Dólar estabiliza com falas de Haddad e incertezas sobre tarifas e juros nos EUA; Bolsa cai puxada por Renner

Dólar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar rondava a estabilidade nesta sexta-feira (21), com os investidores ponderando sobre os planos tarifários dos Estados Unidos, as incertezas geopolíticas e a trajetória da taxa de juros do Fed (Federal Reserve, banco central americano).

A sessão era marcada por falas de Haddad sobre orçamento equilibrado, expectativa por acordo comercial entre EUA e China, além de negociações para o fim da Guerra da Ucrânia.

Às 12h40, a moeda americana tinha baixa de 0,09%, a R$ 5,698 na venda, após ter encerrado com queda de 0,37%, cotado a R$ 5,704, na véspera.

Já a Bolsa caía 0,60%, aos 126.834 pontos, com as ações das Lojas Renner liderando as perdas após anunciar lucro abaixo das expectativas do mercado no quarto trimestre. Na quinta (20), a Bolsa fechou com uma alta leve de 0,22%, aos 127.600 pontos.

Começando pela ponta doméstica, o mercado repercutia uma entrevista concedida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ao ICL Notícias, nesta sexta, em que disse que um governo com Orçamento equilibrado é condição para o desenvolvimento sustentável do país, inclusive para levar a inflação e os juros para baixo.

“Nós temos um compromisso com a questão fiscal, fizemos o ajuste ano passado. O Orçamento pode ser aprovado com equilíbrio nas contas, é o que garante a sustentabilidade da economia brasileira no médio e longo prazo, um crescimento com inflação baixa, que é a nossa obsessão”, afirmou o ministro.

Sinalizações de compromisso com as medidas fiscais e equilíbrio nas contas públicas tendem a diminuir as preocupações do mercado com o governo.

Na entrevista, Haddad também disse acreditar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegará “muito competitivo” às eleições de 2026, reafirmando que não tem pretensão de concorrer a nenhum cargo.

“[O presidente Lula] é de longe o nome mais forte do nosso campo e tem todas as condições de concorrer e vejo ele gozar de plena saúde”, disse.

Após a veiculação de notícias de que ministros disseram, no último domingo (16), ao presidente Lula que as medidas que mais desgastaram o governo foram as do Ministério da Fazenda, o ministro afirmou que não seria razoável imaginar um colega aproveitando de sua ausência para fazer críticas. Na ocasião, Haddad estava ausente em razão de uma viagem ao Oriente Médio.

“Eu não quero crer que, na minha ausência, alguém tenha feito crítica a mim numa reunião com o presidente Lula”, disse.

Na avaliação de Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, a tendência do dólar é continuar em patamares mais baixos, a depender da comunicação do governo em relação às medidas de compromisso fiscal.

“Se a qualquer momento o governo fizer alguma besteira, o dólar volta para R$ 6. Então qualquer tipo de erro de comunicação ou falha no argumento em relação ao arcabouço podem gerar um descompasso. O mercado já mostrou o quanto o nível de estresse pode afetar a curva de juros e do dólar”, disse.

Já na ponta internacional, os investidores monitoravam as últimas notícias de um possível acordo entre Estados Unidos e China na questão envolvendo tarifas comerciais.

O vice-primeiro ministro da China, He Lifeng, falou por meia hora com o novo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, e manifestou a ele sérias preocupações em relação às recentes tarifas dos EUA e outras medidas restritivas impostas à China.

Até agora, a China foi o único país que sofreu o início das imposições tarifárias de 10% sobre todos os produtos que entram nos EUA. Outras medidas foram adiadas ou estão distantes para entrarem em vigor.

Pequim retaliou impondo tarifas direcionadas de até 15% sobre algumas importações dos EUA e colocou várias empresas, incluindo o Google, em alerta para possíveis sanções.

A conversa entre Lifeng e Bessent foi precedida por falas do presidente Donald Trump, na quarta-feira (19), de que é “possível” chegar a um acordo comercial com a China.

Na quinta-feira (20), o dólar fechou a sessão com queda de 0,37%, cotado a R$ 5,704, diante de um possível acordo comercial entre os Estados Unidos e a China. O recuo da divisa dos EUA seguiu uma tendência global de desvalorização.

Os agentes financeiros mudaram a percepção sobre o novo governo dos EUA, que completou um mês nesta quinta. Antes, predominava a visão de que as medidas prometidas por Trump seriam inflacionárias para os EUA.

Agora, os mercados avaliam que as ameaças são mais uma tática política de negociação do que um plano concreto, o que provoca fortes perdas para o dólar neste início do ano.

Ainda na cena estrangeira, o mercado segue na expectativa por um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia após negociações entre Estados Unidos e Rússia. Um ponto final no conflito traria menos incertezas geopolíticas e comerciais aos investidores.

Na próxima segunda-feira (24), completam-se três anos que as tropas russas avançaram sobre território ucraniano e deram início à guerra

O conflito tem influenciado as decisões os agentes financeiros nos últimos três anos, principalmente devido a seu impacto em preços de commodities, como grãos e petróleo.

Um fim negociado para a guerra seria bem recebido pelos investidores, que teriam um fator de volatilidade a menos a ser ponderado em suas decisões.

Na terça-feira (18), autoridades norte-americanas e russas se reuniram a capital saudita, Riad, para suas primeiras conversas sobre o fim da guerra na Ucrânia.

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