Trump agora descarta volta de palestinos que deixarem Gaza

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IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta segunda (10) que o seu plano para a reconstrução da Faixa de Gaza não prevê a volta dos palestinos que deixarem o território destruído por Israel na guerra contra o grupo terrorista Hamas.

“Não, eles não voltariam porque terão habitações muito melhores. Em outras palavras, eu estou falando em construir um lugar permanente para eles”, disse ao jornalista Bret Baier, da Fox News, que havia questionado acerca do direito do retorno a Gaza.

Com isso, o americano reitera os temores entre aliados e rivais de que seu plano impõe uma limpeza étnica a Gaza, ao estilo daquilo defendido pela ultradireita que sustenta o governo de Binyamin Netanyahu em Tel Aviv. Antes, ele havia dito que a remoção poderia ser temporária.

Por outro lado, segue sem detalhes a proposta feita por Trump na semana passada, que galvanizou principalmente protestos nos países árabes onde ele quer ver parte dos 2,3 milhões de palestinos de Gaza reassentados -Egito e Jordânia à frente.

O plano causou espanto porque ele disse que Israel daria o controle de Gaza -o que Tel Aviv não tem pela lei internacional- para os EUA ao fim do processo de cessar-fogo que pretende acabar com a guerra iniciada depois de o Hamas atacar o Estado judeu em 7 de outubro de 2023.

Trump voltou a sugerir que sua proposta é calcada na realidade em solo. “Eu estou falando em construir um local permanente para eles porque se tiverem de retornar [a suas casas] agora, serão anos até que possam fazê-lo, não é habitável”, disse.

Segundo a ONU, 92% dos edifícios de Gaza foram atingidos pela guerra, boa parte deles destruída.

“Poderiam ser cinco, seis locais. Podem ser dois. Mas nós iremos construir comunidades seguras, um pouco longe de onde eles estão agora, onde está todo o perigo”, afirmou.

“No meio tempo, eu seria o dono disso. Pense nisso como um desenvolvimento imobiliário para o futuro. Seria um lindo pedaço de terra, nenhum grande dinheiro gasto”, afirmou Trump, com o desassombro que tem marcado suas falas acerca de Gaza.

O presidente já voltou atrás de sua colocação inicial, de que pretendia ocupar militarmente Gaza, devido à má repercussão disso ante sua base eleitoral. Historicamente, o trumpismo prega o isolacionismo internacional dos EUA.

A ideia de tornar a faixa uma “Riviera do Oriente Médio” tem maior aderência em Israel. Netanyahu já disse ter interesse na proposta de Trump, e seu ministro da Defesa ordenou que o Exército prepare um plano para o êxodo dos palestinos -ressaltando que ele seria voluntário.

Esta é uma questão óbvia: até aqui, nem os governos árabes citados por Trump nem lideranças palestinas se posicionaram a favor daquilo que denunciam como uma segunda Nakba, o termo árabe para catástrofe que é usado para descrever a retirada dos árabes na guerra de independência de Israel, em 1948, um tema historicamente controverso.

HAMAS ADIA NOVA LIBERTAÇÃO DE REFÉNS

Há também implicações mais imediatas. O plano de Trump, visto com curiosidade até mesmo pela Rússia de Vladimir Putin, aliada dos palestinos, pode afetar o processo do cessar-fogo em vigor desde 19 de janeiro em Gaza.

Até aqui, foram devolvidos a Israel 16 dos 33 reféns tomados pelo Hamas no 7 de Outubro que foram incluídos nas negociações -em troca da soltura de centenas de prisioneiros palestinos. Diálogos em Doha ocorrem sob tensão devido às falas de Trump e às condições humilhantes da libertação dos israelenses, exibidos como troféus em palanques.

Nesta segunda (10), o Hamas disse que não irá soltar a próxima leva de reféns, no sábado (15), enquanto Israel não normalizar a entrada de ajuda humanitária em Gaza. O grupo não citou Trump, mas o contexto de atrito é claro.

Essa fase do cessar-fogo deverá durar ao todo seis semanas, e depois o número incerto de talvez mais 30 reféns vivos será negociado. Só daí o futuro de Gaza seria colocado na mesa, mas a essa altura ninguém sabe como se dará tal processo.

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