Maduro destina 180 mil hectares de terras na Venezuela para o MST

São Paulo, 14 – O ditador venezuelano Nicolás Maduro anunciou nesta quinta, 13, a entrega ao Movimento dos Sem Terra (MST) do Brasil de cerca de 180 mil hectares de terras agrícolas expropriadas naquele país. A doação de Maduro ocorre no momento em que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem retomado, com discrição, contatos com o regime venezuelano. Lula e Maduro se afastaram depois das eleições venezuelanas do ano passado, marcadas por denúncias de fraude, que não foram reconhecidas pelo Brasil, apesar da proximidade histórica entre petistas e bolivarianos.

No plano doméstico, o presidente brasileiro tem se reaproximado do MST e o governo remanejou cerca de R$ 40 bilhões no Orçamento de 2025 para aliados e programas petistas, incluindo o movimento, contemplado em duas frentes, que somam R$ 750 milhões

Maduro comunicou a doação de terras para o movimento na TV estatal venezuelana. O projeto foi batizado de “Pátria Grande do Sul”, que, segundo o ditador, tem como objetivo incentivar a produção agroecológica.

As terras foram expropriadas durante o governo de Hugo Chávez, seu antecessor, na década de 2000. Segundo Maduro, elas serão utilizadas para cultivar alimentos destinados ao consumo na Venezuela, no norte do Brasil e para exportação. Maduro classificou a proposta como um “projeto cooperativo, humano, dirigido por movimentos camponeses alternativos do mundo inteiro” em parceria com indígenas e militares. “São terras muito boas para produção”, afirmou o venezuelano.

‘Compromisso’

O anúncio contou com a participação de integrante do MST, e da representante Roxana Fernández, que classificou a iniciativa como um “ato de reafirmação do compromisso do MST com o povo venezuelano”.

No Brasil, o movimento tem sido contemplado e passou a receber atenção do Planalto, mas mantém a agenda de pressão sobre o governo para dar prioridade a ações no âmbito da reforma agrária

Como parte da “Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra”, o MST promoveu mais de 70 ações de protestos e invasões nesta semana, em todas as regiões do Brasil. A ações antecedem o chamado “Abril Vermelho” do movimento, tradicional calendário anual de invasões do grupo. As manifestações deste mês reivindicam mais apoio à reforma agrária e criticam o agronegócio.

Visita

Há uma semana, Lula visitou pela primeira vez em seu terceiro mandato um acampamento do movimento. Durante a solenidade, o presidente disse que não há motivo para o Estado ter terras. Essas áreas, afirmou ele, precisam “estar na mão do povo para que ele possa produzir”.

O petista discursou em assentamento do MST em Campo do Meio, no sul de Minas. A relação entre o atual governo do PT e o movimento, seu aliado histórico, vinha sendo marcada por desgastes. O MST fez críticas explícitas à gestão e gerou incômodo no Planalto ao promover invasões de áreas produtivas e de pesquisa da Embrapa.

A recente agenda com o movimento reforçou a impressão de que Lula está disposto a restabelecer conexão com sua base mais fiel após pesquisas indicarem forte queda de sua popularidade e ampliação da rejeição.

Na Venezuela, o projeto anunciado por Maduro contempla ainda a criação de um banco de sementes tradicionais, um viveiro para reflorestamento do sul do país e uma escola de formação.

Estadão Conteúdo

Adicionar aos favoritos o Link permanente.