Forças ucranianas recuam para fugir de cerco na Rússia

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

As Forças Armadas da Ucrânia anunciaram nesta quarta (12) o recuo de suas unidades operando em Kursk, região do sul da Rússia que invadiram de forma surpreendente em agosto passado. A medida vem em meio a uma grande operação de Moscou para retomar a região.

As forças estão cercadas, anunciou também nesta quarta o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, general Valeri Gerasimov. “É uma destruição sistemática”, afirmou ao lado do presidente Vladimir Putin, que visitou a área pela primeria vez desde a invasão.

“As unidades de forças de defesa manobram para posições mais favoráveis, se necessário”, disse no Facebook o comandante Oleksandr Sirskii. Ele tentou negar estar abandonado os combates, e sim querendo proteger seus soldados.

“As operações vão continuar enquanto for apropriado e necessário”, disse, afirmando que os combates estão se dando “rumo à fronteira” -uma outra forma de falar em retirada.

As evidências acumuladas nas últimas semanas evidenciam o problema de Kiev. As forças de Putin começaram um movimento em pinça no fim de semana após reduzir a presença ucraniana a um saliente de 400 km2, em comparação aos cerca de 1.300 km2 tomados inicialmente.

Segundo a Defesa russa, só da segunda (10) para a terça (11), mais 100 km2 foram retomados. Sites de monitoramento independentes, como o do Instituto para Estudos da Guerra (EUA), o referencial ucraniano Deep State, corroboram a versão.

Imagens em redes sociais mostravam a rendição em massa de soldados ucranianos, e soldados russos com a bandeia do país na praça central de Sudja, a principal cidade tomada por Kiev em sua operação.

Sirskii disse, contudo, que combates prosseguem “dentro e fora” da localidade.

“No tempo mais rapidamente possível vamos derrotar o inimigo entrincheirado e ainda conduzindo ações defensivas aqui”, afirmou Putin, em uniforme militar, durante visita a um centro de controle perto de Kursk, a capital provincial homônima.

A debacle em curso é um revés político para o governo de Volodimir Zelenski em um momento menos desfavorável politicamente para Kiev, com a aceitação do cessar-fogo de 30 dias proposto por Donald Trump colocando pressão sobre Putin -que até aqui vinha sendo favorecido nas negociações com os Estados Unidos.

Zelenski colocou muitas fichas na operação em Kursk, visando ter parte da região na mão na hora de sentar-se à mesa para discutir a paz. Algumas de suas melhores unidades e equipamentos foram empregados na ação, que serviu mais para humilhar Putin do que para alterar o rumo da guerra.

O ucraniano colocou em uso, por exemplo, poderosos tanques americanos Abrams, dos quais só recebeu 31 unidades dos EUA -19 já foram perdidos, inclusive um que foi capturado e exibido em vídeo nesta semana em Kursk.

O esperado desvio de recursos militares russos do leste da Ucrânia para lá não ocorreu, e até tropas da Coreia do Norte parecem ter sido empregadas como contingência. Ao contrário, Putin só fez avançar nas áreas já dominadas da Ucrânia, país que invadiu em 2022 e onde controla cerca de 20% do território.

Em comparação, o domínio de Zelenski nunca passou de 0,007% da vasta área da Rússia. Se de fato perder essa carta e Putin aceitar a trégua para discutir o formato de uma negociação de paz, o que é incerto, o ucraniano começa o jogo com uma peça importante a menos.

Há estimados 10 mil ucranianos ainda em Kursk, operando cercados. Apesar da retórica russa, não há certeza acerca da eficácia do cerco, no sentido de ser o que os militares chamam de “caldeirão fechado” por todos os lados.

Analisando imagens divulgadas pela agência RIA Novosti que mostravam uma situação calma em Sudja, o influente canal militar russo no Telegram Fighterbomber questionou: “Alguém está mentindo”.

Aos prisioneiros em Kursk, integrantes da primeira invasão da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial, o destino não parece bom. Putin disse que eles serão “tratados como terroristas”, não como combatentes a quem a Convenção de Genebra garante proteções.

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