Temporal em Boa Vista e a grave situação ambiental que precisa de tomada de consciência

Forte chuva registrada na sexta-feira passada alagou vários bairros da Capital (Imagem: Reprodução)

O temporal que caiu inesperadamente sobre Boa Vista, na sexta-feira passada, é só mais um cenário do novo normal das mudanças climáticas que nos remete a algumas necessárias reflexões. Importante destacar que, embora estejamos no mês de março, período de transição do verão para o inverno roraimense, ainda não significa o início da estação chuvosa, que promete ser rigorosa este ano devido ao efeito La Niña.

Dentro da realidade dos efeitos climáticos cada mais frequentes e severos, os institutos climáticos informaram que, na semana passada, o país enfrentou a 5ª onda de calor do ano que, junto com uma grande umidade que pairava no ar, influenciou as fortes chuvas que caíram nesse fim de semana na Região Norte, com Boa Vista registrando o temporal que alagou a cidade.

Não podemos esquecer que, em maio de 2024, o país registrou uma das piores tragédias climáticas no Rio Grande do Sul, com cidades inteiras alagadas. Em agosto e setembro, houve muita seca e incêndios florestais em várias regiões, com destaque para a grande seca em Manaus e outras cidades no Amazonas. Desta vez, devido às chuvas que caíram com certa regularidade, especialmente na região Norte, Roraima não entrou nesse alerta climático.

Veio bem a calhar que, na Quaresma deste ano, a Igreja Católica tenha escolhido como tema para a Campanha da Fraternidade 2025  “Fraternidade e Ecologia Integral”, que entre outras finalidades, além de denunciar e apontar as causas da grave crise climática global, a urgência da alteração profunda nos nossos modos de vida e incentivar movimentos populares a lutar pela justiça socioambiental e a atuação socioeducativa.

O temporal em Boa Vista mostrou de forma escancarada a necessidade da tomada de consciência por parte da população sobre o cuidado com o lixo e a proteção ao meio ambiente, ou seja, do cuidado com o local onde as pessoas vivem, pois foram recolhidos 9 mil quilos de lixo, galhadas e outros detritos que entupiram o sistema de drenagem das ruas e avenidas da Capital, contribuindo para os alagamentos.

Além disso, ficou bem claro que alguns dos alagamentos registrados em vídeos por populares ocorreram nas regiões por onde passam igarapés urbanos, que estão ocupados de forma irregular, sendo transformados em esgoto a céu aberto, os quais passaram a inundar facilmente devido às agressões que sofrem com esgoto clandestino, lixo e todos os tipos de agressões.

Essa falta de consciência ecológica também tem afetado sobremaneira o principal ponto turístico de Roraima, a Serra do Tepequém, no Município de Amajari, onde visitantes lançam garrafas, latas, embalagens, fraudas de bebês e absorventes femininos nas trilhas e nas margens dos igarapés e cachoeiras. E isso à revelia das autoridades.

A Prefeitura do Amajari tem fechado os olhos para a situação, o que pode gerar uma grave questão ambiental na localidade com o avanço do turismo, se providências rápidas não forem tomadas, uma vez que Tepequém é frágil ambientalmente devido às décadas de agressões provocadas pelo garimpo.

Além dos problemas locais enfrentados pela população, a exemplo do que ocorreu em Boa Vista durante o temporal de sexta-feira e da grave questão do lixo em Tepequém, existe uma questão mais ampla, que é a situação ambiental da Amazônia gerada pela agricultura predatória, garimpo ilegal e desmatamento, o que contribui para a crise climática que estamos vivenciando no país.

Logo, não é mais possível fechar os olhos para a crise climática e ambiental. E a população e os governos locais precisam fazer sua parte. Não adianta apontar e alardear os impactos na floresta amazônica dentro do clima global se a população em suas localidades não toma consciência sobre o seu lixo e as autoridades não cumprem com a sua parte. É hora de agir. A natureza está revidando às agressões e os impactos estão sendo sentido por todos.

*Colunista

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