Pesquisa mostra que metade dos pais não conseguem definir o que é miopia em crianças

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ANDREZA DE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Pelo menos metade dos pais não consegue detectar a miopia nos filhos, aponta pesquisa feita pelo Instituto Ipsos. O levantamento mostrou que 73% dos pais acreditam que o problema poderia ter sido detectado precocemente, mas 47% não soube definir corretamente o que é miopia. Além disso, somente 16% dos entrevistados conhecem, de fato, soluções para retardar o avanço do problema.

A pesquisa foi encomendada pela fabricante de lentes de contato Essilor Stellest, e foi realizada por formulários preenchidos online, entre 24 de junho e 15 de julho de 2024, em seis países. Foram entrevistados 6.000 pais de crianças e adolescentes com idades entre 5 e 17 anos do Reino Unido, Itália, França, Brasil, Índia e China.

Como o preenchimento foi feito online, a representatividade regional, social e econômica da pesquisa é considerada um fator limitante, que pode refletir nos resultados encontrados.

Segundo a médica oftalmologista Myrna Serapião, diretora da rede de hospitais de olhos Vision One, a miopia é um erro refracional cada vez mais comum na infância -principalmente devido à exposição precoce à luz de telas- e o diagnóstico do problema é difícil entre os mais novos porque a criança nem sempre sabe explicar como está enxergando.

“Na miopia, a imagem se forma antes da retina. Então existe uma diminuição da visão para objetos a distância. E é muito difícil diagnosticar porque a criança não sabe falar”, afirma Serapião.

Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento da miopia na infância estão a genética -se um ou os dois dos pais possuem o problema, é possível que a criança também desenvolva- e a falta de exposição à luz solar natural.

Presidente da SBOP (Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica), Julia Rossetto explica que é importante que crianças fiquem por, pelo menos, duas horas diárias em atividades ao ar livre. “Não precisa ser em exposição direta ao sol, mas ao ar livre”, diz.

De acordo com a pesquisa, 58% dos pais desconhecem que a falta de exposição à luz natural é um dos fatores associados aos aparecimento da miopia.

Além da pouca exposição à luz solar, um outro fator de risco para o desenvolvimento precoce da miopia é a exposição precoce à telas. Segundo Rossetto, dados sugerem que uso de telas próximas aos olhos (com menos de 25 centímetros de distância) e por tempo prolongado (mais de 45 minutos) estão mais relacionados ao desenvolvimento de miopia.

“Recomendamos que, caso usem telas, seja feito na maior distância possível e intervalado a cada meia hora, de preferência”, diz Rossetto.

A duração da exposição à telas recomendada pela SBOP para idades de 0 até 2 anos é até uma hora por dia; de 2 a 5 anos, entre uma e duas horas por dia; e de 6 a 10 anos, de duas a três horas.

A exposição à tela precocemente, segundo a especialista, pode causar ainda atraso de fala, estrabismo e síndrome do olho seco.

Para as oftalmologistas, a progressão da condição na infância pode ainda ser mais rápida do que em pessoas que desenvolvem o problema na adolescência, por exemplo.

A fim de evitar uma piora do quadro e desenvolvimento de graus mais elevados de miopia, especialistas indicam, para além do uso de óculos, o uso de soluções como colírio de atropina e, em alguns casos, lentes de contato e de correção.

Segundo a pesquisa, os últimos métodos de correção, no entanto são menos conhecidos pelos pais entrevistados. Em termos de soluções para controlar a progressão da miopia, os óculos com lentes corretivas são as mais conhecidas (22%), seguidos por lentes de contato descartáveis (19%) e lentes de contato rígidas usadas à noite (16%). O colírio oftalmológico é o menos conhecido (16%).

No Brasil, inclusive, 91% dos entrevistados disseram ser confiantes de que óculos e lentes resolverão todos os problemas oculares dos filhos.

De acordo com Rossetto, é comum que os sinais de dificuldade para enxergar apareçam por volta da escolarização na hora de enxergar o quadro ou quando exista a necessidade de se aproximar muito de objetos, como livro e televisão. Um outro sinal apontado por ela é quando a criança, para olhar longe, aperta os olhos.

Para evitar que a doença evolua rapidamente, as especialistas recomendam teste do olho logo quando a criança nasce. “É o ideal para ver se o olho não tem aquele reflexo branco que pode acabar sugerindo alguma doença grave como retinoblastoma”, explica Serapião.

Apesar da média mundial, de acordo com o levantamento, para o primeiro teste de miopia ser aos seis anos, a SBOP recomenda como ideal a busca por um oftalmologista aos três anos de idade.

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