Como anticiclone e rios voadores explicam onda de calor no Brasil

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

Uma onda de calor atinge as regiões mais populosas do Brasil: Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e o Paraná terão temperaturas até 7°C acima da média para o período. O calorão pode durar dez dias ou mais, e a previsão é que fevereiro termine com os termômetros elevados.

Ondas de calor devem continuar nas próximas semanas. As temperaturas devem permanecer elevadas, com potencial para novos recordes. “Não há indícios de mudanças significativas no padrão atmosférico, o que significa que o calor extremo deve persistir”, explica a meteorologista Tatiane Felinto, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Sensação térmica pode superar 45°C em algumas áreas, mas 70°C, como já foi cogitado em posts nas redes sociais, seria improvável. A umidade elevada intensifica a sensação de calor, mas o Inmet descarta valores extremos.

Calor extremo intensifica secas e tempestades severas. O excesso de calor fornece mais energia para a formação de nuvens carregadas e favorece estiagens prolongadas e queimadas, alerta Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo.

Previsão, no entanto, indica chuvas abaixo da média. Nos próximos meses, a tendência é de precipitações abaixo da média, especialmente no Sudeste e Centro-Oeste, com seca acentuada no norte de Minas Gerais. Eventos isolados de chuva intensa, porém, podem ocorrer devido ao calor acumulado.

Sistema de alta pressão, conhecido como anticiclone, está impedindo a chegada de frentes frias e intensificando o calor. Esse sistema de alta pressão age como um bloqueio atmosférico, comprimindo o ar e impedindo a formação de nuvens. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), isso cria um efeito de retroalimentação: se não chove, o calor aumenta; e se o calor aumenta, a falta de chuva se agrava.

Rios voadores da Amazônia estão transportando calor em vez de umidade. Essas correntes de vapor d’água costumam levar umidade da floresta para o Sudeste e Centro-Oeste, mas, com o tempo seco e as altas temperaturas, perdem água no caminho e chegam carregando mais calor do que chuva. O enfraquecimento desse transporte de umidade tem contribuído para o aumento das temperaturas em vez de aliviar o calor, alerta o Inpe.

A ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) tem papel importante nas chuvas do Sudeste. Esse fenômeno meteorológico, combinado ao transporte de umidade da Amazônia e a sistemas frontais, influencia diretamente o volume de precipitação na região. Segundo Felinto, “a falta de frentes frias pode dificultar a organização da ZCAS, reduzindo as chances de precipitação significativa”.

O fenômeno La Niña, porém, pode influenciar as chuvas no Sudeste. Embora seu impacto seja mais forte no Norte e Nordeste, onde aumenta a umidade, ele também contribui para a formação de canais de umidade entre o Nordeste e o Sudeste. “As ZCAS se tornam mais ativas, trazendo mais chuvas para São Paulo e outras áreas adjacentes”, explica Borges.

O aquecimento global agrava o impacto do calor extremo. Ondas de calor, antes consideradas eventos pontuais, estão cada vez mais frequentes e intensas. “A emissão crescente de gases do efeito estufa está tornando esses eventos mais extremos e prolongados”, afirma Felinto. Esse processo intensifica tanto as secas quanto as tempestades.

A urbanização também contribui para temperaturas recordes. Cidades grandes, com extensas áreas asfaltadas e pouca vegetação, acumulam mais calor. “As ilhas de calor urbano fazem com que algumas áreas registrem temperaturas muito acima da média regional”, aponta a meteorologista.

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