Nubank espera efeito positivo de governo Trump e prevê ampliar crédito

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LUCIANA COELHO
GENEBRA, SUIÇA (FOLHAPRESS)

Contra a corrente em Davos, David Vélez, o fundador e CEO do Nubank, se mostra animado.

A eleição de Donald Trump nos EUA, prevê, terá efeitos positivos para sua empresa ao dar a chancela americana ao mercado de criptomoedas, no qual a fintech já opera. No Brasil, a escalada de juros não o assombra com um eventual aumento de inadimplência, pois as provisões do banco para sua oferta de crédito supõem sempre um cenário pessimista. E a expansão, segundo ele, segue firme em clientes, produtos e territórios.

“Hoje somos a segunda maior de plataforma de criptomoeda. A última coisa que faltava para o mercado de cripto era os Estados Unidos dar seu OK a essa indústria”, disse ele a jornalistas brasileiros em Davos, onde está para o encontro anual do Fórum Econômico Mundial, no qual é figura frequente.

Com Trump, avalia, “muda completamente como os reguladores em nível mundial vão pensar sobre cripto. O Brasil sempre foi muito pró-cripto e muito avançado, mas, para o resto do mundo, isso abre potenciais oportunidades de expansão internacional para alguém como a gente, via cripto e via outras tecnologias”.

Hoje o Nubank está presente no Brasil, onde em seus quase 12 anos atraiu 110 milhões de clientes (ou 60% da população adulta do país), no México, onde tem 10 milhões de clientes (10% da população adulta), e na Colômbia, país natal de Vélez, onde tem 3 milhões (pouco menos de 10% da população adulta).

Em 2025, o plano é manter o foco nesses três países e priorizar a expansão no México, onde o banqueiro diz acreditar que pode alcançar fatia semelhante à que tem no Brasil. Mas, com olhos em uma expansão mais ampla, o banco comprou no ano passado uma participação na fintech sul-africana Tyme, que opera em seu país de origem e também nas Filipinas.

“Países na África podem ter oportunidade, países do oeste da Ásia podem ter”, diz ele. “Eu acho que Estados Unidos podem ter uma oportunidade.”

No caso americano, ele ressalva, uma possível futura operação teria caráter regional, ao menos a princípio. Vélez diz identificar áreas no país de Donald Trump com perfil bancário muito semelhante ao brasileiro, embora ele não diga quais.

Para viabilizar essa expansão, porém, o empresário avalia ser necessário mudar a sede da holding do Nubank, hoje nas Ilhas Cayman, para um país que além de oferecer vantagens tributárias tenha também uma regulação bem estruturada e reconhecida, uma espécie de chancela global para sua operação digital.

Após reportagens das agências Bloomberg e Reuters dizerem que esse destino seria o Reino Unido, porém, Vélez afirma que há outras opções na mesa, mas se recusa a dizer quais.

Vélez também vê espaço para ampliar seus negócios no Brasil, onde, em pouco mais de uma década, consolidou-se como o banco mais valioso da América Latina, tendo superado o Itaú no ano passado, dois anos após abrir seu capital no mercado.

“O crescimento no Brasil continua incrivelmente acelerado, mais de 1 milhão de clientes ainda entrando por mês. E [2024] foi um ano muito bom em termos de aumento de produtos no Brasil, a gente continuou crescendo nossos produtos de crédito, lançamos e realmente começamos a escalar consignado ao público, e lançamos na segunda-feira (20) nosso serviço de telefonia, o NuCel”, afirma.

Aumentar a oferta de serviços em setores diferentes do financeiro (já há marketplace e venda de viagens) também está na estratégia.

O Nubank afirma conceder 16% dos empréstimos pessoais no Brasil e ter respondido por 30% do aumento de 2024, mas sempre com valores mais baixos e prazos menores, sem produtos longos como financiamentos.

Indagado sobre obstáculos trazidos pelo aumento de juros no Brasil, que deve chegar neste ano ao menos a 14,25% com as duas altas prometidas pelo Banco Central (economistas preveem que supere esse patamar e alcance até 15,75%), ele afirma que o risco é minimizado pelo viés conservador com o qual operam, e que até agora não houve impacto para a fintech.

A única sombra em seu horizonte, no qual 97% dos financiadores são estrangeiros, é uma perda de credibilidade do Brasil. Segundo Vélez, o país está fora do radar em Davos, e as dúvidas sobre a saúde fiscal do país inibem novos aportes. Muitos, afirma ele, perderam a confiança.

“Disciplina fiscal, recuperar essa confiança na disciplina fiscal é fundamental para trazer mais investidor, Se a moeda local que a gente opera de um dia para outro perde 30%, 40% do valor, esses investidores perdem 30%, 40% do valor. A gente perde na hora, tem um risco muito grande de câmbio, e o câmbio está muito atrelado a perspectiva de investimento e de perspectiva fiscal”, avalia.

“Precisa mostrar com ações o foco na parte fiscal. Precisa pensar em a saúde econômica das classes mais baixa, porque o problema é que a inflação termina sendo o maior imposto existente para qualquer cidadão brasileiro.”

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