Secretária do PT diz que Cultura deu aval a uso de programa de R$ 58 milhões em campanhas de aliados em 2024

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Áudios da secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, mostram que os comitês de cultura criados pelo presidente Lula (PT) e pela ministra Margareth Menezes, da Cultura, foram usados para eleger aliados em 2024 com o aval da cúpula da pasta.

O material, gravado pelo ex-chefe do comitê do Amazonas Marcos Rodrigues, com quem Anne Moura rompeu politicamente no final do ano passado, foi publicado nesta segunda-feira por O Estado de S.Paulo.

Criado em setembro de 2023 para impulsionar ações de mobilização, apoio e formação de artistas, o Programa Nacional de Comitês de Cultura (PNCC) vai custar 58,8 milhões de reais até o final de 2025.

Na gravação, Anne Moura exigiu que Marcos Rodrigues envolvesse a estrutura do comitê de cultura em sua campanha eleitoral, na qual ela disputou o cargo de vereadora de Manaus e foi derrotada.

Segundo ela, a secretária do MinC que cuida do PNCC, Roberta Martins, classificou a falta de empenho do comitê amazonense como “um absurdo”.

“Marcos, quando eu fui lá no MinC agora, da última vez, o pessoal me perguntou: ‘Anne, o comitê tá te ajudando?’ Eu disse: não, Roberta, não tá. Ela tava na sede do PT, na reunião e perguntou: ‘o comitê tá te ajudando? Porque nos outros lugares está tudo ajudando’. Porque eu fui pedir dinheiro também, tô pedindo ajuda para ganhar a eleição. Aí ela disse: o comitê tá te ajudando com alguma coisa nas agendas, nas atividades? O comitê não pode te dar dinheiro, mas eles podem promover atividade para te ajudar. Eles estão te ajudando?’. Eu disse: ‘Roberta, deixa eu falar uma coisa para ti. Temos acordos que não foram cumpridos. E depois que as pessoas sentaram na cadeira pagaram de doidos. Eu decidi que não vou me estressar com isso agora. Eu preciso ganhar a eleição. Então se tu puder me ajudar agora, daqui, na articulação tua e do Márcio, eu te agradeço. Depois, quero sentar e conversar com você sobre isso’.”

Ela reclamou também de o comitê escolher artistas para atividades “sem combinar na política quem são os artistas parceiros”.

Para Anne Moura, “quem foi para a frente da prisão” precisa ter atendimento diferenciado na hora da “parte boa”.

“Mas é o seguinte, Marcos: quem foi lá para frente da prisão gritar de manhã, de tarde e de noite para defender o Lula fomos nós. Nós que sofremos sendo chamados de ‘ladrão’, todo mundo virou as costas para nós nos movimentos sociais. E a gente lá ‘somos do PT, vamos resistir, vamos não sei o quê…’. E agora, chega na parte boa, a gente vai ficar olhando as coisas acontecendo? Não vamos ter nenhuma opinião política nesse processo? Tudo tá de pé pela política. Só tem comitê porque tem Lula. E só tem Lula porque tem base, que somos nós. É inaceitável o que tá acontecendo, mas eu vou lutar uma luta de cada vez.”

Ao contratar entidades culturais para receber verba pública e coordenar as ações e atividades de fomento à cultura nos estados, o PNCC beneficiou militantes do PT e ONGs ligadas a assessores do Ministério da Cultura.

No Amazonas, o governo Lula contratou o Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (Iaja).

A ONG tem Anne Moura como uma de suas fundadoras.

A organização irá receber 1,9 milhão de reais em dois anos para coordenar o comitê.

Ao Estadão, a pasta chefiada por Margareth Menezes afirmou Anne Moura não teve conversas com servidores do ministério nem relação com a escolha da ONG Iaja para coordenar o comitê de cultura no Amazonas, contrariando o que mostram os áudios.

Segundo o ministério, a secretária do PT “não é membro do comitê do Amazonas, nunca integrou sua equipe e não participou de qualquer processo relacionado ao Ministério da Cultura ou à seleção do edital de projetos”.

O Antagonista

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