Força do Cerrado: veja imagens de flores que nasceram entre as cinzas de incêndio em Brasília


Botânico lista estratégias que permitem a sobrevivência de espécies em períodos de secas e fogo. Flor possui tecido subterrâneo que permite rebrota. Amarílis-do-cerrado (Hippeastrum goiamum) flagrada em Brasília (DF)
Matheus Gonçalves Ferreira
Após 20 dias de um incêndio florestal destruir uma área de vegetação próxima à Torre Digital, em Brasília (DF), uma surpresa apareceu no meio das cinzas: pés de amarílis-do-cerrado (Hippeastrum goiamum), que contrastavam com a paisagem queimada.
Para o servidor público Matheus Gonçalves Ferreira, autor das fotografias, as flores passam uma mensagem de esperança e resiliência. Ele foi até o local do incêndio apenas para procurar a espécie, que está ameaçada de extinção.
“Quando cheguei naquela região quase completamente devastada pelo fogo, a gente só via tronco queimado e no meio daquilo tudo, encontrar uma flor com uma cor muito bonita, delicada e ao mesmo tempo tão forte a ponto de conseguir nascer no meio daquele tanto de detrito causado pelo fogo. Foi uma cena muito bonita, que traz esperança”, relata o fotógrafo.
Hippeastrum goianum é considerada Ameaçada (EN) pelo CNCFlora
Matheus Gonçalves Ferreira
De acordo com o Centro Nacional de Conservação de Flora (CNCFlora), a espécie é endêmica do Brasil e ocorre em Goiás e no Distrito Federal. No entanto, o Cerrado enfrenta sérios desafios devido às queimadas, frequentemente causadas por atividades humanas, que ameaçam sua integridade e funcionalidade.
“Embora o fogo seja parte do ciclo natural do Cerrado, as queimadas descontroladas prejudicam o solo e a biodiversidade”, afirma o botânico José Ataliba Gomes.
Apesar disso, as plantas do Cerrado são verdadeiros exemplos de resiliência e adaptação frente aos incêndios, como explica o especialista. Algumas características que ajudam nesse sentido, segundo ele, são:
Casca espessa: árvores como o ipê têm cascas espessas que protegem o tronco e os tecidos internos do calor intenso;
Raízes profundas: permitindo o acesso a água subterrânea, mesmo após a superfície ter sido queimada;
Estolões subterrâneos: espécies como Andiras têm estolões – caules de crescimento horizontal – subterrâneos que permitem a regeneração após o fogo.
Sementes resistentes: algumas espécies têm sementes que podem sobreviver ao fogo e germinar após a chuva.
Área próxima à Torre Digital pegou fogo no início de setembro
Matheus Gonçalves Ferreira
“Ao contrário da Mata Atlântica, a maior concentração de biomassa das plantas do Cerrado está abaixo do solo. E é o caso também das Amaryllidaceae (família dos lírios), eles têm um caule subterrâneo em formato de cebola”, diz Ataliba.
Ou seja, quando ocorre um incêndio a camada superficial da planta pega fogo, mas abaixo do solo há esse tecido de reserva que permite que ela rebrote após a queimada.
“A preservação desse ecossistema requer práticas de conservação sustentáveis, para garantir que o bioma continue a desempenhar seu papel crucial na regulação climática e na proteção dos recursos hídricos”, completa o botânico.
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