Dólar sobe na abertura em linha com emergentes após novas ameaças tarifárias de Trump

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar à vista subia ante o real nas primeiras negociações desta segunda-feira (10), em linha com os mercados emergentes. Os investidores ponderavam sobre o impacto dos mais recentes planos tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em nova escalada das tensões no comércio global.


Às 9h04, a moeda americana subia 0,5%, a R$ 5,821. Na sexta, a divisa fechou em alta de 0,47%, a R$ 5,791, e a Bolsa teve forte queda de 1,27%, aos 124.619 pontos.


A sessão foi embalada por novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e por dados do mercado de trabalho norte-americano.


Em anúncio na Casa Branca, Trump prometeu reciprocidade tarifária a vários países ao longo desta semana.


A medida -uma das promessas do republicano durante a campanha eleitoral– visa igualar as tarifas de importação dos Estados Unidos às cobradas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos.
Trump não identificou quais países seriam afetados, mas sugeriu que seria um esforço amplo que também poderia ajudar a resolver os problemas orçamentários dos EUA.


“Vou anunciar isso na próxima semana, comércio recíproco, para que sejamos tratados de forma justa com outros países”, disse Trump. “Não queremos mais, nem menos.”


Os planos seguem a esteira dos decretos assinados no sábado (1º), nos quais Trump impôs tarifas adicionais sobre todas as importações do Canadá, México e China. Ele, porém, costurou acordos com as lideranças dos países vizinhos e adiou as taxas em um mês, mas manteve as de 10% sobre todos os produtos da China.


A manobra demonstra disposição de Trump em usar tarifas como barganha ante parceiros comerciais importantes, apesar de potenciais efeitos negativos para a própria economia americana. Até então, tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá, impostas no decreto de sábado, seriam uma espécie de sanção para os fluxos de imigrantes indocumentados para os Estados Unidos e de opioides fentanil.


Já as tarifas contra produtos da China estão em vigor desde terça-feira. A medida resultou em represália: serão impostas taxas de 15% para carvão e gás natural dos EUA, bem como outras de 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis, a partir do dia 10 de fevereiro.


Ainda há tempo para que Washington e Pequim tentem chegar a um acordo –esperança alimentada por autoridades de ambos os países e por investidores de todo o mundo.


Isso porque a política tarifária do republicano tem o potencial de aumentar custos para os consumidores norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.


Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.


Arte HTML5/Folhagráfico/AFP https://www1.folha.uol.com.br/webstories/mundo/2025/01/relembre-as-principais-promessas-de-campanha-de-trump/ *** A notícia da escalada da guerra comercial foi antecipada pela agência Reuters e reverteu o movimento de queda da moeda norte-americana no Brasil.


Até então, o dólar marcava perdas de 0,40%, tendo chegado a R$ 5,734 na mínima do dia. O foco, no início da sessão, era nos números do “payroll” (folha de pagamento, em inglês), com o mercado especulando as implicações nas decisões de juros do Fed.


Principal dado da semana pasada, o payroll mostrou que 143 mil postos de trabalho foram abertos em janeiro, abaixo das expectativas de 170 mil vagas de economistas consultados pela Reuters. O resultado, segundo especialistas, pode ter sido afetado pelos incêndios que tomaram a Califórnia no último mês e pelo clima frio.


A taxa de desemprego desacelerou para 4%, ante 4,1% da leitura anterior. Já os ganhos médios por hora aumentaram 0,5%, após 0,3% em dezembro.


Newsletter Folha Mercado Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes. *** A resiliência do mercado de trabalho dos EUA tem sido a força motriz por trás da expansão econômica do país e um dos motivos pelos quais o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) pausou os cortes na taxa de juros na última reunião de política monetária.


O dado indica que há um arrefecimento gradual da empregabilidade por lá, o que fortalece a tese de que há ainda espaço para mais afrouxamento monetário por parte do banco central.


“A criação de vagas veio abaixo do esperado, mas a taxa de desemprego subiu menos que as estimativas, enquanto os ganhos por hora trabalhada superaram as projeções. Esses dados abriram espaço para apostas no início dos cortes de juros nos EUA, com um Fed mais dovish [favorável a taxas de juros mais baixas]”, diz Marcio Riauba, chefe da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.


O Fed deixou a taxa básica de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,5% no mês passado, depois de tê-la cortado em 1 ponto percentual desde o início do ciclo de flexibilização, em setembro. A expectativa dos mercados é que um novo corte aconteça em junho, segundo a ferramenta CME Fed Watch.


Mas a política tarifária de Trump pode ser um obstáculo para isso, devido ao potencial inflacionário.


YouTube Como é que é? O que esperar de um novo governo Trump? Donald Trump volta ao comando da maior potência do mundo após eleição que marcou uma guinada expressiva à direita. Um republicano não chegava à Casa Branca como o mais votado pela população desde George W. Bush, em 2004.Para discutir o cenário polí… https://www.youtube.com/watch?v=e-WUkzhv7ok&t=8s *** Já na cena doméstica, investidores analisam comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à Rádio Cidade, de Pernambuco. Segundo ele, a eleição de Trump motivou a alta no dólar no fim do ano passado, o que teria encarecido os combustíveis e os alimentos.


“Depois da eleição do Trump, teve uma disparada no dólar, e a gente exporta gasolina e diesel, e isso tem um reflexo nos preços”, disse. A pressão sobre o bolso do consumidor, segundo Haddad, deve melhorar com o alívio recente no câmbio, a safra recorde projetada para 2025 e o fim do ciclo do boi, quando os pecuaristas diminuem os rebanhos para valorizar o valor por cabeça de animal.


O patamar da moeda norte-americana tem arrefecido desde o início do ano. Analistas pontuam que a cotação estava atingindo patamares exagerados no Brasil, com os investidores repercutindo temores em relação ao cenário fiscal brasileiro. A divisa chegou a renovar o recorde histórico para R$ 6,267.


O exagero, na visão de especialistas, forneceu espaço para a correção observada neste início de ano. Até quarta-feira, a moeda estava em uma sequência de 12 dias consecutivos de queda –a maior em 20 anos.

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