Em seu ‘Uma Babá Quase Perfeita’, Eduardo Sterblicht se inspira em Robin Williams

eduardo sterblicht


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Depois de encerrar no ano passado a extensa temporada de “Beetlejuice: O Musical”, o ator Eduardo Sterblitch prometeu a si mesmo que não mais faria outro espetáculo cantado, por conta da pesada exigência física.

Mas o juramento ainda não estava assentado quando ele aceitou protagonizar “Uma Babá Quase Perfeita: O Musical”, no qual ainda viveria dois papéis e teria de usar uma prótese facial pouco confortável.

“O espetáculo é baseado em um dos dois filmes da minha vida – o outro é ‘Laranja Mecânica'”, justificou ele que, agora no Teatro Liberdade, em São Paulo, estará em cartaz de quarta a domingo, com quatro sessões no fim de semana. “Retomei a rotina de atleta.”

Inspirado no filme de 1993 estrelado por Robin Williams e adaptado para o musical em 2019, o espetáculo acompanha Daniel Hillard, um pai que, após o divórcio, assume uma nova identidade como a excêntrica babá britânica Euphegenia Doubtfire para poder ficar perto dos filhos.

“É um dos raros musicais da Broadway que trata da família de maneira doce, sem ser histriônica. É uma peça realista com música”, comenta o diretor Tadeu Aguiar, que trouxe elementos nacionais para a montagem, como o fato de Daniel morar no Cambuci além de brincadeiras com Ana Maria Braga, Palmirinha, Preta Gil e D. Hermínia, personagem criado por Paulo Gustavo.

O espetáculo preservou cenas do filme que se tornaram clássicas, como a dança de Mrs. Doubtfire com o aspirador de pó e a sua desastrada tentativa de fazer o jantar, que resulta no incêndio de seus seios, apagado com panelas. “Nossa intenção é fazer a plateia ativar sua memória afetiva e se lembrar do longa”, afirma a produtora Renata Borges, da Touché Entretenimento.

“É difícil não cair na galhofa, mas mantenho a seriedade do meu papel”, conta a atriz Thais Piza, que interpreta Miranda, mãe de três crianças que pede o divórcio. “Ela ainda ama o ex-marido e diz isso para a governanta sem saber que é o próprio Daniel.”

O maior desafio dela e do resto do elenco, porém, é estar preparados para as célebres improvisações de Sterblitch em cena. “Ele parece ter 15 ouvidos, pois escuta tudo o que se diz na plateia e reage em seguida. Eduardo gosta de dificultar a cena para conseguir se superar”, avalia Aguiar.

O ator segue a cartilha de Robin Williams, que morreu em 2014 e cujas improvisações gastavam latas de filmes dos longas que protagonizava. “Williams tinha a melancolia de um palhaço, estava em seu olhar.

Com ele, aprendi que não é possível fazer humor sem confiança, o que me estimulou a buscar um novo caminho para o personagem”, diz Sterblitch, que utiliza uma prótese feita na Inglaterra para se transformar na governanta. Isso facilita as 16 trocas de figurino que o personagem realiza em cena.

“Como a máscara limita a movimentação da cabeça, Mrs. Doubtfire tem gestos leves e sutis, o que ajudar a caracterizá-la”, constata Fabrizio Gorziza que, além de viver Frank, irmão de Daniel, é o substituto direto de Sterblitch em suas possíveis ausências.

Os dois atores trocaram ideias sobre como encontrar a melhor voz para a governanta. “Meu ponto de partida foi a dublagem brasileira do filme, que traz um tom mais baixo e um falar mais cadenciado, o que prende a atenção”, comenta Sterblitch. “E só encontrei o tom certo depois de errar muito. É como dizia Beckett: ‘Todo dia falho melhor’.”

A lembrança do enigmático dramaturgo irlandês não é gratuita. Assim como o autor que disse “toda palavra é como uma mancha desnecessária no silêncio e no nada”, Sterblitch também é um observador do comportamento humano, um buscador do absurdo.

Ele traz seu humor característico e sensibilidade excêntrica para todos os trabalhos. “Gosto do Teatro do Absurdo, que trata de assunto sério de forma cômica. Meu sonho é interpretar ‘Esperando Godot’ e morrer no teatro, como aconteceu com Cacilda Becker.”

Apesar de conhecido pelo humor rasgado, Eduardo Sterblitch aprofunda estudos sobre o teatro contemporâneo. Foi o interesse pela dramaturgia realista do norueguês Henrik Ibsen, por exemplo, que o levou ao experimentalismo com palavras do irlandês James Joyce. Esse, por sua vez, despertou sua atenção para Beckett. “Estou apaixonado por esse processo de maturidade.”

Ainda que considere o palco seu ambiente preferido no trabalho, o ator diversifica sua ação. Atualmente, comanda o programa semanal Papo de Segunda, do GNT, no qual faz eventuais revelações surpreendentes, como ser dependente emocional de seus relacionamentos e brincar com a solidez de sua sexualidade.

Ao mesmo tempo, é um dos protagonistas de “Garota do Momento”, novela da seis da Globo, com a qual renovou contrato por quatro anos.

Nesse período, deverá dividir um programa de entrevistas com Tatá Werneck e ainda interpretar o jornalista e empresário Roberto Marinho na fase jovem, no programa de comemoração dos cem anos de fundação do jornal O Globo. E, ainda que seu personagem Sérgio na série “Os Outros”, do Globoplay, tenha já morrido, ele voltará em algumas cenas. “Retorna para aterrorizar ainda mais aquelas pessoas”, diverte-se.

Mais um reforço na agenda de espetáculos. Dono de uma graça natural para provocar o riso, o ator se vê mais como comediante que humorista. “O primeiro tem um humor mais intimista, inspirado na própria história, enquanto o humorista faz graça sobre o que está a seu redor.”

UMA BABÁ QUASE PERFEITA, O MUSICAL
– Quando Qua., qui. e sex, às 20h; sab. e dom., às 16h e às 20h30. Até 11 de maio
– Onde Teatro Liberdade – r. São Joaquim, 129, São Paulo
– Preço R$ 170 a R$ 380
– Classificação Livre
– Link: https://bileto.sympla.com.br/event/96805/d/270432

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