Mosca da carambola: Cerca de 1 mil produtores podem voltar a exportar frutos ainda neste ano

Produção de tangerina na propriedade de Nestor Ariel (Foto: Divulgação)

O Ministério da Agricultura e Pecuária pode autorizar, ainda neste semestre, a certificação das propriedades produtivas de Roraima que poderão voltar a exportar frutos. A informação foi divulgada pelo deputado federal Gabriel Mota (Republicanos-RR) após reunião com o secretário executivo do Mapa, Irajá Lacerda, para articular o fim do bloqueio por causa da mosca da carambola.

Ao parlamentar, o secretário disse que a pasta está finalizando os estudos para autorizar a Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr) a fazer essa certificação. “Nas propriedades produtivas, nunca se localizou vestígio da mosca da carambola, até porque já combatem pragas e insetos”, disse Gabriel Mota. “Derrubar esse bloqueio será um avanço muito importante pra Agricultura de Roraima, principalmente, pro pequeno e médio produtor”.

O secretário executivo do Ministério da Agricultura, Irajá Lacerda, com o deputado federal Gabriel Mota (Foto: Divulgação)

Proposta para flexibilizar proibição

Atualmente, uma instrução normativa do ministério impede completamente o Estado de enviar, para outros estados e países, 39 hospedeiros da praga (como carambola, manga, laranja, tangerina, cajá, pimentas de cheiro, caju, goiaba, acerola e tomate). A proibição também se estende ao envio de frutos de propriedades do Norte para o Sul do Estado, por meio de barreiras situadas em Cantá e Caracaraí.

A Aderr apresentou uma proposta para flexibilizar essa regra, sem oferecer risco para a produção, e sugeriu, por exemplo, a permissão da saída de frutos hospedeiros da região de ocorrência da praga para outra sem registro, desde que se cumpra requisitos, como:

  • A certificação fitossanitária de origem para frutos, devendo os produtos estar acompanhados da Permissão de Trânsito de Vegetais quando destinados a outra unidade da federação;
  • O monitoramento mensal prévio propriedade, no mínimo 60 dias antes da colheita de frutos com liberação somente na ausência de captura da mosca e nesse período na propriedade; e
  • O transporte das cargas em veículos fechados, além de baús e containers lacrados, mediante fiscalização no embarque.

A Aderr justifica, no documento, que esse bloqueio total causa aumento de preços dos produtos no mercado local, gera rotas clandestinas de comercialização e trava o crescimento econômico do Estado. “Dezenas de milhões de reais deixam de circular na Agricultura por conta do impedimento”, pontuou o presidente da agência, Marcelo Parisi.

O presidente da Aderr, Marcelo Parisi (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

Parisi afirmou ainda que, caso o Mapa aceite a proposta, cerca de 1,2 mil das 35 mil propriedades rurais de Roraima poderão, a curto prazo, voltar a vender frutos para outros lugares. “Pro futuro, a gente pode pensar num número bem maior”, pontuou.

Prejuízos do impedimento

Produção de laranja na propriedade de Nestor Ariel (Foto: Divulgação)

Um dos sócios de uma propriedade de 68 hectares (o equivalente a 68 campos de futebol) da região do Bom Intento, na zona rural de Boa Vista, Nestor Ariel, 50, afirma que, por causa da mosca da carambola, já precisou erradicar 22 mil árvores de culturas diversas, apesar da praga nunca ter chegado à propriedade e das armadilhas feitas para impedir sua chegada.

“Se você produz 1 mil toneladas de laranja e tangerinas, na propriedade, você deixa de faturar em torno de dois a três milhões de reais, anualmente”, exemplificou o produtor rural, que cultiva, há mais de 20 anos, esses dois cítricos proibidos pelo Mapa.

Conforme ele, a proibição imposta o impede de aumentar a área de plantio e de vender o que ainda tem. “Se procura outras espécies, não pode mandar, então, você está, de todo lado, condicionado a não crescer”, disse ele, que revelou ter cogitado a vender a propriedade.

Por outro lado, o produtor rural Eugenio Thomé, 69, fechou a plantação de tangerina, laranja e morango que tinha em seu sítio de oito hectares, na Serra do Tepequém, em Amajari, depois que a praga foi identificada em Pacaraima, impedindo-o de comercializá-lo até para Boa Vista e de lucrar 50% com a venda. ““Tínhamos oito armadilhas pra pegar a mosca. Nunca foi pega uma mosca […]. Só sente essa dor quem é produtor”, lamentou.

“Você vai pagar hoje um quilo de morango, por baixo, aqui é R$ 40. Nós conseguíamos produzir lá por R$ 15, porque temos clima, altitude, variação térmica”, relembrou ele, que deve transformar a área em uma pousada.

Agora, ele se dedica a produzir dez culturas em sua chácara, na região do Monte Cristo, em Boa Vista, onde já chegou a cultivar 30. “Éramos o maior produtor de pimenta”, disse. “Não é uma questão técnica, a questão é política”, afirmou sobre o bloqueio da mosca da carambola.

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