Queiroz, pivô em investigação de ‘rachadinha’ do clã Bolsonaro, é nomeado por prefeita do PL no RJ

YURI EIRAS
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Fabrício Queiroz, ex-assessor do atual senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e pivô da investigação por suspeita de “rachadinha”, assumiu o cargo de subsecretário de Segurança e Ordem Pública na Prefeitura de Saquarema (93 km do Rio).

Queiroz foi nomeado pela prefeita Lucimar Vidal (PL) no último dia 10 de janeiro.

Procurado pela reportagem, Queiroz não respondeu às mensagens e telefonemas. Em publicação no Instagram nesta terça-feira (14), ele agradeceu a nomeação.

“Sou policial militar reformado com 30 anos de experiência na segurança pública no estado do Rio de Janeiro e pretendo aplicar todo o meu conhecimento técnico e minha experiência profissional em prol da população deste maravilhoso município”, escreveu.

Em nota, a prefeitura disse que a nomeação foi realizada “em conformidade com as legislações vigentes” e que Queiroz é “PM reformado e possui 30 anos no setor de segurança e experiência para exercer o cargo na administração pública”.

A prefeitura foi questionada, mas não respondeu sobre o salário de Queiroz e o orçamento da pasta de segurança.

Queiroz foi candidato a vereador em Saquarema pelo PL nas eleições municipais de 2024, mas teve 588 votos e não foi eleito. Durante a campanha, recebeu apoio de Flávio Bolsonaro por meio de um vídeo. Em 2022, foi candidato a deputado estadual pelo PTB, mas também não foi eleito.

Queiroz ficou conhecido como pivô da investigação do suposto esquema da “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia do Rio.

A investigação do suposto caso de “rachadinha” foi iniciada após um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) descrever uma movimentação considerada suspeita de R$ 1,2 milhão em 2016 na conta de Queiroz.

O filho de Bolsonaro, o ex-assessor e mais 15 pessoas foram denunciados em 2020 sob acusação de desviar parte dos salários de funcionários do antigo gabinete para benefício de Flávio, na época em que ele era deputado estadual. A investigação, contudo, foi anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em 2021.

Queiroz teve relações com o ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, o Capitão Adriano, acusado de integrar um grupo de assassinos profissionais e de comandar a mais antiga milícia fluminense. Adriano e Queiroz serviram juntos no 18° Batalhão da Polícia Militar, em Jacarepaguá.

Adriano foi morto em 2020, em operação conjunta das polícias da Bahia e do Rio.

Um plano municipal de segurança e defesa social, elaborado pela Prefeitura de Saquarema, afirma que não há presença de “milícias ou facções de drogas com controle ostensivo armado” no município.

Alguns bairros possuem grupos traficando drogas e milícias tentaram estabelecer controle em algumas áreas, “mas os criminosos não foram bem-sucedidos”, segundo o relatório.

Com 89.559 habitantes no Censo do IBGE de 2022, Saquarema, que abriga uma das etapas do circuito mundial de surfe, é um dos municípios que mais recebe royalties do petróleo no Brasil.

De acordo com tabela da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Saquarema recebeu mais de R$ 2 bilhões da distribuição de royalties em 2024.