Trump promete tarifas comerciais em discurso, mas dólar cai com indicação de que não é para já

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DOUGLAS GAVRAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Depois que autoridades do novo governo dos Estados Unidos sinalizaram à imprensa internacional que Donald Trump não imporia novas tarifas comerciais em seu primeiro dia no cargo, o dólar tem reagido com queda em diferentes mercados nesta segunda-feira (20). Trump citou as tarifas no discurso de posse, mas até o momento não assinou a ordem sobre o assunto.

A mudança de tom do novo governo norte-americano acabou aliviando um dos principais temores do mercado, o de que a volta do republicano à Casa Branca significaria também o início imediato de uma nova edição, ainda mais severa, da guerra comercial.

Durante a campanha, Trump prometeu impor tarifas de 10% sobre as importações globais -60% sobre produtos chineses e uma sobretaxa de importação de 25% sobre produtos canadenses e mexicanos.

Caso isso se concretize, a política protecionista do republicano poderia prejudicar os fluxos comerciais, aumentar os custos de produção e provocar retaliação dos demais países, sobretudo da China.

Sem especificar quando isso ocorreria, Trump prometeu uma revisão do sistema de comércio exterior e disse que os Estados Unidos vão estabelecer uma espécie de “serviço de receita externa”.

“Em vez de tributar nossos cidadãos para enriquecer outros países, vamos taxar e tributar países estrangeiros para enriquecer nossos cidadãos”, disse.

“Estamos estabelecendo o serviço de receita externa para coletar todas as tarifas e taxas. Serão enormes quantias de dinheiro que entrarão em nosso Tesouro, provenientes de fontes estrangeiras”, disse ele, em seu discurso de posse.

O republicano também criticou a presença de navios chineses no canal do Panamá -que ele antes já havia ameaçado retomar.

Parte dos analistas avalia que Trump está adiando a imposição de tarifas no primeiro dia de governo enquanto aposta que outras medidas irão reduzir os preços de energia e aliviar a inflação.

“A crise inflacionária foi causada por gastos excessivos maciços e aumento dos preços da energia”, disse Trump em seu discurso de posse, ao sugerir que o aumento da produção de petróleo reduziria os preços.

As medidas incluem aliviar os encargos regulatórios sobre a produção de petróleo e gás natural no Alasca e declarar emergência energética para impulsionar a produção de eletricidade.

À agência de notícias Reuters o chefe de Macroeconomia do Monex Europe, Nick Rees, disse que um alívio parece ter tomado os mercados, com a perspectiva de que as tarifas de Trump não serão para já.

“Ainda assim, achamos que essa confiança pode ser um pouco exagerada, já que a imposição de amplas tarifas no primeiro dia de mandato sempre foi algo improvável. A questão é o que será feito depois da posse”, pondera.

Já o chefe de pesquisas da Pictet Wealth Management destacou a presença de duas forças conflitantes no novo gabinete de Trump: os linha-dura que devem empurrar o governo em direção a impor tarifas sobre importações e aqueles com uma visão mais favorável ao livre mercado.

“Embora a gente suspeite que um bom grau de volatilidade ainda vai persistir por algum tempo, esperamos que seu primeiro ano no cargo coincida com uma nova valorização do dólar e das ações dos Estados Unidos”, disse também à agência o economista sênior de mercados da Capital Economics, James Reilly.

Além da reforma no comércio dos Estados Unidos com o exterior, Trump assume o cargo com uma agenda que abrange repressão à imigração, cortes de impostos e flexibilização da regulamentação de criptomoedas.

Gerentes de investimento estão ajustando portfólios em todas as classes de ativos, observando seu discurso de posse em busca de sinais que possam desencadear movimentos de mercado de curto prazo.

“A incerteza continua sendo a palavra de ordem, com todos atentos a respostas para perguntas como se a ameaça de tarifas se tornará realidade ou continuará sendo uma manobra de negociação no primeiro dia”, disse Sam Stovall, estrategista-chefe de mercado da CFRA Research, antes da posse.

“Talvez ele tenha tomado decisões para suspender a ameaça de tarifas sobre toda uma lista de países. Vamos esperar para ver”, disse o ministro das Finanças canadense, Dominic LeBlanc, à Associated Press.

“Trump teve um mandato anterior imprevisível, então nosso trabalho é garantir que o país esteja pronto para qualquer cenário.”

A aposta dos mercados, desde outubro, era pelo choque na inflação que teriam as propostas de Trump para tarifas comerciais e cortes de impostos, o que obrigaria o banco central norte-americano a manter os juros altos por mais tempo.

Até o início da tarde, moedas como o dólar canadense, o peso mexicano e o yuan chinês subiam de 1% a 1,5% em relação ao dólar; o euro subia 1,5%, na maior alta diária em mais de um ano.

No Brasil o Banco Central vendeu nesta segunda-feira um total de US$ 2 bilhões (R$ 12,13 bilhões) em dois leilões com compromisso de recompra realizados durante a manhã. O dólar à vista fechou em queda de 0,38%, aos R$ 6,0420.

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