Caso de Mossoró ainda mobiliza Justiça e polícia um ano após fuga inédita de prisão federal

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RAQUEL LOPES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A inédita fuga de dois detentos ligados ao Comando Vermelho do presídio federal de Mossoró (RN) ainda mobiliza a Justiça e a Polícia Federal um ano depois. Enquanto parte da suposta rede de apoio permanece presa, investigações policiais e processos na Justiça seguem em curso.

Rogério da Silva Mendonça, conhecido como Martelo, e Deibson Cabral Nascimento, apelidado de Tatu ou Deisinho, escaparam do presídio na madrugada de 14 de fevereiro de 2024. Eles foram recapturados no Pará após 50 dias de buscas.

O episódio gerou uma crise para o governo Lula (PT), reacendendo o debate sobre problemas na segurança pública, um tema frequentemente explorado por adversários do petista. No ano passado, os fugitivos foram transferidos para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná.

Durante a fuga, os detentos invadiram casas em busca de alimento, esconderam-se em um sítio e contaram com o suposto apoio de uma rede. A intenção era sair do país.

O episódio resultou na abertura de nove procedimentos distintos na Justiça Federal do Rio Grande do Norte, cinco deles sob sigilo. Até o momento, o Ministério Público Federal não apresentou denúncia e ninguém foi condenado.

Além disso, um processo tramita no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte referente ao roubo a uma residência em 16 de fevereiro.

Em outubro do ano passado, Deibson e Rogério foram condenados por esse caso a oito anos de prisão por roubo e restrição de liberdade.

Na ocasião, eles se alimentaram na casa de um casal, assistiram televisão e obrigaram as vítimas a desbloquear seus celulares para acessar informações nas redes sociais. Em posse dos aparelhos, realizaram diversas ligações e, por volta da meia-noite, fugiram pela mata.

“Toda hora que vou dentro do meu terreno, eu lembro de tudo que aconteceu comigo. Eu e a mulher até hoje estamos tomando remédio; Aí, [a vida] nunca mais voltou ao normal”, disse um dos proprietários do imóvel, João Vicente Neto, à Justiça.

A Polícia Federal conduz ainda dois inquéritos: um investiga a fuga em si, enquanto o outro apura a atuação da suposta rede que auxiliou os detentos após a evasão. O relatório final de um dos inquéritos está na fase de conclusão.

O documento aponta que a fuga ocorreu devido a falhas estruturais, tecnológicas e procedimentais. Até o momento, não há indícios de envolvimento de terceiros, servidores ou colaboradores na fuga do sistema prisional.

A investigação indica que o apoio externo teria começado apenas depois que os fugitivos deixaram o presídio. De acordo com um documento do MPF (Ministério Público Federal), mais de dez pessoas são suspeitas de integrar a rede de apoio aos fugitivos.

O suporte aos foragidos teria sido coordenado por Nicolas Rodrigues Alves, conhecido como Deputado.

Além de ser apontado como o organizador da fuga, ele teria fornecido armas ao grupo. As investigações indicam que dois fuzis e uma pistola foram transportados do Ceará para Baraúna, no Rio Grande do Norte, por Jânio Gleidson Carneiro Sousa, a pedido de Deputado.

O advogado Allan Diego de Amorim Araújo, que representa Deputado, nega seu envolvimento no caso.

Atualmente, Deputado usa tornozeleira eletrônica e é monitorado pela Secretaria de Administração Penitenciária do Ceará.

A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Jânio, o primeiro preso no caso, que atualmente está em liberdade.

Outro nome que aparece é de Ronaildo da Silva Fernandes, dono do terreno onde os fugitivos permaneceram escondidos por quase oito dias. Segundo a investigação, Ronaildo forneceu alimentação, roupas, celulares e informações para que os detentos escapassem dos cercos policiais.

Em troca, teria recebido R$ 5.000 de um integrante do Comando Vermelho que reside no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O advogado Carlos Santana, que representa Ronaildo, nega a participação de seu cliente. Ele está solto.

Na recaptura dos fugitivos, a PF prendeu quatro pessoas em flagrante no Pará: Eliezer Bruno Pacheco dos Santos, Ítalo Santos Sena, Juarez Pereira Feitosa e Jefferson Augusto Magno Favacho.

O advogado Sandro Manoel Cunha Macedo, que defende Eliezer, Ítalo e Jefferson, nega qualquer relação deles com a fuga. Segundo ele, os três estavam em um carro separado e não tinham envolvimento com os foragidos. A Folha não conseguiu contato com o advogado de Juarez.

Sandro diz que o processo que envolve os três está parado porque aguarda uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) para definir se a competência para julgamento será da Justiça do Pará ou do Rio Grande do Norte.

Além disso, a Polícia Civil do Pará prendeu Eduardo Alcântara da Silva e Manasses da Silva, suspeitos de ajudar na fuga dos criminosos. Segundo as investigações, os detentos deixaram o Ceará em uma embarcação e desembarcaram no Pará em 24 de março.

Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do Pará, tanto os quatro presos em flagrante quanto Eduardo e Manasses seguem detidos. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos dois últimos.

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