Assinatura de contrato da ‘Rodovia da Morte’ vira ato de críticas a governadores de oposição

MARIANNA HOLANDA E ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta quarta-feira (22) contrato de concessão da rodovia BR-381, depois de anos de tentativas mal sucedidas de acordo com o setor privado para a chamada “Rodovia da Morte”. A estrada começa no Espírito Santo e termina em São Paulo, cruzando Minas Gerais.

A cerimônia no Palácio do Planalto tornou-se um ato de críticas a governadores de oposição, mas sobretudo a Romeu Zema (Minas Gerais), que não participou do evento. Zema integra o partido Novo e busca uma candidatura à presidência em 2026. Também foram criticados Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul).

Não apenas a ausência do mineiro foi criticada pelas autoridades, como também o mais recente ataque do mineiro ao Propag (Programa de Pleno Pagamento de Dívida dos Estados). Lula chegou a se comparar a Jesus Cristo para criticá-lo.

“Esse acordo da dívida de Minas Gerais, o governo deveria vir aqui trazer um troféu. [Por ser o] Primeiro presidente da República que ele tem conhecimento que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador, de nenhum prefeito por ser contra ou por ser oposição”, disse Lula.

“O que nós fizemos para os estados que não pagavam a dívida talvez só Jesus Cristo fizesse, se ele concorresse à presidência da República desse país”, completou.

Procurada, a assessoria de Zema disse que o governador teve evento de inauguração do Samu Aéreo em Juiz de Fora (MG) e uma reunião com prefeitos que estava agendada há mais tempo.

Lula também criticou o governo do seu antecessor e pediu as obras feitas em sua gestão sejam comparadas às do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). “Única área que vamos perder feio [para Bolsonaro] é a da leviandade e mentira, porque aprendi com mãe analfabeta a não mentir, respeitar os outros”, disse.
O que nós fizemos para os estados que não pagavam a dívida talvez só Jesus Cristo fizesse
em evento nesta quarta (22)

Já o ministro Renan Filho (Transportes) disse que Romeu Zema prioriza a política ao interesse do cidadão mineiro, ao não participar da cerimônia no Planalto.

“Vi governador de Minas muitas vezes cobrando investimentos no governo passado e neste, mas não o vejo na hora de dizer ‘cobrei justamente para estarmos aqui nesse momento’. Parece que cobrança é mais política e menos pela obra. Isso apequena o gestor público”, disse.

“[O gestor] Só não pode priorizar política contra interesse do cidadão, e é isso que governo de Minas faz ao não estar presente quando está sendo dada a solução ampla geral e irrestrita para a Rodovia da Morte”, completou.

O tom de crítica também foi endereçado ao seu antecessor no cargo. Renan comparou o número de leilões feitos no governo Lula com a quantidade executada pela gestão de Tarcísio de Freitas no então Ministério da Infraestrutura: 15, em um ano, contra seis em quatro anos.

Hoje governador de São Paulo, Tarcísio também foi criticado por Renan pelo modelo de concessão das rodovias estaduais.

“São Paulo cobra outorga na concessão de rodovia, o governo vende a rodovia, para receber dinheiro e usar em outra coisa. É isso o que é feito com dinheiro do cidadão. O governo federal concede rodovias sem outorga”, disse Renan.

Segundo o ministro, as rodovias de São Paulo cobram uma média de R$ 19 para cada cem quilômetros rodados pelo usuário. “Nas estradas federais, a concessão tem valor médio de R$ 10 para cada cem quilômetros e o usuário vai receber uma rodovia melhor. Temos que falar isso com clareza.”

Pelo modelo de concessão com outorga, a empresa dá um lance no leilão, a partir de um piso estabelecido pelo governo. Vence a disputa quem apresenta a maior outorga, valor que é recolhido para os cofres públicos e usado em qualquer outra área. Devido ao pagamento de outorga, normalmente a disputa resulta em pedágio mais alto ao usuário.

Já no modelo de concessão por menor tarifa, o poder público abre mão de receber a outorga e faz um leilão baseado no menor custo de pedágio. Vence a disputa quem, a partir de um valor apresentado pelo governo, oferece o menor preço.

Durante a cerimônia, o ministro Rui Costa (Casa Civil) mencionou ainda críticas feitas por Zema e por Leite ao programa de renegociação de dívidas do Executivo federal. Sobre o mineiro, ele disse que age de forma “ingrata” com o presidente; e ao gaúcho, disse ter pedido que tirasse suas dúvidas sobre o programa com Tesouro Nacional antes de fazer vídeo criticando nas redes.

“Ao invés de agradecer o presidente, que colocou questões políticas de lado e o povo de Minas como maior interesse desse acordo, governador vai de forma ingrata agredir o presidente”, disse.

GOVERNO FAZ CONCESSÃO DE ‘RODOVIA DA MORTE’

A BR-381 será administrada pela Concessionária Nova 381, com previsão de investimento de R$ 10 bilhões, em seus 30 anos de concessão. O trecho, com extensão total de 303,4 km, tem início em Belo Horizonte, no entroncamento com a BR-262 (que segue para Sabará), até o entroncamento com a BR-116 (Governador Valadares).

Ao todo, 13 cidades são cortadas pela estrada que recebe um tráfego médio de 24,7 mil veículos ao dia. Com a concessão, serão realizadas 51 mudanças no traçado da BR-381, com a duplicação de 106 quilômetros de rodovia ao longo das 13 cidades.

O projeto prevê, ainda, 83 quilômetros de faixas adicionais, áreas de escape, Pontos de Parada e Descanso (PPD) para caminhoneiros e 23 passarelas para a travessia de pedestres.

Conhecida popularmente como a “Rodovia da Morte” devido ao seu traçado sinuoso, a BR-381 passou por outras tentativas de concessão, sem sucesso. Dados da Polícia Rodoviária Federal indicam que, entre os anos de 2018 e 2023, foram registrados 3.960 acidentes, 420 deles com mortes, ao longo do trecho agora concedido.

O vice-presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e presidente do Conselho de Infraestrutura da instituição, Emir Cadar Filho, disse que a concessão vai resolver problemas crônicos da rodovia.

“Há mais de 30 anos os mineiros esperavam pelas obras da BR-381 que vai até Governador Valadares. A concessão desse trecho representa mais conforto e segurança para os usuários, além de alavancar o desenvolvimento da região por onde ela passa”, disse.

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