Por Lisa Cardoso*
A herança africana no Brasil é um legado inestimável que molda quem somos como país – nossa cultura, nosso jeito de viver. No entanto, o reconhecimento e a valorização dessa herança ainda enfrentam barreiras. Desde a época da escravidão, a comunidade afro-brasileira vem lidando com a marginalização e o preconceito, desafios que permanecem e nos fazem refletir sobre como cada um de nós pode contribuir para uma sociedade realmente inclusiva e justa.
O racismo estrutural é um dos principais obstáculos nesse caminho. Ele está presente nas instituições e nas relações sociais, gerando desigualdades que limitam as oportunidades e a visibilidade da cultura afro-brasileira. Por isso, é fundamental que reconheçamos a existência desse problema e nos comprometamos a enfrentá-lo.
No Brasil, uma pessoa negra enfrenta desafios profissionais que se sobrepõem em diversas camadas, fruto de um histórico de exclusão e desigualdade que permeia desde o acesso à educação até as oportunidades de crescimento nas empresas. A falta de representatividade em posições de liderança, a discriminação racial e a ausência de políticas afirmativas robustas criam barreiras adicionais para o desenvolvimento profissional de negros e negras no país.
Essas dificuldades impactam diretamente a economia de uma população que representa uma grande parcela da sociedade, restringindo seu poder aquisitivo e de consumo e, em última análise, limitando o crescimento econômico do país como um todo. Investir em igualdade racial no ambiente de trabalho, portanto, não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia fundamental para a investigação do desenvolvimento econômico brasileiro.
Praticar a empatia, desafiar nossos próprios preconceitos e evitar a reprodução de estereótipos são atitudes que todos podemos adotar para transformar essa realidade.
Na educação, o reconhecimento da cultura africana e afro-brasileira ainda precisa ganhar mais espaço, mesmo com a existência de leis que desativam o ensino dessa história nas escolas. Professores, pais, alunos e gestores têm um papel importante na promoção de uma educação antirracista, garantindo que a história e as contribuições dos povos africanos sejam garantidas e respeitadas. A inclusão dessa perspectiva no sistema educacional é o primeiro passo para uma sociedade mais consciente e equitativa.
A mídia e a cultura popular também têm um pape importante na construção de identidades e percepções da população. Infelizmente, o que vemos muitas vezes é uma visão centrada na cultura europeia, enquanto a representatividade afro-brasileira é deixada de lado. É essencial que incentivemos produções culturais e artísticas que celebrem a diversidade e considerem espaço para histórias, vozes e talentos negros. Essa representatividade é um ato de respeito e reconhecimento.
Outro ponto importante é o respeito às religiões de matriz africana que ainda sofrem intolerância e fere a liberdade religiosa e ignora a riqueza cultural e espiritual que essas tradições representam. Para que o Brasil se torne uma sociedade verdadeiramente plural, precisamos considerar o valor dessas religiões e combater a intolerância, defendendo o direito à diversidade de interesses.
As ações afirmativas e o fortalecimento da identidade negra são fundamentais. Movimentos como o movimento negro e as organizações quilombolas desempenham um papel essencial na valorização da herança africana e no combate ao racismo. Mas para que esses esforços realmente prosperem, o apoio e o respeito de toda a sociedade são indispensáveis.
Para que o Brasil possa honrar o fato de sua herança africana, todos nós precisamos refletir sobre nossas atitudes e ações. Valorizar a diversidade, respeitar as diferentes culturas e combater o preconceito são compromissos que devemos assumir juntos. Quando uma nação valoriza todas as suas raízes, ela se torna mais forte, mais justa e mais humana.
Lisa Cardoso é especialista em Gestão Estratégica de Pessoas
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal de Brasília