Trump descarta tropas e diz que Israel vai entregar Gaza aos EUA

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IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Aumentando ainda mais a confusão acerca de seu plano para o futuro da Faixa de Gaza, o presidente Donald Trump disse nesta quinta (6) que a região será “entregue por Israel aos EUA” e descartou a necessidade do envio de tropas, recuando de sua sugestão inicial.


O americano se pronunciou na rede Truth Social. “A Faixa de Gaza será entregue aos EUA por Israel ao fim dos combates. Os palestinos já terão sido reassentados em comunidades mais seguras e bonitas, com novas e modernas casas, na região”, escreveu.


Há problemas na colocação. Primeiro, no direito internacional Gaza é, com a Cisjordânia, parte do território que deveria formar o embrião do Estado palestino. Isso foi acordado entre Tel Aviv e a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) em 1994, e vale na teoria em fóruns como a ONU.


A realidade, claro, não é essa e desde 2007 Gaza vinha sendo administrada de forma independente pelos terroristas do Hamas, que haviam ganho a primeira eleição palestina um ano antes, o que não foi aceito pela fação majoritária da OLP, o Fatah do presidente Mahmoud Abbas, no poder desde que Iasser Arafat morreu em 2004.


Na prática, como a guerra iniciada após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 mostrou, Israel é quem controla as fronteiras de Gaza. O que restou dos território, que teve 90% dos prédios destruídos ou atingidos no conflito congelado desde 19 de janeiro, segundo Trump vai ficar em mãos americanas.


Outra questão é o tal reassentamento, eufemismo para o que está sendo denunciado por aliados e rivais dos EUA como uma proposta de limpeza étnica. Sob as Convenções de Genebra de 1949, configura crime de guerra a remoção forçadas de populações sob ocupação militar.


Não há notícia, até aqui, que alguma liderança palestina tenha topado a ideia de Trump, o que empurraria qualquer medida para o âmbito da ilegalidade. Tanto a Autoridade Nacional Palestina de Abbas quanto o Hamas rejeitaram a sugestão, feita inicialmente no fim de janeiro e ampliada na terça (4).


O governo de Binyamin Netanyahu, por sua vez, já anunciou estar fazendo preparativos militares para a “saída voluntária” dos palestinos, que Trump quer ver acolhidos em vizinhos como o Egito e a Jordânia, que temem virar um novo Líbano, instáveis e fragmentários, e descartam a ideia.


Trump também voltou atrás na sugestão, feita na terça, de que enviaria militares para Gaza. “Nenhum soldado dos EUA será necessário!”, escreveu.


Aqui, ele está tentando consertar o dano junto à sua base de apoio. Desde que ascendeu ao poder na campanha de 2016, Trump defende que Washington não deve agir como polícia do mundo, em especial no que chamava de “guerras inúteis” na esteira dos ataques do 11 de setembro de 2001.


No primeiro mandato, não foi bem assim, e a presença americana seguiu em locais como o Afeganistão e a Síria, ainda que reduzida. Mas ele não a ampliou pelo mundo, mantendo relativamente o compromisso com seu eleitorado raiz, que quer ver recursos federais aplicados prioritariamente nos EUA.


Na sua nova encarnação na Casa Branca, o republicano contradiz isso com propostas francamente expansionistas. Ameaçou retomar o canal do Panamá e comprar a Groenlândia da Dinamarca, além de sugerir a anexação do Canadá.


Em Gaza, falou abertamente da prática costumeira de enviar soldados para assegurar seus planos no Oriente Médio. Nesse particular, recuou.

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