Brics foi dedicada ao tema, que inclui a reforma do Conselho de Segurança da ONU, bandeira antiga do Brasil. Lula, falando por vídeo aos outros líderes, foi numa linha semelhante.

Mas os termos no comunicado final do encontro foram algo vagos em termos de propostas, refletindo a entrada no Brics de mais postulantes àquele órgão, como o Egito.

Ao mesmo tempo, busca manter distância do caráter autoritário dos parceiros como China e Rússia. “O Brics não é contra ninguém. Ele é a favor dos membros, é uma plataforma de conversas”, diz, emulando a visão do Itamaraty que prega retirar agendas políticas das discussões.

A ampliação de 2023 foi arrefecida agora, com a criação da categoria de parceiros. Treze países serão convidados, mas não a Venezuela do ditador Nicolás Maduro, vetada pelo Brasil até aqui. Vieira não quis comentar especificidades do caso do vizinho.

Vieira aponta para outro fato: a incorporação de cinco membros, contando aí a indecisa Arábia Saudita, que não foi representada por nenhuma autoridade de alto nível, levou a dificuldades na equalização de terminologia e na aceitação de regras já pactuadas.

“Há mais de 30 países interessados em entrar. O Brics não os pode incorporar, seria muito, o grupo passaria de 40 membros”, afirmou.

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