O HOMEM DO RADINHO

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Em 1971, ainda na euforia pela conquista do tri de México-70, e no auge da ditadura governamentaldos generais-presidentes, a Confederação Brasileira de Desportos-CBD (atual CBFutebol) decidiu promover mega torneio dentro das comemorações do Sesquicentenário (150) da Independência do Brasil  – e que faria parte, também,  da campanha do seu presidente, João Havelange, ao comando da FIFA.   

 Aquele era um tempo em que os militares faziam obras faraônicas para um “Brasil Grande” em que vários Estados levantaram estádios com nomes superlativos – Batistão, Mangueirão, Vivaldão, Morenão, Castelão, etc -, homenageando governadores da “tchurma” para tentar ajudar o  partido do Governo-Aliança Renovadora Nacional (ARENA)  a ganhar eleições com voto do povo que cabia nos estádios. 

Para a bola rolar, a CBD marcou jogos em Porto Alegre, Curitiba, Salvador,  Aracaju, Maceió, Recife, Natal, Manaus e Campo Grande-MS, deixando Belo Horizonte e o Rio de |Janeiro para a segunda fase. Por reunir tantas seleções – Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, França, Iran, Irlanda, Iugoslávia, México, Bolívia, Combinado da Concacaf, Escócia, Paraguai, Peru, Portugal, Tchecoeslováquia,  União Soviética e Venezuela -, o torneio foi chamado  por Minicopa e  teve o patrocínio da União de Bancos Bradesco, da Esso, da Souza Cruz e da Gillette, que não se importaram com o fato de seleções fortes, como a então Alemanha Ocidental, Inglaterra, Itália e Espanha (além de Grécia, Áustria e México) recusarem convites para virem ao Brasil. Convidados definidos, a CBD marcou jogos para Porto Alegre, Curitiba,  Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, Natal, Manaus e Campo Grande-MS, e deixou Belo Horizonte e Rio de Janeiro para a segunda fase.

Bola rolando, na primeira fase, rolou o que tinha de rolar, como Iugoslávia 10 x 0 Venezuela; Argentina 7 x 0 Concacaf (América do Norte/Central/Caribe); França 5 x 0 Concacaf; Portugal 4 x 1 Chile e Paraguai 4 x 1 Venezuela.

Chegada a vez dos brasileiros adentraram aos gramados, eles começaram decepcionando o Maracanã, no 28 de junho daquele 1972, no 0 x 0 Tchecoeslováquia, com Tostão vestindo a camisa 10 do aposentado (da Seleção) Pelé, e Rivelino com a 9 do centroavante que ele nunca fora. Mas a turma do treinador Mário Jorge Lobo Zagallo recuperou-se, no 2 de julho, no paulistano Morumbi, mandando 3 x 0 Iugoslávia, com Leivinha (2) e Jairzinho na rede. Três dias depois, voltou ao Maracanã e o “furacão” Jairzinho marcou um belo gol, de peixinho, com cruzamento feito por Rivelino, a oito minutos do final,  para o escrete nacional nal bater a Escócia, por 1 x 0, eclassificar-se à final, contra Portugal, que eliminara os soviéticos, pelo mesmo placar, no Mineirão, em Belo Horizonte.

Veio a final, em 9 de julho, o Maracanã, e lá estava o ditador Garrastazu Medici com o seu radinho à pilha colado aos ouvidos escutando a narração da partida e esperando o apito final, na certeza de ver o Brasil campeão da Minicopa, ele entregar a taça aos vencedores e ser aplaudido pelo povão e sentir o seu governo, cada vez mais, consolidado naquela fase chamada por “Era de Chumbo”, tal o grande número de torturas, assassinatos e desaparecimentos de inimigos do regime militar acusado de sumir com centenas de brasileiros classificados por “‘subversívos”. 

Não foi fácil para o presidente Medici cantar a vitória naquele dia. Principalmente, porque o atacante portuguê Jordão chegou a acertar uma bola no travessão, calando o Maracanã. De nada adiantava o desesperado treinador Zagallo fazer de tudo para mexer no placar.

 O segundo tempo transcorria tenso, quando Zagallo mandou para o jogo o atacante Dario, o atacante preferido do presidente Medice. Quando os portugueses já economizavam forças para uma iminente prorrogação, aos 43 minutos, Jairzinho pegou rebote da defesa lusitana, investiu, pela direita, e foi derrubado, pelo lateral Adolfo. A torcida gritou alto, pedindo pênalti. O Ditador levantou o som do seu radinho, mas o árbitro israelense Abraham Klein marcou falta fora da área, pelos lados da linha de fundo. Jairzinho queria cobrá-la. Mas, como não era especialista no tema, Rivelino pediu pra bater. E levantou a maricota na área fatal dos “portugas”, exatamente, onde estava a cabeça “furacaniana” do Jair Ventura Filho, que saltou mais alto o que o goleiro visitante e sacaudiu a rede:  Brasil 1 x 0. No mais, foi só administrar o placar para o Ditador entregar a taça ao capitão Gérson de Oliveira Nunes –  tempo em que o Ditador Medici dizia que “o homem não foi feito para viver em democracia”. 

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